No espaço sideral, frio e negro,
Orbito à volta de planetas, estrelas, nuvens,
Preso numa Lua de rocha negra e gelada ao toque.
Do outro lado da pedra consigo ver outras Luas,
Outros planetas e estrelas, todos eles com alguém lá dentro,
Preso na imensidão do seu mundo,
Isolado na ignorância do seu Universo,
Preso à certeza de sabedoria,
Mas longe da incerteza de conhecimento.
Não há vento, nem oxigénio, pois o Universo é vazio,
E sufoco com a falta de alguém, com a falta de trabalho, com a falta de mim.
Mas olho os outros, e também eles sufocam,
Jogando as mãos às paredes gritam por alguém,
Mas como todos sabem, no espaço não há som,
E por isso, morrem sem serem ouvidos,
Morrem sem serem conhecidos,
Morrem sem serem vivos.
Mas mesmo que alguém os ouça, neste espaço infinito,
Que diferença faz?
Depois de anos na plateia, numa Lua que gira e gira,
Aprendi que mesmo com som, o Homem nunca ouve,
O Homem apenas quer ser ouvido, quer falar e falar eternamente,
Mas nunca ouve, mas nunca ouve...
Nesta Lua sem vida, rocha que me confina, não consigo crescer.
Serei eternamente pequeno, inculto, ignorante,
Porque não tenho ar, não tenho vida, não tenho essência.
E se um dia, esta Lua chocar contra outra Lua qualquer,
Decerto será dia de festa, feriado santo,
Mas até lá, sou um preso numa Lua, como os outros presos todos
Que vagueiam por aí, neste Universo egoísta e irracional.
E aconteça o que acontecer, o tempo não pára,
Os planetas não param, as Luas não param, o Homem não pára,
Mas eu, oh, estou parado há milénios,
Feito em rocha, sem viver,
Porque já nada neste Universo tem cor.
-JM