César e Ícaro - Primeira parte

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O som da porta batendo forte o fez estremecer. Toni estava furioso e com motivo.

Sabia perfeitamente quão difícil estava sendo para o amigo conquistar o homem por quem ele estava apaixonado, aliás aquele namoro era uma verdadeira odisseia e estava realmente torcendo para os dois se entenderem. Torcia tanto por eles que se tivesse uma torcida organizada, seria o líder, com direito a shorts apertados e sensuais, coreografia, pompons e grito de guerra e justamente por isso parecia irreal ter sido o único a atrapalhar a primeira tentativa de intimidade dos dois.

Colocou os pés em cima do sofá, se encolhendo, abraçou as próprias pernas e abaixou a cabeça, escondendo o rosto.
Tudo estava dando errado na sua vida ultimamente. Talvez fosse falta de sorte, talvez fosse carma, ou talvez já estivesse na hora de sair dali.

Não tinha para onde ir, isso era um fato, mas quem, na face da terra, dorme no sofá do apartamento do ex-marido do atual namorado? Especialmente quando foi o pivô da separação. Como se isso não fosse louco o bastante, acabava de levar uma bronca do dono do apartamento, como se ele fosse o seu pai e isso era muito humilhante, principalmente porque ele estava certo. Além disso, Toni era assustador quando estava zangado, era como ver um cão enorme, raivoso e sanguinário.

Sentiu aquela mão grande e familiar no seus cabelos e imediatamente se levantou, colocando uma boa distância entre os dois.

— Eu tava preocupado, onde tu se meteu o dia todo?! — perguntou César, a voz cheia de pesar.

— Ué, pergunta pro Toni, não é isso que você faz sempre?! — rebateu, enxugando as lágrimas com força.

— O quê? — estranhou, sem entender a que o outro se referia — Deixa de graça! Caramba! Eu fiquei maluco sem saber onde tu tava o dia todo? Pensei que podia ter sido assaltado ou sei lá e aí quando tu finalmente resolve dar o ar graça vem com essa marra toda?! Porra cara…

— Ah por favor, poupa os meus ouvidos! — ironizou, derramando outras lágrimas e voltando a enxugar.

Sem vontade nenhuma de estar perto do namorado, Ícaro resolveu ser prático, apenas deu as costas para o maior, foi para a área de serviço, já derramando mais algumas lágrimas, pegou as roupas que estavam secas e penduradas no varal e voltou para a sala. Quando pegou sua mochila, mais lágrimas surgiram e isso o fez se sentir patético.

— Não, não, não, não, não… NÃO! Eu não vou ser esse tipo de pessoa! Que chora e fica se lamuriando por causa de macho! Eu me recuso, sou bom de mais pra isso — falou sozinho.

César vinha logo atrás, ainda perdido com as respostas irônicas que recebeu.

— Ei cara… — Começou, da forma branda que era possível e tocou seu ombro magro, numa tentativa de fazer com que virasse para ele.

Repentinamente Ícaro estapeou a mão grande para longe, virando de uma vez.

— Não me toca, seu babaca! Você perdeu qualquer direto que tinha de encostar e mim depois daquela palhaçada de ontem! — brigou, apontando o dedo indicador de forma acusadora.

Cesar ficaria ofendido se não se sentisse culpado pela confusão do dia anterior. Por tanto apenas passou as mãos no cabelo castanho claro, empurrando para trás e respirou fundo.

— Bebê, foi mal, tá? Eu tava perdendo o controle e… — tentou, nervosamente, mas o menor o cortou sem qualquer consideração.

— Vai se ferrar! Você pode pegar essas suas desculpas esfarrapadas e enfiar no cu! — rebateu, empurrando mais roupas na mochila.

— Ícaro! — repreendeu com severidade.

— EU NÃO SOU UMA GAROTA! — explodiu, gritando a plenos pulmões, sem se dar ao trabalho de virar para o homem.

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