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Eu não sabia como era ser pisoteada por um elefante, mas com certeza a dor deveria ser semelhante à que eu sentia.
Cada parte de meu corpo latejava e meu cérebro parecia ter sido batido num liquidificador.
Minha sensação era a de ter tido meus braços e pernas transformados em gelatina.

E minha cabeça... Ah, como doía! Sentia pequenos choques ao longo de minhas têmporas e de minha nuca.

"Mate o outro."

A voz se repetiu em minha mente, como aquela súbita informação que te atinge antes de sequer abrir os olhos. O lufano foi a primeira coisa em que pensei.

Cedrico estava... Estava...

Aquela verdade, era algo que estava me rondando até mesmo de maneira inconsciente e, após abrir os olhos, monopolizou minha mente de maneira real. Era verdade.

Cedrico estava morto.

Tive o impulso de vomitar, mas minha garganta estava tão seca que nada além dos característicos sons secos foi expelido.
Respirei fundo e tossi um pouco, enquanto forçava a mim mesma a levantar.
Fiz um pequeno teste e me coloquei de pé, cerrando os dentes ao fazê-lo; tinha a impressão de que minha cabeça passara a pesar uma tonelada. Nem meus próprios pensamentos estavam organizados, como eu deveria proceder? Como encontraria Harry?
Porra, eu mal sabia onde estava!

O que eu faria?

- Que bom que se juntou à nós, senhorita Potter.

Pisquei os olhos várias vezes, e os esfreguei e seguida. Ainda assim, não podia crer no que estava vendo.
Caçava um norte em meio à toda aquela situação, repelindo o ar com dificuldade.

- Você... - O murmúrio foi automático de minha parte.

Diante do medo, meu corpo e minha mente voltaram rapidamente ao foco. A adrenalina segurou o grito em minha garganta e o terror em meu cérebro, transformando-os em batimentos acelerados e a impressão de ter meus próprios ossos pressionando os músculos.

Minha respiração saía entrecortada, completamente desordenada. Puxei uma quantidade enorme de ar pelo nariz, na tentativa de me normalizar.

Não me era clara a cor de sua pele - talvez branca demais, ou verde... Mas me lembrava vagamente a de um ofídio sem sangue, como vira uma vez na aula de alquimia.
Fitar seus olhos me causava o mesmo rebuliço de um pesadelo. Eram vermelhos e possuíam fendas no lugar das pupilas, como uma verdadeira cobra; honestamente, ele era um híbrido entre cobra e homem, sendo de maior domínio a parte de réptil. O conjunto de seu rosto não negava.

Dei uma rápida vistoria no local onde me encontrava e, intimamente, me senti ofendida.

- Uma gaiola? - Comentei, sem conseguir segurar a língua. - Sério? Só pode ser brincadeira...

- É um prazer finalmente conhecê-la, Melissa.

- Não posso dizer o mesmo, Riddle.

Ele não possuía sobrancelhas. Sua testa se enrugou para cima, diante de minha resposta.

- Sua irmã é um tanto quanto... Peculiar, senhor Potter.

Meu olhar seguiu o de Voldemort e então o avistei.

Harry... Ele estava consideravelmente distante de mim, amarrado contra uma das lápides, seu pavor era mais que visível, era quase palpável, mesmo de minha distância. O modo como me olhou... Enquanto estivesse viva, me lembraria de como me fizera sentir uma desproporcional impotência e, sem ao menos me dar conta, cogitar sua morte.

Naquele momento, era a única coisa concreta na qual eu conseguia acreditar, na qual a minha razão, me fazia acreditar. Que, assim como Cedrico, Harry e eu não deixaríamos aquele local vivos.
Era um sentimento de impotência, envolto por raiva.
A mais pura e bruta raiva, que fez meu rosto esquentar e minha respiração ficar ainda mais acelerada. Não possuía dúvidas de que meus olhos estavam pretos, e de que minha expressão revelava o quão enfurecida eu me encontrava.

O Amor É Ruivo (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora