Duas aves voam, lado a lado,
Nos altos céus que não acabam.
Do supremo cimo,
Olham em baixo os pequenos
E cantam alegremente com a melodia
Da sua dor.
Não somos todos aves,
Voando por cima daqueles que rastejam,
Voando por cima dos que caem,
Voando por cima dos que sofrem,
Só para nos sentirmo-nos melhor?
O tempo passa, o rio corre e o Sol envelhece,
Não há mais que isto,
Uma canção suave de ruídos
Que se sobrepõem sobre si.
Não há mais que isto,
Um lago de lágrimas,
À sombra de pesadelos.
Se houvesse, certamente,
Isto seria o Inferno.
Se houvesse, certamente,
Lá seria o céu,
Uma terra perfeita onde brilha o Sol
E não há aves, nem lagos, nem rios
Nem tempos.
Quiçá, isto seja um sonho,
Que na calada da noite ficou
E se arrastou para dentro de nós,
Conspurcando a alma e proibindo-nos
De acordar.
De qualquer forma,
Somos inúteis e sem propósito,
Aves que voam sem destino
Rindo e rindo
Até caírem mortas do céu.
-JM