Terramoto

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Treme a terra, vem o mar, morre o em pé


Quanto de mim dei,

Quanto de ti recebi,

Durante esta curta vida?

De ti recebi pó,

A dor de ser ignorado,

O nada que me deste.


Agora cai-me a casa porque não fui

Para onde queria ir.

Agora cai-me o tecto porque não saí

De onde não queria estar.

Mas tu, que vives nessa longínqua cidade,

Que não me deste nada, recebes a vida.


Treme a terra, vem o mar, morre o em pé


Corri para o cimo do monte,

Procurando o ar fresco de Deus,

Mas veio o mar em fúria e apanhou-me

Com as suas garras de demónio

E levou-me a vida que não queria

Mas que era a única coisa que tinha.


Mas tu, que vives nessa cidade longínqua,

Danças com o vinho ao som da música

Cantas a vida aos sete ventos

Enquanto eu vejo passar as horas

Sozinho, abandonado, esquecido.

Morre o em pé....


Treme a terra, vem o mar, morre o em pé


Morre o em pé...

Mais valia ter ficado deitado

Na cama onde nasci

E não viver, não desejar, não ser

E assim não morreria a primeira vez contigo

Nem a segunda com o terramoto.


Agora, fecho os olhos e vou com a água,

Agora, canto o poema que sei de cor,

Agora, rezo aos Deuses que criei

E parto para o mundo em que quis viver.

Nunca fui nada a não ser a carne,

Embora quisesse ser a alma.


Nunca fui nada a não ser o pó,

Embora quisesse ser a luz.

Mas agora é tarde, porque parto.

E tu, que quiseste ser nada,

Roubaste-me o que estava destinado para mim

E na cidade longínqua tornaste-te


No que eu sempre quis ser.


Treme a terra, e cai o mundo

Que nunca me acolheu

Porque Deus

Nunca gostou de mim.

-JM


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