Bolo de Laranja e o romance - Parte 01

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Por Jota....

Nascer pobre não é defeito, má sorte, quem sabe?

Desde que o mundo é mundo e gira em torno do sol, sempre houve o rico e o pobre. Rico ruim, pobre bom, pobre do mau, rico altruísta, rico mesquinho, pobre vítima, pobre soberbo, rico nobre...

Será que é mais interessante a estória do jovem rico ou do jovem pobre?

Quem tiver paciência para ler talvez fique encantado com esse doce e delicado menino que aos vinte e oito anos, chora vendo o final de Cinderela quando ela põe o sapatinho de Cristal. Seu nome é Carlos, mas como ele é miúdo, pelos mais próximos foi "rebatizado" de Carlinho, até teve um cara em quem ele se amarrou que lhe apelidou de Bombonzinho, por chocolates ele fabricar.

Carlinho sempre sonhou com príncipes encantados, ele sendo menino parecia até errado, mas não adiantaria lhe dizer isso, pois ele estava convencido que seu coração era de uma doce menina e sonhava acordado com alguém que pulasse sua janela no meio da noite e lhe sequestrasse dos mal feitores que era sua mãe adotiva e padrasto.

Muito ele chorou até que um dia resolveu fugir, sem muita opção precisou se prostituir, achando que de pelo menos um dos machos que lhe metia no rabo, por ele fosse se apaixonar. Então o mais belo deles, apareceu, se rasgando em elogios, um cidadão de porte grande que perto dele parecia um cavaleiro nobre ou um príncipe valente e qual não foi a surpresa de Carlinho, quando descobriu que ele se chamava Valentin.

Valente, era como Carlinho o chamava, foi o primeiro homem a ser romântico com ele, tal doçura amarrou o pequeno jovem, que acreditou ser amado, pois era bem tratado por um cara educado e com tantos outros predicados.

Seu Valente lhe arrumou onde morar e assim tinha resguardado o direito de só a ele namorar, Carlinho não poderia estar mais feliz, rezava todas as noites, falando baixinho com sua mãezinha que em outro estado morava, agradecendo agora que a amargura passara, por ela ter lhe dado para outra mulher o criar.

Mas um certo dia uma tempestade caiu, de tão forte levou seu amado embora e entre as muitas coisas ruins, no seu lugar deixou um monstro que lhe marcava o lombo e o humilhava, sem dó ou piedade, esse covarde, por um triz não matou o bombonzinho que tudo o que mais queria era um pouco de carinho, sendo assim achou melhor ficar sozinho.

A horrível tempestade parecia carregada de feitiço ruim, pois Valente não quis mais ser seu, quis ser de sua madrasta, o que não foi assim tão ruim. Carlinho teve um pouco de paz.

Mas um dia seus malfeitores voltaram e num inferno sua vida transformaram, só que eles de tão burros não pensavam que um dia suas maldades viessem a tona e que o castelo de cartas deles viria abaixo.

Carlinho não comemorou a desgraça deles, mas sim o fato de estar vivo e a partir disso dar-se-ia uma chance de superar tudo e voltar a ser o menino com jeito de menina sonhadora, nunca imaginando que atrás da porta prestes a tocar a campainha estava alguém que tudo mudaria e que lhe traria paz e alegria.

****

Por Francisco

Meu sonho era ser delegado, então depois do exército, estando sem trabalho e sem condições de pagar um curso superior, fiz cursos de vigilante, fui motorista de carro forte e segurança de shopping e balada, sendo que em uma dessas casas noturnas me pagava melhor que outra. Era balada LGBT, onde conheci muitos caras interessantes, mas nada para ir além de uma noite de sexo bem quente, no outro dia apenas bons amigos ou nem isso.

Fiz o concurso e entrei para Polícia, logo me colocaram na ronda e a paisana, pois achavam que eu tinha cara de bandido, por não ser um cara muito bonito e porque ter crescido em lugares barra pesada, sabendo como identificar os maus elementos. O segredo é não meter todo mundo em cana, pois o cara precisa dos contatos e, no meio da malandragem você acaba descobrindo coisas muito maiores.

Já tomei tiros e facadas, coisa que deixava minha velha mãe uma descendente de italianos, bem grandona e corpulenta, de cabelo em pé na porta do centro cirúrgico, afundando o chão de tanta ansiedade até saber que mais uma vez seu único filho, o Chico, contra expectativas, sobreviveu. Meus colegas me visitavam e rindo diziam que vaso ruim não quebra.

Anos se passam e cicatrizes são como medalhas de honra, em um policial honesto que dirige um carro seminovo e paga em dia a prestação de um sobradinho germinado. Nunca me casei, não tenho interesse em ser controlado, nem controlar, já que vejo a vida a dois como uma prisão.

Numa ocasião mais recente, meu chefe que está envolvido em uma operação nova e muito grande, no intuito de resguardar uma testemunha, me incumbiu de ficar de olho nesta, que achei se tratar de uma moça pela forma como ele falava.

- Francisco, eu coloquei uma "menina" no alojamento, vai virar bagunça por lá. Proibi de abrir as cortinas, de abrir a porta e fazer escândalo. Pelos rapazes, sabe como é. Dá uma atenção lá e se não ficar ruim, arruma tuas coisas e ocupa a peça do lado, por um ou dois meses.

- Sim senhor. - Não tenho porque não acatar. Mas fico pensando, na loucura do Cabral, de colocar uma mulher no alojamento. Claro que vou lá me apresentar e fazer bem feito o que faço, que é servir e proteger.

Posso ir diariamente na minha casa, que não fica longe, mas devo dormir no alojamento e de dia monitorar a vida da testemunha, pois segundo o chefe da operação, é algo grande que poderá envolver a polícia internacional. Trata-se de um esquema já antigo, com coisas enterradas fundo nos "cemitérios" do passado, coisas sem resolução, sem pistas e crimes quase prescritos. E essa pessoa resolveu "vomitar" algumas informações, não muita coisa, mas o que ela disse já fornece um ponto de partida e com sorte, Cabral com sua equipe irão solucionar. Meu negócio é cuidar dessa pessoa, pelo jeito, bem teimosa, pois a janela da peça onde foi instalada, está escancarada.

Aperto a campainha e ouço pisadas de alguém andando descalço no chão molhado, levo um susto quando esta abre a porta, não é menina , mas um homem, um belíssimo cara quem me atende.

- Bo-bom dia. - Ele gagueja assustado, seus olhos levemente puxados estão arregalados.

- Sou o soldado Francisco, moro do lado ali. - Aponto. - O Cabral, conhece ele? Então me deu uma incumbência que é ficar de olho por aqui. Fecha a janela.

Ele está ainda mais assustado e de olhos ainda mais arregalados, calça uma havaiana muito pequena, mas que é do tamanho dos seus pés e se volta para acatar o que lhe peço.

Meu segundo choque é a bunda do garoto, como se não fosse gostosa o suficiente, sua cintura é fina e as penas lisas e, deliciosamente, tem um tom moreno escuro.

Ele volta, caminhando com aquela bermuda que vai até acima dos joelhos e uma camisa rosa de botões, é a coisa mais querida que já vi.

- Pronto, moço, policial. Já está fechadinha, é que hoje é sexta feira dia da faxina, aí estou dando uma esfregadinha.

- Janela fechada, não esquece. Foi ordem do Cabral, garoto.

- É Carlinho, moço.

- Sou soldado Francisco, pode até chamar de Chico. Faz como o Cabral pede, o cara não tem tanta paciência quanto eu.

- Tá bom, moço... Quer tomar um café. Fiz até um bolinho, sentiu que cheiro bom de laranja?

Bombonzinho e o PolicialOnde histórias criam vida. Descubra agora