Capítulo Trinta e Dois - Soco certeiro

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( Segunda-Feira, 5 de Outubro )

ETHAN HEITER:

- Se você pudesse voltar atrás, mudaria alguma coisa? - Pergunta Mike, com as pernas para cima, escoradas no muro da escola. Estamos os dois deitados no chão olhando pro nada, jogando uma bola de futebol murcha para o ar.

- Sinceramente cara... eu não sei. - Respondo. - Não tenho motivos para voltar atrás. E você? - Devolvo. Ele para de jogar a bola para o ar, e me encara.

- Eu não teria entrado nessa.

- Nessa o que?

- Não teria ido para o futebol. - Diz. Foi a minha vez de parar. - Conhecer a Natasha foi... Diferente.

- Tá tentando me dizer que vai pular fora?

- Não. Hoje vou levá-la para jantar. Pretendo contar para ela tudo, e se ela não me apoiar, eu largo de mão. - Levanta as mãos em sinal de rendição.

- Você só pode estar de brincadeira! - Digo incrédulo.

- Por que, Brow? Por ter a coragem que você não teve? - Me pergunta de uma forma pesada.

- Tudo bem cara. Pode jogar na cara, faz isso! - Levanto do chão. - Me lembre o tempo todo que estou perdendo ela todos os dias, me lembre de que já não há mais volta e isso tudo foi culpa minha por ter ajudado aquela garota loira do treino. - Digo ficando irritado. Minha voz rouca falha nas últimas palavras mas não dou a mínima, aumentando o tom ainda mais e pigarreando duas vezes em sequência.

- Me desculpe Ethan. Não quis ser tão... Realista. - Assinto com a cabeça latejando, prestes à explodir de raiva de Mike. Dou as costas e em alguns segundos estou nas arquibancadas do campo da escola.

Abaixo a cabeça, escorando os meus cotovelos nos joelhos. Talvez Mike tenha razão. Não vale à pena deixar todo mundo aqui para ir para a Europa. Não vale à pena perder uma garota porque ela vai embora. Mas, por outro lado, estou cansado de correr atrás.

Como estamos muito adiantados em Física, o professor permitiu que o nosso intervalo fosse muito prolongado. Sinto meus músculos tensos e assim que sou tocado por sua mão fria, penso que estou alucinando.

- Você está bem? - Sua voz faz com que eu volte a levantar a cabeça.

- Sim. - Respondo com precisão. Sua mão escorrega do meu ombro suado e nu. Ela torna a ficar da mesma forma que eu, com a cabeça escorada nos cotovelos, que também estão escorados nos joelhos. Ela parece tão cansada que por um momento crio a bela expectativa de um abraço tranquilizador. Mas não o faço.

Olho por trás dela, Rennê se aproxima me fuzilando.

- Lá vem a pessoa mais querida do mundo. - Digo com ironia e reviro os olhos. Ela segue o meu olhar.

- Kate, Natasha está te chamando, disse que precisa conversar! - Grita enquanto se aproxima. Kate levanta e comunica:

- Já estou indo. Tchau Heiter.

- Tchau Blank. - Falo junto à um suspiro, desviando meu olhar do dela. Tão diferente do que era antes. Me sinto um babaca sendo formal com uma ex-namorada.

Rennê acompanha sua ida com os olhos, e assim que percebe que ela está distante, se senta perto de mim.

- Quem diria em, Heiter!? - Dá uma risada presunçosa. - Agora quem está com a "Lady", sou eu! - Faz as aspas, debochando do apelido que lhe tratava. Fico calado, esperando e contando os segundos para ver quanto tempo esse cara leva para me tirar do sério. - Desculpa Ethan, mas sua Ex é tão linda e sexy que já me imaginei em cima dela, numa cama.

Pra mim já chega. Lanço lhe um olhar fatal, literalmente, antes de dirigir-lhe um soco bem dado no nariz.

- Espero que tenha gostado desse soco, foi tão bem mirado que eu não me importaria de  fazer novo. - Cuspo as palavras, enquanto o vejo tentando conter e limpar a hemorragia que desceu. Dou um sorriso prazeroso quando ele se cala. Antes de sair, aponto o dedo no seu rosto: - vê se escolhe melhor as palavras da próxima vez. 

Caso queiram saber, o idiota precisou ir até a enfermaria pedir ajuda para conter o sangue. E como se ainda não bastasse, ainda mentiu sobre tudo, disse que bateu o nariz na goleira do campo. Prefere passar por retardado do que por fraco. Eu não faria diferente em seu lugar, mas mesmo assim preciso me segurar para não rir assim que ele entra na sala.

Não sou à favor da violência e nem costumo me orgulhar de dar socos nas pessoas, mas nesse caso, não me importaria se precisasse repetir, aliás, um soco é pouco para esse cuzão.

O que mais me doeu foi, sem dúvidas, perceber que Kate realmente se importa e ficou tão brava quando o viu, foi tão ruim quanto imaginei. Ela é esperta e logo de cara fuzilou seus olhos em mim. Quando a última aula terminou, ela veio ao meu encontro.

- Foi você, não foi?! - Pergunta.

- Foi. - Engulo em seco quando levanto os olhos.

- Você é um babaca, Heiter. Um babaca! - Diz e assim que cruza a saída, eu à puxo pelo braço, firme. Ela me olha um tanto assustada e depois, já acostumada com o aperto da minha mão, olha de relance para o próprio braço.

- Tudo bem me achar um babaca. Pense o que quiser à respeito de mim. Não estou te pedindo mais nada, então, obviamente não lhe devo nada. - Falo. - A decisão foi sua Blank, e eu não sei porque ainda me importo. - Dou as costas.

Um dia ótimo para todo mundo ficar contra mim. Tudo o que eu mais quero é chegar em casa e não ter que estender a cama, ou ajudar minha mãe a limpar as janelas mais altas da casa. Preciso apenas de uma rede altamente confortável e de um cochilo.

***
🙃

Beijos, Fran...

Dona Do Meu PensamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora