Capítulo Cinco

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O que mais doía era seu ombro, calculava que ficaria um hematoma, mas nada além disso, o que mais preocupava era o corte no antebraço, não estava realmente doendo, era mais um ardor profundo e a quantidade de sangue que vertia dali. Toni precisou tirar a camisa mesmo suja e enrolar no antebraço para evitar manchar o banco do carro do colega que dirigia.

Cabeça, como era conhecido, não disse nada durante todo o trajeto, visivelmente agoniado com a mancha vermelha que crescia, encharcando o pano. Dirigiu concentrado e o mais rápido possível embora o próprio acidentado não mostrasse nenhum sofrimento. Toni fazia uma careta desconfortável devido o ombro sempre que o carro velho com a suspensão ruim passava num quebra-molas, mas nada além disso.

A tranquilidade do rapaz era chamativa e intrigante para quem não o conhecia completamente. Era o caso de Cabeça, na verdade se chamava Rogério, mas ninguém o chamava pelo nome.

No hospital Toni cumprimentou a Técnica de Enfermagem da recepção com um aceno assim que ela o reconheceu. A moça ergueu as sobrancelhas para o rapaz, vendo suas calças sujas de cimento e sangue, o antebraço enrolado na camiseta agora úmida com o liquido carmesim muito vivo.

— Oi Suzuki.

Toni explicou muito mais calmo do que o esperado. Suzuki digitou rapidamente uma ficha já que tinha todos os dados cadastrais do rapaz no sistema, ou seja, não era a primeira vez que Toni era atendido mesa unidade hospitalar.

Foi encaminhado para a triagem, estava com 92kg, sua pressão arterial também foi verificada e pelo que ouviu estava baixa, mas não conseguiu prestar atenção em nada. Começava a ficar com muita sede, sabia que não era um bom sinal. Não passou mais do que cinco minutos naquela sala, a enfermeira lhe entregou sua ficha impressa. Leu rapidamente e sorriu minimamente quando viu que a moça o classificou como Emergência.

— Parece que eu cortei uma artéria.

— Como sabe disso?

— Só um palpite — comentou mostrando um pouco de preocupação agora com a tonalidade viva do sangue que manchava a camiseta.

Foi Dr. Machado que o atendeu, junto com um enfermeiro. Um homem com mais de sessenta anos, muito experiente e muito simpático que já conhecia o paciente de outros atendimentos e outras ocasiões. Fez todos os procedimentos sempre conversando com o rapaz.

— Pronto, vai ficar tudo bem agora, a hemorragia foi estancada e já suturei. A sensação de ansiedade é normal, sua pressão vai se estabilizar logo.

— Já posso ir para casa?

— Sabia que faria essa pergunta — brincou o médico, com um sorriso educado.

— Para não perder o costume — rebateu, referindo-se a todas as vezes que fez aquela pergunta, foram muitas ao longo dos anos, mas não havia humor algum na sua voz.

— Eu preferia te deixar em observação até amanhã pelo menos.

— Isso é realmente necessário?

O médico lhe olhou fixamente como um pai faria.

— Você perdeu uma quantia significava de sangue...

— Uns dez ou doze por cento — falou como se fosse algo insignificante.

— É só uma noite...

— Amanhã é o aniversário do César, minha mãe tá falando disso o mês todo... ah qual é Machado? Sabe como ela é! Eu não quero preocupar a minha rainha por nada.

O médico pensou por alguns instantes.

— Se precisar eu assino um termo de responsabilidade ou qualquer coisa assim.

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