Capítulo Setenta e Sete - O Último Natal

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(Quinta-feira, 25 de Dezembro)

KATE BLANK

A verdade era pior do que imaginava. Se eu ao menos pudesse esconder, não seria tão difícil. Demorou alguns dias logo depois do nosso último encontro naquele shopping, pra de fato admitir que talvez eu não consiga ficar sem ele. E isso é ridículo.

Ethan Heiter não é oxigênio pra ter tanta importância assim. Mas da mesma forma, eu já podia ter ido embora. Não que eu esteja pronta para partir e deixar tudo aqui. Mas também não posso adiar isso para sempre. Amanhã é certo que vou. As malas já estão nos corredores, meu quarto está vazio. Barney, o meu doce Barney, acaba se escorar a cabeça na minha barriga. Eu não consigo dormir.

Já são 20:00 horas da noite, preciso dormir cedo porque nosso voo é daqui há nove ou dez horas.

Mas meus pensamentos não vão em New York como sempre imaginei que iriam. Meus pensamentos não saíam de Ethan. Mas dessa vez o motivo era bem maior: seu aniversário é hoje.

Rolo na cama de um lado para o outro, acariciando o cachorro. Me apego em algumas lembranças boas de nós dois juntos e percebo que talvez seja injusto não desejá-lo um feliz aniversário. Afinal, pra ele pode estar sendo tão ruim quanto pra mim, já que ele também está indo embora.

Penso em Paul e no dia que a gente foi brincar de esconde-esconde com ele. Lize e a forma com que passou a gostar de mim. Henry e a forma como zoa falando de Ethan pra mim e nós dois acabamos por nos matar de tanto rir. Seu pai quando me conheceu, sua mãe e a forma maternal como ela me recebeu. Eu devia bem mais do que imaginava que devia. Ethan Heiter me deu uma família. Temporária é claro, mas mesmo assim uma família.

- Ei, Barney... O que acha de irmos lá na casa do seu pai e desejarmos à ele um feliz aniversário e muitas felicidades na Inglaterra?

Barney levanta as orelhinhas para me escutar, depois late baixinho, lambe a minha mão e pula da cama. Penso em pegar uma guia mas ele faz uma cara de coitadinho tão maravilhosa que só consigo pensar que tudo bem irmos livremente até lá.

- Vamos então! - Bato na minha própria coxa, o chamando para sair porta a fora do - até então - meu quarto.

Caminhamos observando a lua cheia. Olho ao redor, as famílias estão todas em casa, rodearas de amor e felicidade. Na casa dele não deve ser nada diferente. Olho para Barney.

- Somos diferentes, não somos? Menos unidos... Mas ó: estamos juntos aqui. Você é a minha maior companhia agora e eu sou a sua... - Converso com ele, que fica me encarando com um olhar sincero e amoroso. - E, eu espero que goste do nosso novo lar assim que chegarmos lá. A gente vai sobreviver à tudo. Eu sei que vamos conseguir.

Barney late, me fazendo sorrir. Ao menos não pareço uma tremenda idiota falando com um cachorro no meio da rua, se ele está até prestando atenção.

Viro a esquina e acabo por ficar na frente do portão familiar. Duquesa se aproxima e começa a latir. Crio coragem fechando os olhos com força e respirando fundo. Toco a campainha.

Em menos de dois minutos Helena aparece na porta e parece surpresa em me ver. Não a julgo nem um pouco. Também me sinto surpresa por estar aqui.

- Kate? É você? - Força os olhos para me ver no meio do escuro.

- Sim! Sou eu...

Ela vai até o portão e o abre pra mim. Barney corre até suas pernas e pula, enchendo o saco.

- Barney! Sossega! - Falo entre dentes. Helena começa a rir. Ela abre os braços e me dá um abraço apertado.

- Estou feliz que esteja aqui. - Ela dá um sorriso fraco e com a cabeça faz sinal para dentro da casa. Eu olho na direção que ela apontou. - Ele precisa de você. Pode parecer que não, mas ele sente a sua falta demais.

- E-eu... - Encaro meus pés - Só vim para dar parabéns à ele mesmo.

- Tudo bem... Eu entendo. Vá, pode ir. Você já é mais que de casa.

- Obrigada. - Dou um sorriso. Entro e encontro Henry, obviamente usando o celular, sentado no sofá. Quando ele percebe a minha presença me encara com curiosidade, depois abre um sorriso.

- Que bom te ver por aqui, Kate. Vai fazer o cara lá em cima melhorar. - Aponta para as escadas. Dou um abraço nele e subo as escadas, Barney segue atrás de mim.

Paul corre pelo corredor quando topa comigo.

- Kate? - Grita.

- Oi! Como tá esse garotinho lindo? - Ela ri quando o faço cosquinhas.

- Eu tava com saudades de você. - Me abaixo para ficar do seu tamanho e ganho um beijo e abraço do mesmo. Ele acaricia Barney que se deita no meio do corredor.

Eu tomo coragem e caminho até seu quarto. Escuto os acordes no violão como sempre. Dou um sorriso nostálgico. Dou duas batidinhas de leve na porta e ele grita lá de dentro:

- Pode entrar!

Suspiro antes de entrar. Ele fica de costas e eu encaro suas costas nuas, seus cabelos levemente ondulados e loiros à luz da lua. O quarto iluminado só por ela.

Fecho a porta atrás de mim e caminho em sua direção. Ele para de tocar e resolve olhar para trás. Quando consegue identificar quem é, fica extremamente surpreso e... contente?

- Kate?

- Eu.

- O que você tá fazendo aqui?

- Vim te dar feliz aniversário. - Paramos de pé um de frente ao outro, nos encarando.

- Bom... - Ele passa a mão pelo cabelo loiro. - É... Seria de mais te pedir um abraço?

Fiquei sem graça. Mas eu não podia negar, então assenti. Ele caminhou na minha direção e me puxou para o abraço mais apertado que eu já dei. Afagou meu cabelo e cheirou o meu pescoço (do jeito que costumava fazer antes).

- Você tem o melhor abraço do mundo. - Disse. - O meu melhor presente de aniversário...

De repente eu comecei a chorar. Estava magoada por tudo o que havia acontecido. Pela traição, pela falta de verdade no nosso relacionamento. Mas no final, percebi que ainda estava bem pior por ter que deixá-lo. Então não hesitei em fungar no meio do abraço. Ele me afastou o suficiente para me ver.

- Kate? Tudo bem? - Eu comecei a assentir, mas desisti no meio, fechando os olhos com força e deixando as lágrimas rolarem.

- Eu... Sinto muito Ethan. - Corri para seus braços novamente. Ele me pegou no colo, me pôs sentada na ponta de sua cama e se ajoelhou diante de mim para poder limpar minhas lágrimas e olhar meu rosto vermelho e choroso.

- Eu também sinto. - Dá um sorriso fraco me observando, enquanto põem uma mecha do meu cabelo para trás.

Aquilo não podia acabar daquela forma. Eu não podia ir embora sem ter uma última lembrança de seu toque, então eu pus minha mão em cima da dele e a pressionei para deixá-la lá.

Olhei no fundo de seus olhos da mesma forma que ele estava fazendo, então ele colou os lábios nos meus.

- Eu tô com saudades, Kate.

- Eu também.

<>~•~<>

Quem aí tá com o emocional comprometido com esse capítulo dos dois juntinhos? 🤗


Beijos, Fran...

Dona Do Meu PensamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora