Brigadeiro de Panela e o Amor - Parte 01

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Por Carlinho...

Tem muitos meses que estamos curtindo, vendo esse botão de rosa bem lindo desabrochar, estou amando alguém teve paciência para me ensinar. Não sabia como era, pois nos sonhos achei que amor era só receber, ganhar tudo perfeito. Amor de verdade não é assim, tem muitos obstáculos e percebemos que a melhor coisa a fazer é nos doarmos e batalharmos por isso.

Agora entendo porque dizem que o amor é lindo.

Eu e o Chico estamos namorando. Ele cuida de mim e eu cuido dele, mas ultimamente meu soldado anda tenso e preocupado. Faço ele relaxar com uma massagem, banho quentinho, muito beijo, faço pão de queijo, café gostoso, fazemos amor sempre de manhã.

Sou tratado com carinho, adoração, fazendo com que eu sinta aquele medinho que do meu sonho encantado eu acorde.

- Acorda garoto. Já são quase sete.

Meu soldado me enche de beijo querendo amenizar o tom de voz que ele usa, me assustando.

- Chico... Hoje é domingo.

- Nem por isso precisamos perder o dia deitados na cama.

- Eu nem posso sair daqui, queria passear só um pouco de dia, você me leva?

- Só se o Cabral deixar. De noite eu posso, entendeu?

- Sim moço. – Digo magoado. Ele percebe, me abraça e promete que de noitinha volta para mim.

- O dever me chama, Carlinho, parece que um daqueles caras da quadrilha que você denunciou, se fudeu bonito. O crime nunca compensou, se não é "cana" é a consciência pesada que tira o sono.

Sinto calafrios, quem será que se deu mal e o que aconteceu?

- O que houve?

- Então garoto, parece que um deles morreu, um "dos cabeça" o outro está desaparecido e é quem vou procurar. Você fica sob a vigilância do soldado Marçal, tranca a porta moleque e só abre quando escutar minha voz.

Vou atrás do meu soldado antes de ele ir à guerra. Um beijo, lágrimas e dúvidas. Quero bem demais o Chico e corro bem rapidinho para perto da minha cama e de joelho peço com fé que não lhe aconteça nada.

Quem será? Rosa ou Valentin? Quem morreu, quem sumiu e quem matou?

Vivi horrores com aquelas pessoas, mas nem por isso desejo a morte deles, concordo com Chico que arrependimento é a pior coisa que tem, a tortura psicológica. Com certeza devem pagar pelo que fizeram, mas não sou eu quem irá julgar isso. Quero paz e foi por esse motivo que resolvi falar o que sabia, não sendo nem um terço do que era de verdade pelo que deu nas notícias.

Estando nesse alojamento só fico sabendo o que o advogado diz. Ele sempre vem acompanhado por outro policial, mas só pode entrar quando o Chico está aqui. O Marçal, pelo que o Chico falou, vai ficar responsável até ele voltar e mesmo que não ficasse, está cheio de policiais circulando nesse lugar. Acredito que nada de ruim vai me acontecer.

Uma batida forte na porta me assusta, pelo olho mágico vejo o Marçal. Abro a porta para ele que me olha curioso e fala:

- Boa tarde jovem. O Chicão me deixou no lugar dele até voltar, caso precisar de algo me liga nesse número aqui. Já vou indo.

- Certo moço. Por enquanto lhe agradeço, bom dia para o senhor.

Pelo jeito são amigos e esse cara é legal, já veio mais vezes me trazer informações sempre sendo educado e diferente de tantos colegas seus.

Em silêncio espero meu soldado retornar, mas não volta na primeira noite, isso faz meu coração apertar. Perdi o medo de apanhar e de morrer, mas de perde-lo não consigo controlar.

Meu apartamentinho é tão gelado sem ele, o grande homem que gosta dos doces que faço. Fico pensando o que lhe preparar de gostoso. Sinto uma agitação, um falatório e pancadas na porta, é ele, já conheço e me seguro para não chorar.

É ele mesmo me mostra o olho mágico, sua cara é tão séria e eu sei que é só por fora.

- Carlinho, anda, coloca uma roupa. – Fala sério e com pressa, me deixa triste que nem pude dar a ele uma boa tarde.

- Sim já estou indo, tudo bem com você?

- Sim está tranquilo. Rápido moleque, tenho que te tirar daqui.

- O que houve?

Mas ele não responde, eu só fico quieto e obedeço. Me visto e coloco o capuz como ele sempre me orienta, me dirijo a porta com o coração já dolorido e ele me diz:

- Acabou Carlinho. Vou tirar você desse lugar, estou com pressa para fazer isso. Estou de folga até amanhã e não quero perder mais nenhum segundo, vem comigo.

- Acabou?

- Os detalhes eu conto mais tarde, já pode ficar mais sossegado. Muita gente abriu a boca não foi só você, teve gente que também foi presa, por isso o Cabral disse que podia levar você embora e é o que vou fazer.

- Mas acabou? – Estou ainda muito confuso.

- Acabou e por enquanto pode voltar a sua vida normal. Tem o processo pela frente, agora quem errou vai pagar, só sobrou quem não tem grana para comprar a justiça. Foi um sequestro malsucedido que desencadeou as prisões. Você ainda vai servir como testemunha, mas isso pela justiça brasileira vai demorar.

- Mas eu e você?

- Esqueceu do que prometi? Estou de folga, vem vou te lembrar...

Fico cheio de medo que nesses dois dias longe algo tenha mudado com relação a minha pessoa, a nós dois. Acompanho o grande homem até o carro comum, à luz do dia, muito silêncio, não tem quase ninguém agora no pátio. Saindo do alojamento ele me olha de relance e aperta minha mão. Meu coração aquece, minhas lágrimas brotam e meus lábios perguntam:

- Estamos indo onde você mora?

- Sim será sua casa agora. Isso se você aceitar...

- Morar com você? Francisco... É claro que sim. Sim, sim, sim...

Tenho vontade de abraçar ele, mas não posso porque está dirigindo.

Chego a minha casa nova que tem um tom claro de marronzinho, cor camurça, recém foi pintada e Chico abre o portãozinho todo orgulhoso me convidando para adentrar. Dentro é tudo bonito e novinho, um lar para cuidar de alguém e ser cuidado também.

De supetão Chico me puxa pelo braço e me vira para ele enlaçando-me tão emocionado quanto eu, abraça meu corpo magrinho, quente e carente, desperto e com febre de tanta saudade. Peça por peça da minha roupa ele tira e cada pedacinho meu é beijado e lambido, já não aguentando gemo para ele.

- Chico... Me assustou quando você chegou e não me disse muita coisa, fiquei todo preocupado.

- Te amo moleque, garoto doce. Vou te cuidar com carinho.

- Só você até hoje me disse essa frase bonita.

- É a mais pura verdade.

Não consigo nem descrever essa coisa perfeita do jeito que eu sinto, não faria justiça. Uma só palavra é pouco para descrever, grande demais, não é pelo tesão, isso é forte. Foi igual a uma árvore que começa numa sementinha e grande e forte se torna com o tempo, acho que assim é o amor.

Bombonzinho e o PolicialOnde histórias criam vida. Descubra agora