Maldita vida!

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Poderei eu ser um dia algo mais do que sou?

Poderá esta maldita vida ser um dia algo mais do que é?


Passam os dias sem os contar,

Perdi a conta ao tempo que voa,

Passam as horas e eu,

Deitado sobre a cama,

Sou nada, serei sempre nada!


Os sonhos que tive,

Os sonhos que roubei,

Perderam-se nas águas do tempo,

Nos confins do espaço maldito que me quer matar.

Os amigos que tive,

As mulheres que desejei,

As caras desconhecidas que nunca me foram nada

A não ser caras

Estão longe, ou mortas, ou velhas e cansadas.

E também eu o estou,

Longe, morto e velho e cansado.


Que maldita vida em que nasci,

Que maldito cosmos que me quer matar!

Nunca serei nada,

Não tenho forças,

Não tenho sangue nas veias,

Não tenho sonhos!


Sou um velho patético,

Preso em corpo de moço,

Vivendo na época errada

Na terra que odeio e que quero ver destruída.


Tenho saudades dos outros tempos,

Dos outros homens e mulheres,

Do grande homem tímido da rádio.

Mas esse homem morreu,

E essas caras velhas estão morrendo,

E esses tempos gloriosos dissiparam-se

Como uma nuvem de pó

Que queima os olhos.


Não sei viver, não sei nadar.

Por isso fico na cama onde me afogo.

Fico em casa onde morro,

Sentindo a vida sair a cada respiração.


Não luto, não falo,

Simplesmente abraço o fim

E simplesmente me deixo ir

Com a maré da vida

Com a máquina da vida

Ou com outro nome qualquer

Que defina está coisa que me mata.


A cada segundo falta menos um segundo

Para o dia que mais espero.

E depois poderei rir do caos

E falar infinitamente com os velhos mortos

Que admiro.

Mas por enquanto, fico na cama

Vivendo sem verdadeiramente viver.

-JM


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