Lembranças escarlates

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Já se faziam três dias desde o meu surto na faculdade e a única coisa em que eu pensava era nas diversas formas em que eu poderia tirar minha vida.

Depois que a enfermeira da universidade me disse que eu poderia ir para casa, peguei minhas coisas que estava encostadas em um canto daquela sala e saí rapidamente dali, quase correndo em direção ao meu prédio. Assim que entrei no meu quarto, uma terrível tristeza e desânimo tomou conta de mim. A angústia que sentia apertava meu peito e eu só queria me deitar e ficar ali para sempre.

Eu tinha consciência de que aquilo era mais um episódio crítico de mudança de humor, mas parecia pior do que antes. Meus pensamentos suicidas pareciam mais fortes e eu lutava contra isso. Não queria sair do quarto para nada. Não tinha ânimo para fazer coisa alguma. Apenas continuava tomando meus remédios porque tinha que fazê-lo, e torcia silenciosamente para que eu tivesse uma overdose e morresse.

E assim eu fiquei durante três dias. Saía apenas para comer e ir no banheiro, mas eu esperava todos fazê-lo primeiro para eu poder me arrastar até esses lugares. Eu estava deteriorada. Era a pior crise de depressão que já tivera. As vezes, também não queria comer, e apenas ficava enrolada em meu cobertor, olhando o teto branco acima de mim. Lembranças dolorosas vinham à minha mente: meu pai nos abandonando, porque ele não queria cuidar de uma louca como eu; minha mãe chorando silenciosamente no quarto depois do meu primeiro surto; meu irmão em um momento de raiva, dizendo que eu era a pior coisa que poderia ter acontecido na vida deles; as pessoas se afastando de mim, devido às minhas mudanças repentinas de humor e às crises que ocorriam com bastante frequência. Tudo isso fez com que lágrimas frias descessem por meu rosto.

Talvez, se eu morresse, tudo poderia ficar melhor, pensei enquanto levava o cobertor até meu pescoço. Talvez eu devesse tomar mais remédios que o necessário. Ou quem sabe cortar os pulsos...

Fui listando todas as possíveis formas de me matar, enquanto sentia uma dor sufocante no peito. Aquela, com certeza, era a pior crise que já tivera. Puxei mais o cobertor para perto de mim, apertando-o, como se isso fosse me impedir de fazer alguma besteira.

Já haviam se passado três dias que eu estava ali. Três dias em que eu só pensava em morrer.

Chanyeol's POV *on*

Tudo o que eu queria era ajudar. Mas como ajudar alguém que não quer ser ajudado?

Saí da enfermaria pisando duro, e depois de alguns passos, dei um soco em umas das paredes, encostando minha cabeça nela. Sentia-me frustrado. Como ela podia fazer isso? Era para o próprio bem dela.

Ainda conseguia vê-la sentada no chão, gritando coisas ininteligíveis, como se estivesse sendo atacada por alguma coisa. Aquilo com certeza fora um surto psicótico, um dos sintomas do transtorno bipolar. Eu, mais do que ninguém, sabia disso, pois minha mãe também tinha o mesmo problema de saúde. Lembrava-me do quanto era difícil cuidar dela, devido às crises que só pareciam piorar.

Em uma delas, minha mãe jogara um vaso contra minhas costas, resultando em uma cicatriz que tinha até hoje. Sempre fazia questão de nunca trocar de roupa perto dela, para que não se lembrasse do ocorrido. Eu a amava muito e, junto com meu pai, cuidávamos dela. Lembro-me de quando os médicos disseram que ela estava tendo uma melhora, o quanto nós ficamos esperançosos.

E então, ela se matou.

Fazia alguns dias que ela estava tendo uma crise de depressão, mas não parecia ser tão grave. Estávamos tão esperançosos sobre a melhora dela, que simplesmente não podíamos acreditar que estava tendo uma piora. Nós a negligenciamos. E ela se matou.

Não sabia o que sentia por Tessa, mas era forte o suficiente para me importar com ela. Vê-la gritando no chão me levou de volta ao passado, aos surtos de minha mãe. Eu tinha que ajudá-la. Havia errado com minha mãe. Mas não erraria com Tessa.

Assim, fui até minha sala, pegando minha mochila e dirigi-me novamente até a enfermaria, no entanto, Tessa já havia ido embora. Mas não havia problema. Andei rapidamente até meu prédio, onde subi correndo os degraus e parei em frente ao quarto dela.

Levantei a mão para bater na porta, mas hesitei. Talvez não fosse uma boa ideia fazer isso. Tessa parecia precisar de um tempo sozinha. Sendo assim, fui para meu quarto. Respeitaria o tempo dela. Eu a veria no dia seguinte. Éramos vizinhos, isso não seria difícil.

Mas isso não aconteceu.

Fazia três dias que não via Tessa em lugar nenhum. Não havia luz em seu quarto. Na hora das refeições, ela não aparecia, muito menos nas fila do banheiro. Na faculdade, nem sinal dela. Será que ela havia se mudado? Não, isso não era possível. Não podia ser.

Subitamente, lembrei-me de um dos episódios de depressão que minha mãe tinha. De como ela ficava isolada no quarto, com a luz apagada, sem vontade de fazer nada, nem de comer. Tudo o que ela pensava era em morte, por isso nunca a deixávamos sozinha. Será que era isso o que estava acontecendo com Tessa agora?

Peguei minha mochila ao meu lado e corri de volta para o meu prédio.

Chanyeol's POV *off*

A angústia estava pior a cada momento. Eu me arrastava pelo quarto escuro, sentindo-o diminuir a cada passo. Deixei-me cair em um canto, enrolando o cobertor com força ao redor dos ombros. Lágrimas salgadas desceram por meu rosto sem nenhuma razão. Era uma dor inexplicável. Tudo de ruim que acontecera comigo a minha vida toda agora formava um redemoinho torturante em minha cabeça.

Eu não aguentava mais. Simplesmente não aguentava mais.

Levantei-me com um pouco de dificuldade. Estava um pouco fraca por não ter comido nada desde ontem. Andei cambaleante até onde eu guardava meus remédios. Era só tomar mais do que devia. Algumas pílulas a mais e torcer por uma overdose. Esse pensamento até me fazia rir. Todo sofrimento acabaria.

Peguei um punhado de pílulas em uma das mãos. Havia uma garrafa d'água ao lado, que havia enchido ontem de manhã, antes que todos acordassem, para evitar que eu saísse mais que o necessário. Tudo acabaria de uma forma pacífica.

E então, alguém bateu na porta.

Aquilo me surpreendeu um pouco. Coloquei as pílulas em cima da mesa e me arrastei até a porta, abrindo-a.

Chanyeol parecia ofegante, como se tivesse corrido até aqui. Uma das suas mãos estava apoiada na parede, enquanto a outra ajeitava seus cabelos pretos. Uma mistura de emoções que eu não sabia explicar tomou conta de mim. O que ele veio fazer aqui?

- Posso entrar? - perguntou.


Hey guys *-*

Capítulo tenso, hehe. O que será que esta visita pode ocasionar? Descubra no próximo capítulo! ^^

XOXO :3

Delirium [Chanyeol]Onde histórias criam vida. Descubra agora