Fomos deixados a sós na casa. Nossas malas já haviam sido entregues e aguardavam por nós.
Eu evitava qualquer troca de olhares com meu "marido" num misto de vergonha com enjoo. Permanecemos em silêncio por alguns minutos, parados em frente à casa, numa hesitação mútua de adentrá-la. Entrar na casa significava se entregar totalmente ao fato de que conviveríamos juntos na mesma casa por meses a fio. Dois estranhos que já não se suportavam sob o mesmo teto.
Minha mente não parava de se perguntar se nas edições passadas os participantes também sentiram o mesmo que eu. Se sentiram o mesmo terror, se eles realmente eram amigos como víamos na televisão ou se por trás das câmeras mal se falavam. Ou até se os casais que brigavam constantemente eram na verdade grandes amigos e confidentes. Me perguntava se ficaram assustados parados de frente para suas novas casas esperando por alguma ajuda divina. Ou se era apenas eu que sentia tudo aquilo.
— É melhor entrarmos está ficando tarde! – Min Jun rompeu o silêncio mortificante e tomou a frente aproximando-se da porta de entrada.
Concordei apenas com um aceno de cabeça e o segui casa adentro. Deveria haver dezenas de câmeras espalhadas por todos os cômodos, inclusive filmando nossa entrada triunfal e nada romântica.
Passei os olhos pela aconchegante sala, pelas fotos de nosso "casamento" esta tarde que já repousavam sobre a lareira, olhei os sofás acinzentados que pareciam incrivelmente aconchegantes, a cozinha em tons de branco e cinza integrada e aberta.
Então por fim notei que haviam apenas mais duas portas. Ou elas dariam para dois quartos, ou aquilo significava algo pior. Um quarto e um banheiro.
Me apressei para abrir a porta esquerda e lá estava um grande e belo banheiro com uma linda banheira branca, balcões com pias duplas e tudo que um banheiro de alto nível exigia. Meu coração disparou com a ideia de que logo ao lado estaria o único quarto da casa. Dei alguns passos para o lado e repousei minha mão na maçaneta prateada e brilhante. A girei e por fim abri a porta temendo que meus receios fossem verdade. E então lá estava uma grande cama de casal com um grande quadro sob sua cabeceira, onde nossos nomes estavam escritos em letras coloridas e diferentes umas das outras. Senti que poderia ter um ataque cardíaco a qualquer momento então decidi que ficar calma seria uma boa, mas a ideia de ir para o hospital e dormir lá por causas justas não seria tão ruim.
Hyun Min Jun aproximou-se de mim ficando ao meu lado de frente para o quarto. Sua boca se abriu e se fechou em completo silêncio, como se algo dentro dele estivesse ainda mais assustado do que eu.
— Parece assustado – Comentei sem olhar para ele, ainda me focando na cama logo a frente.
— Não é uma surpresa, apenas uma confirmação.
— Confirmação? – Franzi as sobrancelhas e finalmente olhei para ele que permanecia com uma expressão indecifrável.
— Está nas regras – Mostrou o papel que segurava em uma das mãos, o papel que recebemos e que apenas ele lia atentamente enquanto eu explorava a casa – Regra número 5, o casal deve dividir a mesma cama durante todo o período no programa, o não cumprimento dessa regra resulta em descontos no nosso pagamento.
— Meu pagamento não pode ser descontado ou estou ferrada, preciso pagar as contas, pagar a Brie, enviar dinheiro pra minha família...
— Eu não precisaria desse dinheiro.
— Mas eu sim – Fiquei nas pontas dos pés tentando encará-lo – Eu sei que não fomos muito um com a cara do outro, mas eu realmente preciso de todo o dinheiro do pagamento, não é como seu eu estivesse cheia de contratos publicitários ou qualquer outro contrato.
— Certo, mas tente não encostar em mim, vamos criar regras pra vivermos bem.
— Tudo bem, contanto que eu não perca um centavo do meu dinheiro, tá tudo bem – Sorri aliviada e pulei na cama macia – Deus, isso é muiiiito macio – Apertei o colchão e pulei na cama como uma criança numa cama elástica.
Min Jun fez um aceno em negativo com a cabeça e pegou sua mala num canto do quarto. Procurou por roupas e caminhou em silêncio até o banheiro. Voltando minutos depois cheirando a sabonete e xampu, vestindo uma calça larga de moletom preta e uma camiseta cinza, os cabelos castanho acobreados molhados com algumas gotículas de água em seu pescoço.
— Precisa de um banho – Disse frio.
— Estou pensando em tomar um amanhã cedo, estou tão cansada que pensei em dormir assim mesmo.
— Está fedendo, se não tomar não divido a cama com você.
— Não estou tão ruim assim – Levantei um braço e cheirei minhas axilas, senti-me nauseada – Talvez um banho não seja tão ruim, mas estou indo por que eu quero, não porque você ordenou senhor mandão.
***
Quando voltei para o quarto ele já dormia do lado esquerdo da cama. Parecia imerso em um sono profundo. Os braços abraçavam uma almofada. Mas ele não parecia um anjo dormindo, ou qualquer tipo de divindade. Soava mais como uma britadeira furando concreto em uma construção. Uma grande e bem barulhenta que me impediria de dormir ter uma noite de sono decente pelos mais longos seis meses de minha vida.
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Recém Casados [Reta Final]
ChickLitLisa Scott é uma ex-famosa. Aos 26 anos vê sua carreira de cantora indo para o fundo do poço depois de alguns escândalos que destruíram sua imagem e para recuperar seu status resolve participar do reality show mais assistido dos EUA, o Recém-Casados...