Capítulo Setenta e Um

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Luz atravessou a casa as carreiras, quase esbarrando nos móveis, invadiu a cozinha como um furacão. Já foi pegando o pote de açúcar e colocando em cima do balcão.

- Não mexe nas coisas baixinha. Se bagunçar a cozinha a mamãe fica brava. Senta aqui comigo para comer - pediu Toni.

- Eu não tô com fome não paizão. Vó a senhora me ajuda a fazer um bolo? Mas tem que ficar muito gostoso! Daqueles que dá até vontade de morrer de tão gostoso - pediu e foi subindo numa cadeira, alcançou a cesta de ovos.

Magnólia correu e pegou a cesta antes que a menina derrubasse.

- Agora é hora de almoço e não de pensar de bolo - falou sorrindo, ajudando a menina a descer da cadeira.

Luz já foi metendo a mão na cesta e tirando dois ovos, um em cada mão. Foi colocando junto do açúcar, toda apressada.

- Vó eu quero colocar aqueles coisos coloridos, que eu não sei o nome, aqueles que tem em bolo de aniversário. Acho que o paizinho vai ficar mais feliz se tiver coisos coloridos, eles são bem docinhos - continuou, ignorando a recusa que acabava de ouvir.

Toni levantou da cadeira e foi pegar a menina no colo.

- Já chega baixinha. Tá na hora de comer, depois tu brinca do que tu quiser - falou sério, tentando se fazer entender pela pequena teimosa.

Mas a menina esperneou, agoniada, lutando para se soltar, empurrava Toni enquanto sacudia as pernas com força. Magnólia colocou as mãos na cintura, vendo aquela agitação toda, enquanto Lucas continuava comendo, assistindo de forma impassível.

- Não! Eu não posso comer agora! Eu tenho que fazer um bolo. Por favor paizão, deixa eu fazer um! Me solta! Me solta! Aaaaahh! Me larga agora! Eu vou fazer um bolo!

- Primeiro tu vai almoçar, depois que a gente vai dar uma olhada no teu caderno da escola. Vou aproveitar que tô em casa e vou te ajudar com a tarefa de hoje, beleza? Aí depois... - foi explicando, ajeitando a menina nos braços, enquanto ela ainda se debatia. Mas sua fala foi cortada por um grito agudo, Luz gritou frustrada por não conseguir se soltar e já muito irritada até batia nos ombros do homem.

- JÁ CHEGA! PARA COM ISSO AGORA! - falou alto, sua voz estrondosa e grossa pareceu um trovão e a menina congelou, até prendeu a respiração.

Magnólia quis intervir mas não o fez, preferiu não tirar a autoridade do filho diante da menina, ou então toda vez que Luz levasse uma bronca viria correndo para a vó, em busca de alguém que encobrisse os mal feitos. Mas a carinha de choro que menina fez quando Toni a colocou sentada numa cadeira foi de dar dó. Afinal tudo no moreno era intimidador quando ele estava irritado.

- Olha para mim - ordenou o tatuado, se abaixando na frente da cadeira da menina.

Toni esperou os olhos azuis lacrimejantes encontrarem os seus.

- Explica, que arrumação é essa de bolo?

Os lábios da menina tremiam em vontade de chorar e se curvavam para baixo, os olhos muito arregalados estavam quase transbordando. Mas o rapaz se manteve firme.

- Porque o paizinho bateu o dedo mindinho no pé da mesa - explicou, num fio de voz tamanho era o medo que sentia a garota.

Toni precisou de todo seu autocontrole para não cair na gargalhada, porque aquilo não fazia o mínimo sentido. Não conseguia imaginar o que um dedo mindinho tinha a ver com fazer um bolo.

- Explica direitinho minha flor - interveio enfim Magnólia, de forma muito mais branda.

- Eu vim aqui agorinha pouco, porque o paizinho mandou eu comer, mas aí lembrei que num tinha falado pra ele o que a tia, lá da escola mandou, aí eu voltei lá. O paizinho tava chorando. Ele disse que machucou o dedo mindinho no pé da mesa... que tava doendo muito... que só ia ficar feliz de novo se eu fizesse um bolo para ele.

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