Capítulo Sessenta

4.3K 489 83
                                    

— Alô.

Toni pigarreou para limpar a garganta.

— Oi, Clara. É o Toni.

— Ah, oi. Como você está?

O rapaz passou a mão na nuca, um tanto quanto impaciente.

— Tá tudo beleza. Então... Tô te ligando para saber se o Samuel não apareceu aí. Tipo ele saiu faz tempo e esqueceu o celular aqui...

— Não, na verdade a última vez que vi o Samuel foi naquele dia que eu fui aí com as meninas. Mas está tudo bem?

Toni fechou os olhos, completamente frustrado. Tinha um pouco de esperança de que seu namorado tivesse ido se refugiar no estúdio, Otávio lhe disse certa vez que Samuel costumava passar muito tempo trabalhando nas suas músicas quando estava chateado.

— Tá sim, não esquenta não, eu fico preocupado com ele andando por aí com aquele joelho bichado.

Clara sorriu do outro lado da linha.

— Você não precisa se preocupar tanto. Samuel sempre foi muito independente e sabe se virar sozinho. Ele vai ficar bem, eu tenho certeza.

Toni teria desligado na cara da mulher se sua mãe não estivesse parada na sua frente com os braços cruzados lhe encarando feio.

— Tô sabendo. Valeu hein, se ele passar por aí me liga.

— Pode deixar, eu aviso sim. Mas você está se estressando à toa.

— Falow — desligou, bufando de tanta frustração.

Acenou negativamente com a cabeça, jogando o celular na mesa e cobrindo o rosto com as mãos.

Fazia uma hora que Samuel havia sumido, não atendia o celular, não retornava suas ligações, não mandava uma única mensagem. Era desesperador. Escorregou as mãos até se enterrarem nos cabelos e ficou encarando a mesa, lembrando da expressão do namorado quando seus olhos se cruzaram e ele estava meio deitado naquela cama, enrolado numa toalha, meio por cima do ex-marido. Samuel pareceu tão amargurado, estava tão pálido e seus olhos já estavam vermelhos. Se perguntava se Samuel esteve chorando antes de chegar em casa. Cogitou a possibilidade da consulta com o médico ter realmente o abalado, o que era bem possível, tímido como ele era.

— Não adianta nada você ficar aí puxando seus cabelos meu filho — começou Magnólia, ainda olhando o filho de forma dura.

— Ah mãe não começa! — retrucou, começando a se desesperar.

Magnólia deu tapão estalado na mesa, ainda furiosa com o filho mais velho.

— Olha como fala comigo menino! Tá querendo apanhar de novo por acaso?! Perdeu a noção do perigo seu moleque malcriado! — esbravejou, os olhos pretos pareciam até faiscar de raiva.

Não importava que Toni tivesse um metro de noventa e atualmente estivesse beirando os cem quilos, as marcas vermelhas da bengala de Samuel nos seus braços e nas costas mostravam a supremacia materna. Por puro respeito a sua mãe o rapaz balbuciou uma desculpa e ficou calado. Até aquele momento Magnólia não havia dito nada sobre o assunto, apenas lhe deu "corretivo" por ter tido um comportamento que a mãe achava reprovativo. Agora sabia que vinha a bronca.

— Era só o que me faltava! Que absurdo! Eu não te pari e te criei para você virar um homem sem moral e sem honra Antônio! Onde já se viu? Não aceito esse tipo de sem-vergonhice debaixo do meu teto!

— Eu já disse que foi um mal-entendido. Todo mundo sabe que eu não tenho mais nada com o César — falou baixo, se defendendo a medida do possível, sem soar desrespeitoso, nem ousava levantar a cabeça para encarar a mãe.

UnilateralOnde histórias criam vida. Descubra agora