Mais fácil pra quem?

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   Todo mundo bateu palma, era algo que eu não esperava, não no transe que eu estava. O olhar dele voltou para todos a nossa volta, e eu fiz o mesmo. A professora, disse, que com alguns ensaios, nós estaríamos prontos. Que éramos a equipe que estava na frente. Ele fez reverencia agradecendo, e arrancou mais aplausos. Quando eu fui falar com ele, ele olhou pra mim e colocou a mão entre a gente.

- não Mary. É só uma peça.

    Eu não tive mais como dizer nada, aquilo tinha me esmagado por dentro. Eu não podia mais passar por aquilo. Ele me ignorava e depois demonstrara amor, como eu nunca tinha visto na vida. O olhar dele em mim, era como se eu fosse algo precioso pra ele. As palavras dele, fizeram um grande estrago em mim.

   Peguei minha mochila, e antes mesmo que a professora nos liberasse, eu sai andando apressadamente pela a porta e fui embora. Cheguei no ponto do ônibus, por sorte ia passando um na mesma hora. Fiz sinal pra ele pro motorista, e ele parou. Imediatamente lagrimas escorreram pelos os meus olhos. O motorista do ônibus ficava me olhando, querendo me perguntar, mais com medo de ser intrometido. Sem pensar direito, desci 15 quadras antes da minha casa, não sei se era o destino, mas assim que coloquei o meu pé pra fora do ônibus, avistei a Melissa. Andei depressa pra ela não me reconhecer, mas era tarde demais.

- Mary? Gritou ela. Sorri em meio as lagrimas torcendo pra que ela não percebesse, mas ela notou.

- ei, você... você está chorando?

- não é nada, só estou feliz... pensa Mary... por que meu cachorro se recuperou.

- ah, que fofo. Mas por que desceu tão longe da sua casa?

   A pergunta dela me fez chorar de novo.

- ei calma, vem vamos entrar. Acabei de chegar do meu plantão, vou preparar algo pra gente comer.

- não precisa.

- claro que precisa, você ainda não experimentou minha torta de frango. Deixei ela preparada para o Lorenzo, mas aposto que ele ainda não chegou da escola.

É também aposto.

    Entrei sabendo que aquilo poderia ser o meu fim. Ela me mandou sentar na mesa, enquanto ela esquentava a torta, e eu fiz isso.

- então... vai me contar a verdade? Perguntou ela me servindo um pedaço de torta.

- não tem nenhuma mentira no que eu contei. Disse olhando pra torta.

- então por que não olha pra mim quando fala?

- não posso...

- eu não sei por que vocês adolescentes, fazem de uma coisa pequena uma coisa tão grande. Vocês poderiam sentar e contar o que sentem um pelo o outro, cara a cara.

O que?

- como assim? Do que está falando?

- esquece, um dia você vai saber.

   Lagrimas queimaram os meus olhos, e antes que ela percebesse, perguntei onde era o banheiro e ela me ensinou. Corri pra lá e liguei a torneira, pra que ela não escutasse o meu soluço repentino. Escutei um barulho que vinha da porta lá de baixo. Desliguei a água que estava jorrando. E pude ouvir uma conversar.

- eu não queria ter dito aquilo mãe. Eu juro.

- calma meu filho, respira. Não chora. Ou chora. Não sei.

- eu a amo, mais não devo.

   Escutar aquilo era mais doloroso do que ele me rejeitando. Abri a porta bem devagar, pra que ele não me vesse. Olhei de escada a baixo e ele estava nos braços da mãe dele, chorando e ela o abraçando como se ele fosse um bebe.

- você devia dizer pra ela, dizer como se senti.

- eu não posso, ela namora o meu amigo. Fingi que eu a odeio, é mais fácil.

- mais fácil pra quem? Eu não me contive, desci as escadas e fiquei de frente pra ele.

- Mary? O que você está fazendo aqui? Perguntou ele enxugando as lagrimas rapidamente.

- não importa, por que fingir que me odeia é mais fácil? Por que? Mais fácil pra quem? As lagrimas voltaram pra mim rapidamente.

- pra mim, você acha que eu gosto de ver você nos braços dele? Acha que eu aguento ser seu amigo sem te tocar? Sabe o que eu queria ter feito hoje?

   Balancei a cabeça negando e engolindo em seco. Ele deu um passo na minha direção e eu senti a respiração dele bem nos meus lábios.


Eu & Você. 2° temporada A Escolha.Onde histórias criam vida. Descubra agora