Biscoito de Natal e a adoção - Parte 01

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Por Francisco...

Eu achava que nunca daria certo a convivência com alguém devido ao meu jeito independente e truculento. Me virava sozinho e gostava de não que dar dar satisfações a ninguém, isso até esse "menino" me aparecer e me roubar a razão e o coração juntos.

Dizem que quem convive não percebe certas coisas, mas eu sim, percebo que ele tem evoluído visivelmente e tem crescido. Chorei ao seu lado algumas vezes quando o fiz dividir comigo sua carga do passado. Segredos sujos e memórias doentias que resultaram em traumas que ele vai superando a cada dia. Brigo com ele para que seja forte, pois só o fato de viver o presente já tem coisa tensa. É como dizem: a vida da gente é dura demais quando somos moles.

Precisei fazer isso, remexer no seu passado e ajuda-lo, insistindo para que buscasse ajuda profissional. Ele luta e a cada dia sorri mais, voltando a ser o doce rapaz que conheci. Assustado, mimoso e delicado.

− Ai Francisco, meu irmão Cássio vai deixar as crianças aqui para passarem o sábado. Ele e a minha cunhada querem passar um dia sozinhos, sabe, não tem "poblema" por você né?

Por dentro quase tenho um "troço" quando ele diz que as duas pestinhas vão ficar um dia interminável conosco.

− Certo, mas não quero aquela bagunça e gritaria, dá um jeito de achar alguma atividade que os mantenha sem correr pela casa como sempre fazem quando vêm aqui.

− Ai, é que que eles são crianças, tem que deixar brincar e depois ninguém quebrou nada. Eu cuido bem direitinho.

Deu para notar que ele ficou meio emburradinho, é normal, mas sei bem do que estou falando.

Carlinho e eu já debatemos sobre adotar uma criança. Seria muito bacana dar um lar, amor e carinho, educar e ajudar na formação de um cidadão de bem, mas por enquanto deixamos a ideia na "caixa" das coisas importantes a realizar em nossa vida no próximo ano. Eu me vejo pronto, mas Carlinho tem seus próprios traumas que não o ajudariam como o pai educador no momento. Sobre o preconceito, ligamos o foda-se há muito tempo, somos o que somos, um casal gay que tem intenção de constituir uma família futuramente.

Por isso tenho um teste que me aparece vez ou outra, os sobrinhos!

Laura com sete e Pedro com nove são irmãos de verdade que ficaram em lar provisório por abandono e tiveram a sorte de aparecer um Cássio e uma Luma nas suas vidas.

− Oi tio Chicão! – Ambos me cumprimentam com entusiasmo, me abraçam e beijam de forma tão carinhosa que me derreto na hora. – Eu passei direto, vou ganhar o que no Natal?

Pedro é direto, afinal qual a criança que não é?

− Tio Carlinho, posso ajudar a confeitar as bolachas de natal? – Laura é ruiva e bem miudinha.

− Com certeza! Preciso de ajuda mesmo. Até fiquei feliz quando o seu pai me pediu para vocês ficarem um dia conosco.

Divisão das crianças feita.

Laura achou um entretenimento e fala pelos cotovelos, tanto ou mais que o tio. Pedro me segue pela casa o tempo todo, então convido ele para jogar Top Gear no bom e velho Playstation.

− Tio, o senhor não tem xbox? Esse jogo aí é muito velho.

− Velho? Me mostra se você é bom então, vai... - Garoto petulante!

Pedro é realmente um barato. Não tive irmãos então morro de ciúmes das minhas tralhas antigas que nunca precisei dividir. Entre elas tem um mini game Nintendo onde eu jogava tetris, naquele momento nas mãos do garoto derrotado por mim no Play, que não resisti em tripudiar quando ele perdia. Adulto se comportando como um moleque de nove anos, que feio.

− Ei Pedrão.... Já escolheu alguma coisa para ganhar no Natal?

− Sei lá tio. Queria uma mochila, mas a que eu escolhi é muito cara, custa mais de duzentos reais e o pai disse que é meio caro. Ele tem uma loja e é rico agora, bem que podia comprar.

− Rico? Não né, Pedro. Seu pai tem contas para pagar, empregados, ter uma lojinha de chocolate não faz dele um cara rico não. Tem que colaborar com ele, entendeu?

− Sim. – Ele me responde, mas tenho certeza que não entendeu.

− Olha, o tio Chicão vai te levar para tomar um sorvete e olhamos os preços das mochilas bacanas e quem sabe posso te dar uma de Natal.

− Oba! O senhor é o tio mais legal do mundo e é até da polícia.

Crianças.... Nada interesseiras.

A tarde saímos com as crianças, tomamos sorvete, compramos os presentes deles e assistimos o Malvado Favorito (de novo) na TV a cabo que conseguimos incluir no orçamento.

No domingo após Cássio e Luma levarem as crianças, as encomendas do Carlinho que ficaram pendentes me fazem ir para a cozinha e ajudá-lo. Ele ama fazer qualquer uma dessas gulodices, fica tão amado com aquela touca branquinha, luvas descartáveis e aquele short jeans apertado que valoriza seu traseiro redondo que me tira atenção.

− Ai Francisco seu bobo, isso não é uma árvore é uma bota de papai Noel, tem que usar esse glacê branco daqui...

Ele me ensina com paciência pela quinta vez, mas não levo muito jeito.

− Como esse povo come bolacha, quantas latas você fez?

− Durante a semana já fiz doze e tem mais uma porção de encomenda, vai dar um dinheiro legal esse ano.

Tive até que comprar mais um forno na metade o ano só pensando nele que inventou de fazer essa bolacha de natal enfeitada.

− Bom. – Respondo cansado só de olhar ele administrando dois fornos, assando, tirando, confeitando com glacê, espalhando bolinhas ou açúcar cristal colorido, outras com apenas o tal do "merengue" colorido com corante, que dá formas caprichadas as figuras de bichos, árvores, bonecos, botas e até logomarca de empresas que descobriram meu talentoso moleque doceiro.

Enquanto esfriam suas bolachas, ele espicha outra massa com o rolo de madeira e permite que eu prove uma de cada tipo.

− Essa é a amanteigada e essa daqui é pão de mel. Prova e diz se ficou bem crocante e se está docinha.

− Só posso pegar duas?

− Tá bom, tá bom, pega mais uma bebezão...

Carlinho está cansado, estica sobre a mesa da cozinha a massa e me dá os cortadores para que eu faça os recortes nas bolachas e as arrume nas formas para assar. Volta a ligar o forno e corre espichar outra massa, isso me distrai. Aquela bunda firme que involuntariamente sacoleja com o esforço físico dele, coisa querida. O avental branquíssimo amarrado com um laço às costas enche meus pensamentos de ideias sacanas. Porque meu marido tem que ser essa delícia, muito mais gostoso que todas as coisas deliciosas que ele faz?

Enquanto eu secava a bunda dele, não escutei sequer uma de suas palavras e agora estou com medo de levar uma bronca, caso ele me pergunte algo. É exatamente o que ele faz.

− Sim, claro meu amor. – Respondo sem fazer ideia do que me levou a concordar com ele. Me preparo assustado para levar um golpe do rolo de massa no crânio, mas ele o larga, se joga no meu colo e me beija tão feliz me deixando ainda mais preocupado.

− Ai meu soldado, você é a melhor pessoa desse mundo, ai, nossa como estou feliz. Eu te amo, te amo... – Ele diz me enchendo de beijos, agradecendo alguma coisa que distraidamente concordei.

Tô fodido!

*-*

Bombonzinho e o PolicialOnde histórias criam vida. Descubra agora