Resfôlego

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A venda amarrada fortemente sobre meus olhos irritava minha pele.

Porém, naquele momento, aquela era a menor das minhas preocupações. Não sabia quanto tempo estava ali, mas devia ser pelos menos dois ou três dias. Não haviam me dado nada para comer ou beber, e a fome e a sede me castigavam cruelmente: minha boca estava seca demais, meus lábios começaram a rachar, meu estômago doía. Além disso, havia os machucados físicos: meus pulsos estava feridos por causa das cordas, assim como meus cotovelos. Meu corpo todo doía de exaustão. Meu pescoço latejava.

E como se tudo isso não bastasse, ainda tinha as vozes.

Elas gritavam em meu ouvido, piorando a cada minuto. Era enlouquecedor. Além disso, ouvia barulhos vindo de algum lugar ali perto. Em alguns momentos, pensei ter ouvido a voz de Chanyeol bem ao meu lado.

Chanyeol. Não parava de pensar nele. Se ele estava bem. Se estava preocupado.

Não via a hora daquele pesadelo acabar.

Já havia chorado de agonia, mas agora não tinha mais lágrimas para derramar. Tentava suportar a dor, a fome e a sede calada. Tinha medo quando os sequestradores vinham até onde eu estava. Tinha medo que apontassem novamente uma arma para mim. Tinha medo que atirassem dessa vez.

As vozes gritaram mais alto. Minha boca ficou mais seca. Meu estômago roncou.

Queria chorar novamente, mas isso em nada me ajudaria. Mesmo vendada, sentia-me incrivelmente zonza. O mundo girava abaixo de mim. A cada minuto que eu passava ali, ficava pior. Será que pretendiam me matar lentamente?

Então, em meio às vozes em minha cabeça, ouvi o som da porta sendo aberta. Passos apressados ecoaram e logo em seguida alguém desamarrava minhas mãos. Arfei um pouco, sentindo o pulso latejar enquanto minhas pernas eram libertas.

- Vamos - uma voz robótica disse, puxando-me pelo antebraço e levantando-me da cadeira.

Estava tão fraca que, assim que fiquei em pé, caí sobre meus joelhos, tossindo. Ouvi o sequestrador bufar e levantou-me rudemente, empurrando-me para a frente. Tentei a todo custo não tropeçar em meus próprios pés, mas estava praticamente impossível.

Andei com dificuldade por uma pequena distância, meu braço sendo firmemente segurado pelo meu agressor. Percebi que saímos para fora daquele local, pois senti o forte calor do Sol queimar minha pele.

Paramos de andar e senti quando minhas mãos foram amarradas novamente, dessa vez para a frente do meu corpo. Meus pulsos latejaram, mas não me permiti arquejar. Então ouve um som, como o de um porta-malas sendo aberto.

- Entra aí - disse um deles.

- O quê... - comecei, porém fui empurrada para dentro de algo compacto, minha cabeça batendo fortemente contra algo sólido.

Minhas pernas foram dobradas à força e minha cabeça abaixada, até que eu estivesse deitada praticamente em posição fetal dentro de um local apertado e quente.

Ouvi aquele som novamente, dessa vez de algo se fechando. Tateei o espaço que podia com as mãos amarradas. Descobri que estava trancada dentro do porta-malas de um carro.

Minhas respiração se tornou mais ofegante e meus olhos arderam ao se encherem de lágrimas. Eles estavam me levando para algum lugar. Talvez para me matar. Eles vão me matar.

Matar. Matar. Eles vão te matar, cantarolaram as vozes em minha mente. Fechei meus olhos com força por baixo da venda, como se isso fosse fazê-las se calar.

O que usarão? Facas ou revólveres? Te jogarão de um penhasco? Te afogarão em um rio? Te esquartejarão? Qual é a pior forma de morrer?

Calem a boca, implorei silenciosamente.

Delirium [Chanyeol]Onde histórias criam vida. Descubra agora