Capítulo Quarenta e Três

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Lá estava ele, em pé perto da mesa da cozinha conversando com Magnólia enquanto cortava legumes com muita habilidade. Samuel vestia suas roupas de sempre, camiseta branca por baixo de uma camisa social lilás com as mangas arregaçadas até os cotovelos e a calça jeans de sempre. Esse era o seu vestiário mais comum, independente do clima, sempre se vestia assim. O observando de um canto onde tomava o mesmo copo de suco há quase meia hora, apenas para poder ficar mais tempo ali.

Depois de conversar com Otávio no celular tentou imaginar uma maneira de se aproximar outra vez do músico. Mas qualquer ideia que tinha lhe parecia extremamente estúpida. Da última vez que viram, se agarraram aos beijos chupando a língua um do outro com direito a deitar no chão e até ouviu Samuel gemer em algum momento, tinha certeza absoluta que não tinha imaginado isso, que Samuel realmente o correspondeu, com o corpo mas correspondeu. Mas aquela abordagem tão direta não deu muito certa, agora não sabia o que devia dizer quando o visse outra vez. Não queria pedir desculpa porque não se arrependeu.

Estava quase indo até a casa do mais velho quando sua mãe ligou e pediu que viesse almoçar na pensão, contou que chamaria todo mundo, incluindo Samuel. Pronto, já tinha um lugar e uma hora certa para ver quem mais queria.

Um almoço de domingo com a família. Mas ainda estava enfrentando um obstáculo. O silêncio. Samuel lhe cumprimentou normalmente, como se nada tivesse acontecido e isso foi muito esquisito, por um instante Toni quase se irritou. Mas respirou fundo e lembrou que Samuel devia estar se consumindo por dentro a julgar como era tímido, apenas não demonstrava bem o que sentia. Mas agora simplesmente não sabia como devia puxar conversa.

— Como tá indo meu filho? Já conseguiu alguma coisa? — começou sua mãe do nada.

Toni estava tão disperso nos seus conflitos que demorou a entender que ela se referia ao seu recente desemprego.

— Não, nada ainda. Tá meio difícil.

— Mas e como você tá fazendo com o aluguel meu filho? — questionou, já preocupada.

— O César tá dormindo lá em casa e tá ajudando nas despesas...

Quando disse isso Samuel parou de cortar os legumes de um jeito súbito e a faca até tremeu na sua mão. Ficou imóvel assim, sentiu um incômodo e um mau humor súbito no mesmo instante que a faca passou no seu dedo.

— Como assim o César tá dormindo no teu apartamento meu filho? Vocês não tinham se largado? Não vai me dizer que você aceitou aquele homem traidor de volta? Toni meu filho aquilo não vale nada! Para ele te trocar por outro vadio qualquer é só piscar o olho...

A sua mãe não estava ajudando muito. Assim Samuel era capaz de voltar a achar que estava apenas brincando sobre algo entre os dois. O músico continuava imóvel. Se fosse outra pessoa poderia pensar o que quisesse que Toni não se importaria, mas não queria mais nenhum tipo de mal entendido entre os dois.

— ... Você é muito sem vergonha de aceitar aquele...

— Mãe! Calma, relaxa! Deixa eu falar por favor!

Magnólia veio colocando as mãos na cintura toda autoritária.

— Vai... Desembucha!

— Ele e o NAMORADO dele. Eles DOIS estão lá em casa, o CASAL. Eles não tinham para onde ir.

Samuel pousou a faca na tábua lentamente, sendo seguido pelos olhos atentos do mais novo. O sangue ia escorrendo pelos dedos finos, mas só quando pegou o um pano de prato que estava por ali foi que Toni percebeu o machucado.

— Samy... se cortou?  — denunciou com urgência, interrompendo a conversa acalorada com a mãe.

Magnólia veio igual uma mãe coruja, puxando o pano das mãos do loiro e foi examinado o corte. Foi resmungando uma bronca sobre cuidado com facas, não importava o quanto Samuel dizia que não estava doendo.

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