Capítulo 39

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Pois é, eu voltei. Depois de uma grande pausa, um bloqueio criativo daqueles e um  emprego que tá sugando minha vida. Eu voltei.
Deixei um vídeo muito amorzinho pra vocês assistirem, é de uma leitora super fofa que fez uma resenha de Recém Casados e eu recomendo que assistam, não só esse, mas os outros vídeos do canal dela.
Bom é isso. Desculpe a demora, eu simplesmente não consegui escrever nada.
Boa leitura

*****

Capítulo 39

—  Espero não estar interrompendo nada - Disse Genna entrando abruptamente no quarto.
Ela parou diante da cama com as mão nos quadris e fez uma careta de desgosto.
— Qual é a de vocês? Estão juntos ou não? Eu ainda não consigo assimilar essa relação estranha de vocês dois? Não faz sentido!
— Só estamos pensando...Em silêncio - Min Jun se desvencilhou e se sentou.
— Abraçados ? Assim? Quem pensa abraçado com o ex?
— Não há nada entre nós, só estávamos sendo afetuosos - Ponderei.
— Ah claro - Rolou os olhos - Eu só vim dizer que precisam fazer as malas. Partimos essa noite, já estão todos avisados. E Lisa, você tem visita te esperando lá em baixo.
Notei que ainda estava de toalha e talvez a indignação de Genna fizesse mais sentido agora.
— Preciso vestir alguma coisa!
Vasculhei as roupas ainda limpas e escolhi uma combinação habitual de jeans e camiseta.
— Pode me dar licença? - Pedi a Min Jun.
Nossa indefinida relação tornava tudo incrivelmente estranho às vezes.
— Eu realmente preciso sair? Porque já vi...
— Sim precisa. Nós terminamos, então precisa sim!
— Tá, tá, aigoo, tudo bem eu saio, eu saio, aish - O empurrei para fora e fechei a porta.
***
Min Jun me esperou do lado de fora e me seguiu quando desci as escadas.
— Por que apenas não vai fazer suas malas? - Ralhei.
— Estou curioso, sobre sua visita... Ah quem mais seria, não? - Sua voz soou amarga.
Erick me aguardava próximo a porta da frente atento à algo em seu telefone.
— Erick? - Ele guardou o aparelho no bolso da calça e sorriu - O que faz aqui?
— Ah... é... Sobre ontem eu queria, eu quero saber se está tudo bem, se você tá bem.
— Tô bem, claro depois de um banho demorado, eu tava fedendo. Muito - Rimos juntos - Ah eu ainda não tomei café, quer tomar um café comigo? Eu realmente preciso disso, meu dia depende de um bom café.
— Por que não?
Min Jun permanecia de pé recostado à parede num incômodo silêncio, enquanto Erick e eu conversávamos sentados à bancada da cozinha.
— Então ficou realmente preocupado comigo?
Dei um gole em meu café.
— Eu me senti mal por ter te deixado beber tanto, mas eu não queria parecer seu pai...
— Não precisa se preocupar, já fiz coisas piores - Ri me lembrando de meus tempos áureos - Sabe, quando eu era famosa...
— Posso imaginar.
— Você não iria gostar daquela Lisa. Ninguém realmente gostava.
— Eu gosto da Liz que está diante de mim agora, não importa qual seja.
Erick colocou sua mão sobre a minha e ouvimos um pigarro alto do outro lado da cozinha. Min Jun fingia estar concentrado em seu telefone.
— Acho que preguei um resfriado - Disse cínico.
— Liz, esse seu amigo vai mesmo ficar nos observando? É um pouco desconfortável...
— Ah só ignora! Ele deve estar morrendo de ciúmes de você! - Respondi alto para que Min Jun me ouvisse - Ele deve te considerar uma ameaça, mesmo que não tenha nenhuma chance por que ele por acaso está noivo!
Min Jun bufou, revirou os olhos e marchou para o outro cômodo feito uma criança birrenta.
— Parece que alguém ficou irritado... - Assinalei - Mas se veio saber se estou bem depois do meu surto de ontem. Eu estou.
— Não foi só por isso que eu vim - Desviou o olhar - Eu soube que parte hoje, sua mãe me disse.
— Essa noite...
— E eu notei que você não tem meu telefone e eu não tenho o seu. E você pode precisar. Não que você precise falar comigo, mas se sentir vontade...
Tirei o telefone do bolso traseiro e o entreguei a ele.
— Salve seu número, eu posso precisar - Sorri e ouvi uma tosse forçada.
Min Jun tossia e pigarreava, enquanto olhava a geladeira aberta.
— Podem continuar - Raspou a garganta - Eu só tô olhando a geladeira. Continuem, não quero de forma alguma atrapalhar nada.
— É melhor eu já ir indo pra casa Liz, agora você tem meu número, pode me ligar quando quiser. Espero que queira. Foi incrível te reencontrar - Sorriu de uma forma tão encantadora e sincera que sorri de volta sem nem perceber.
Erick se aproximou e beijou minha testa.
— Até breve Liz - Saiu passando por Min Jun que fingia beber leite.
— Obrigada Min Jun! - Cruzei os braços irritada.
— O que eu fiz?
— Agora vai se fazer de desentendido?
— Eu só estava bebendo leite...
— Por que faz isso? Erick é um cara tão legal, nos conhecemos desde... desde sempre. Você não pode simplesmente mudar isso, você não tem o direito!
— O que foi fazer na casa dele ontem a noite?
— Eu não devo satisfação nenhuma a você, eu adoraria ser sua namorada e te dar alguma explicação, mas não somos nada, mesmo que eu te ame com todo meu coração, eu não tenho que te dizer nada. Pergunte pra sua noiva o que ela anda fazendo longe de você... Pelo menos finja que se importa com a mulher que vai se casar. Ela vai gostar... Mas já que quer saber, minhas intenções com Erick não eram nada puras - Murmurei em seu ouvido.
***
Abri uma fresta na porta do quarto de meus pais. Mamãe dobrava algumas roupas limpas sobre a cama.
— Mãe?
Chamei e no mesmo instante ela se virou.
— Elisabeth... - Sorriu - Veio me ajudar com as roupas?
— Pode ser - Aceitei e me aproximei dela.
Peguei uma blusa e desajeitada tentei dobrá-la do meu jeito. Certamente estava errada, pois minha mãe riu quando viu o resultado.
— Sabe mesmo fazer isso?
— Não é que eu não saiba, eu meio que perdi o jeito, entende?
— Veja, não é dificil. Você segura as mangas, então...
Mamãe explicava dobrando as roupas, passo a passo para que eu não perdesse nenhum  detalhe. Ela parecia animada com aquele simples momento. Talvez fosse seu momento de agir como uma mãe ensinando a filha. Talvez isso a trouxesse boas memórias, talvez ela só estivesse aproveitando nosso singelo momento entre mãe e filha.
— Entendeu?
Balancei a cabeça assentindo e sorri singelamente.
— Mãe? - Suspirei e me sentei na cama.
— Hum?
— Eu estava pensando, o programa está acabando e eu terei que voltar pra minha casa, mas eu não posso pagar a hipoteca, não tenho dinheiro o suficiente e certamente o banco vai tirá-la de mim.
— Precisa de dinheiro querida?
Mamãe largou as roupas e se sentou ao meu lado.
— Não, quer dizer preciso, mas não é isso que eu quero pedir... Eu não tenho pra onde ir e quero saber se poderia passar um tempo aqui, até as coisas se estabilizarem. Eu sei que é vergonhoso uma mulher da minha idade morando com os pais, as eu prometo que vai ser só por um tempo até eu conseguir um lugar pra morar e voltar pra L.A com minhas músicas.
Ela segurou minhas mãos e me olhou com amor. Eu podia sentir a ternura em seu olhar. Era seguro, tranquilo, aconchegante. E me perguntei, como pude passar tanto tempo sem sentir isso?
— Eu sei que fui uma péssima filha por muitos anos e se não quiser, eu vou entender perfeitamente.
— É claro que pode ficar, você é minha filha Elisabeth, fique quanto tempo precisar - Colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha - Como eu poderia dizer não a minha própria filha? Eu e seu pai te amamos mais que tudo e agora que Elaine se casou a casa iria ficar tão vazia. Vamos adorar ter você aqui. Quanto tempo for necessário.
— Você é incrivel mãe! Obrigada! - A abracei e senti meu coração aquecido, como não sentia há anos.
— Está chorando? - Indagou quando disfarçadamente enxuguei uma lágrima.
— Não, eu não tô chorando, é alergia, com certeza alergia!
— Claro, alergia - Gargalhou divertida - Mas agora preciso entender uma coisa filha.
Desviei o olhar.
— Quando chegou com Erick ontem, você disse coisas sobre seu namorado, sobre ele se casar com outra pessoa...
— Não somos namorados mãe, não mais.
— Oh, eu sinto muito filha...
— Ele está prometido à outra mulher, uma de seu país, eu não sabia de nada disso. Mas eu vou ficar bem, eu sempre fico.
— E Erick, Genna me disse que partiria hoje a noite e então eu disse a ele.
— Eu sei - Ri - Ele veio aqui me passar o número dele - Ri num suspiro.
— Ele é um bom rapaz Lisa, não faz parte desse mundo que você vive e nem está prometido à ninguém.
— Eu sei, Erick foi meu primeiro amor, meu primeiro beijo. Me traz boas lembranças.
— Isso é bom, mas eu não vou interferir em suas escolhas, aprendi isso da pior forma, não gosta que decidam por você. Faça o que te fizer feliz e eu e seu pai estaremos aqui pra te apoiar no que for. Sua felicidade é tudo o que importa, entendeu?
Assenti num aceno e me recostei em seu confortável ombro materno.
***
A equipe de produção guardava nossas bagagens na Van que nos aguardava em frente de casa.
Meus pais observavam tudo, calados, da varanda. E avistei a velha camionete de Erick se aproximando.
Eu e Min Jun permanecíamos no gramado, lado a lado, num incômodo silêncio.
— Ah de novo não, esse cara não tem nada pra fazer? Uma loja de ferragens pra cuidar?
— Como sabe?
— Facebook.
— Bisbilhotou o Facebook dele?
— Eu precisava saber mais sobre o cara com quem você tá dormindo.
— Não, não, não. Você não tem nada a ver com isso Min Jun!
— Só queria saber se era um cara decente...
— E o que descobriu Sherlock Holmes?
— Ele é entediante, mas não parece ser ruim.
— Você é entediante Min Jun! Talvez entediante seja meu tipo.
— Eu sou entediante?
— Você é chato, não sei que graça vi em você! - Cruzei os braços.
—Ótimo,agora eu sou chato.
— Você sempre foi. Mal humorado, rabugento, estressado...
— Como se a senhora fosse muito fácil de lidar.
— O que está insinuando?
— Você se propôs a me tirar do sério desde o primeiro momento que me viu!
— Isso não é verdade! Você começou com o "Achei que seria alguém famosa de verdade, bla, bla, bla" - Imitei seu jeito de falar.
— "Ele é asiatico, com certeza deve ser o Jackie Chan", "Min Jun eu quero me casar com o Brad Pitt, me leva pra ver ele, por favor, por favor" - Fez um beicinho -"Vamos caminhar no mato, é uma ótima ideia", "Seu amigo é tão lindo, oppa!"
¬— Tá, tá, eu já entendi. Pensei que tivesse se apaixonado por mim desde a primeira vez...
— E me apaixonei, por isso não desisti dessa droga de show, por isso era tão irritante te ouvir falando sobre outros caras, e pude aguentar todas as suas maluquices. Por isso é tão irritante quando esse cara...
— Erick!
— Isso, esse cara aparece - Completou distraído.
— É um prazer revê-lo também, Min Jun, certo?
Erick estendeu a mão e Min Jun apenas curvou-se rapidamente sem tocá-lo.
— Você voltou! - Assinalei tentando amenizar o clima tenso que pairava sobre nós.
— A sua chefe, Genna, ela pediu pra que eu viesse, e pensei que seria uma boa oportunidade pra te ver mais uma vez. Já que não sei quando te verei de novo.
— Creio que em breve.
Min Jun levantou as sobrancelhas e me fitou curioso.
— Decidi passar um tempo com meus pais depois do fim das promoções do programa. Vou morar aqui por um período, preciso de um tempo longe da loucura de Hollywood.
— Então parece que nos veremos muitas vezes - Seu sorriso iluminou seu rosto e não pude deixar de sorrir de vola.
Min Jun me observava quieto. Nenhuma palavra.
— Creio que Min Jun já esteja desfrutando de sua Lua de Mel até lá. Lisa me disse que vai se casar depois do programa.
— É, irei... me casar.
— É linda mulher - Observei.
— Meus parabéns, creio que não vou poder dizer isso mais tarde.
— Obrigado - Agradeceu disperso - Eu tenho que ver umas coisas com a produção - Se afastou.
— A minha intenção não era incomodar.
— Você não incomoda, é só...As coisas estão estranhas. Min Jun vai se casar, mas não é o que ele quer e nós acabamos de terminar...
— Se não é o que ele quer, por que vai se casar?
— É uma imposição familiar, eu gostaria mesmo de entender, mas apenas não entendo, isso simplesmente não entra na minha cabeça e dói, isso dói - Choraminguei.
— Ei, ei, eu tô aqui - Me envolveu em um abraço e recostei minha cabeça em seu peito - Vai mesmo voltar pra Rogersville? Não disse aquilo só pra provocar seu ex? - Murmurou.
— Sim, vou mesmo voltar...Eu não terei onde morar daqui um tempo, então sim.
— Quando voltar...Quer sair num encontro comigo? Eu sei, eu sei que talvez não seja o momento certo, na verdade só esquece o que eu disse.
— Quero, eu quero, vai ser divertido.
Sorri. Erick me arrancava sorrisos fáceis. Talvez fosse seu próprio sorriso que me causasse isso.Não havia nenhum tão bonito quanto o dele. Erick era o típico cara bonito do interior, desejado por todas no colégio, mas não parecia dar a mínima importância para isso. Principalmente pelo fato de que ele era perdidamente apaixonado por mim. E eu não era nem bonita, muito menos popular. Eu apenas existia, mas por alguma razão ele me enxergava. Acho que ele gostava da minha personalidade, ou só estivesse acostumado comigo. Eu realmente nunca entendi muito bem sua admiração por mim.
Erick era o cara perfeito. O sonho de toda mãe. Inteligente, bonito, simpático, tinha um emprego em sua própria loja de ferragens. Mas enquanto ele me abraçava, era por Min Jun que meus olhos procuravam pelo quintal.
Era por seu abraço que eu ansiava, era por seu olhar e seus beijos que eu desejava.
Queria fechar os olhos e acordar em nossa cama naquela noite onde tudo desabou. Queria acordar em seus braços e perceber que toda essa história de casamento arranjado não passava de um pesadelo terrível. Queria me aconchegar em seu corpo e continuar sonhando com nosso futuro.
Porque eu queria um futuro ao lado dele. Queria acordar ao lado dele todas as manhãs e saber que seríamos nós para sempre.
Mas não seríamos nós nunca mais.Não havia mais um "nós". Não havia mais nada.
Somente lembranças de um tempo que jamais voltaria e isso era tão doloroso para se pensar.
Genna apareceu berrando com a equipe, como de costume, apressando todos porque nosso voo estava próximo. Ela batia palmas, caminhando em meio ao pessoal com um cigarro entre os dedos.
— Ei, você! - Apontou para mim - O que está esperando? Vai logo se despedir dos seus pais, preciso que seja emocionante, se puder chorar eu agradeço, a América agradece! - E você bonitão podemos fazer algumas perguntas? Pro programa, claro!
Erick me olhou indeciso aguardando por algum sinal.
— Tudo bem Erick, não tem problema. Eu vou falar com meus pais - Me afastei.
— Câmera 4 aqui comigo e o bonitão aqui - Gritou Genna - Câmera 2 e 3 com os Scott, eu quero emoção hein,emoção! - Bateu palmas chamando atenção - Câmera 1 com o Min Jun, filmem seja lá o que ele estiver fazendo, alguém pode fazer algumas perguntas pra ele? Eu agradeceria!
As câmeras me acompanhavam enquanto eu caminhava ao encontro de meus pais.
— Mãe, pai, eu tenho que ir agora.
— O tempo passou tão rápido filha, mal tivemos algum tempo juntas.
— Eu sei, foi bom estar de volta, dessa vez foi realmente bom estar com vocês.
— Fique bem filha - Papai me abraçou e afagou meus cabelos, beijou minha testa e sorriu triste - Eu te amo.
— Eu também amo vocês. Prometo voltar logo. Vocês são tudo o que eu tenho agora.
— E isso é ruim? - Inquiriu mamãe.
Balancei a cabeça.
— É perfeito. Eu tenho minha família de volta, e se tem algo nesse programa que eu posso me orgulhar e agradecer, foi ter vocês dois de volta. Eu não tinha ideia do quanto faziam falta, mas agora eu percebi e eu não quero ficar longe de vocês.
Os abracei . Mamãe chorava. Papai chorava. Eu estava feliz. Eles eram meu porto seguro em meio ao caos da minha vida.



Recém Casados [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora