Capítulo 6

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Min Jun dirigia em silêncio o carro que ganhamos temporariamente da produção. Não era como se ambos quiséssemos conversar mesmo que houvesse uma câmera no painel aguardando para capturar alguma interação entre nós.

— Não que conversar? Eles devem querem que conversemos.

— Não.

— Mas você adora seguir o roteiro...

— Não estou afim de conversar com você, pois não tenho o que conversar com você – Ele não desviava os olhos da estrada.

— Tem certeza? Depois não vai dizer que sou eu quem não segue o roteiro... – Cantarolei.

— Certo, vamos conversar! Me responda uma coisa – Aguardei prontamente sua pergunta – Como você consegue ser tão irritante?

— Ah, acredito que seja uma espécie de dom divino, assim como o seu dom de ser um grande babaca! – Sorri para ele que comprimia os lábios numa linha fina e apertava as mãos no volante.

— Por que me colocaram para dividir um teto justamente com você? Uma artista fracassada que ainda acredita que é alguém? – Resmungou.

— Era eu quem deveria estar fazendo esta pergunta. Mas sem a parte da artista fracassada e tal – Cocei a cabeça envergonhada.

Era isso o que eu significava para ele? Apenas uma artista fracassada que acredita ser alguém? Eu era mais que isso. Eu era Lisa Scott. Dona do hit "My sister is a bitch" que ficou 7 semanas no topo da Billboard, que foi líder em vendas no iTunes e quem sabe se o Spotfy existisse na época teria obtido milhões de reproduções. A duas vezes indicada ao Grammy com as duas únicas baladas dos meus dois álbuns "Get outta my Way (Whore)" e "I hope that you die soon", a quebradora de correntes... Espere isso é Game of Thrones.

De qualquer forma eu era alguém, ou pelo menos havia sido alguém. Eu ganhei 4 Kids Choice Awards, afinal as crianças adoravam minhas músicas. Lisa Scott já havia sido importante e marcado o mundo de alguma forma. Pessoas em todo o mundo cantavam minhas canções e meus concertos costumavam lotar.

Ao mesmo tempo em que pensar nisto enchia meu peito de orgulho, algo dentro de mim se despedaçava apenas com a ideia de que isso tudo estava no passado e seria uma das histórias que contaria aos meus filhos e netos que poderiam se gabar de ter uma avó que já foi famosa em algum momento em sua vida.

— Chegamos – Anunciou seco, trazendo-me de volta de meus devaneios.

Frente ao supermercado uma pequena equipe de filmagem nos aguardava com suas câmeras e assistentes além de Genna que andava de uma lado para o outro com o telefone celular na orelha e um cigarro acesso na boca. Ela esbravejava com quem quer que fosse no telefone, alguém que provavelmente deveria ser seu ex-marido pelo assunto que conversava.

— Eu já disse que ele vai passar o final de semana na sua casa! Ele também é seu filho, mas que merda Ryan... Ah não, mas é claro que eu fiz ele sozinha, talvez eu realmente devesse ter dormido com o vizinho que dava em cima de mim...

Genna nos olhou com olhos arregalados quando Min Jun pigarreou anunciando nossa chegada.

— Há quanto tempo estão aí? – Tirou imediatamente o celular do ouvido.

— Acabamos de chegar! – Respondeu ele.

— Vocês ouviram muita coisa? – Indagou um tanto sem graça o que não era de seu feitio.

— Não nada – Respondi no mesmo instante – Não ouvimos nada – Balancei a cabeça em negativo freneticamente.

— Eu só estava falando com minha irmã sobre uma massa de bolinhos de chocolate.

Recém Casados [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora