Fios de água que correm,
Gotículas que são união
E que fazem mover todo o rio.
E todas caem no abismo do fim
E todas deixam de existir
Quando desaguam no mar.
Sento-me na praia,
Observando com pura tristeza
A água que cai para o vazio
Ouvindo o gritar cheio de agonia
Das gotas que não querem morrer
E o cantar de alegria
Das que não querem viver.
Nada sou a não ser pó
Sou uma sombra que vagueia
Num mundo deserto
Abandonado pelos Homens
E pelos seres de outros tempos.
Agarro-me a esse passado
Porque é tudo o que me resta
E me faz ser feliz.
Entro na água,
Lavo o rosto e mergulho.
Nunca aprendi a nadar
E sempre tive medo das águas
Escuras e profundas.
Mas sempre que entro no mar
Sinto-me mais perto do passado
E ao mesmo tempo
Mais perto do fim.
A água cai
E se soubesse nadar
Nadaria até ao precipício
E saltaria de olhos fechados
Juntamente com ela.
De nada serve viver porque sou sombra.
(volto a terra e sento-me
observando o precipício)
-JM