Capítulo Trinta e Nove

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O cabelo loiro não tinha mais o comprimento de antes, agora era curto, num corte masculino que arrepiava naturalmente em cima, o rosto ficou mais visível. As roupas eram simples e em nada lembravam um professor, muito pelo contrário, a camiseta preta lisa e o jeans apenas lhe conferiam jovialidade.

De longe Toni admirou quase hipnotizado o sorriso meio bobo e impressionado que Samuel tinha no rosto enquanto olhava a casa. Seu coração batia forte quase dolorido, sua garganta se comprimiu com um nó, até o ar ficou rarefeito.

Era ele. Depois de um ano e meio. Enfim ele voltou.

Seus passos retornaram, como se seus pés tivessem vontade própria.

Percebendo sua aproximação, Samuel se virou, mas quando encontrou os olhos pretos tão de repente, o sorriso bobo e admirado que tinha foi sumindo lentamente. Ficaram enfim frente à frente, como da última vez que se viram, mas dessa vez despidos de qualquer sentimento agressivo. Samuel exalava dúvida e incerteza por todos os poros, tinha até um pouco de medo nos olhos. Isso não passou despercebido.

Mas não houve tempo de dizer nada, nem mesmo um simples "oi". Primeiro Toni o segurou pelos ombros, como se para evitar que o músico desaparecesse bem na sua frente como num passe de mágica. Só então, muito de repente, o abraçou, com força.

Samuel de imediato não soube o que fazer, ficou até confuso, afinal podia jurar que o ex-amigo odiava até seu último fio de cabelo. Mesmo tardiamente foi erguendo as mão para as costas largas do rapaz, e o abraçou também, muito sem jeito com a situação.

—  Samy, eu nem acredito — conseguiu falar depois de um longo momento.

— Ah, oi... Toni — cumprimentou, ainda perdido na situação.

— Eu tô tão feliz de te ver! — apertou mais o abraço, louco para sentir cada pedacinho daquele corpo, com o qual sonhou tantas vezes no último ano, até inspirou o cheiro suave do perfume.

— É muito bom... te ver também.

A retórica hesitante e carregada de dúvida trouxe Toni de volta a realidade. Lhe ocorreu que da última vez que se viram por pouco não agrediu Samuel, disse coisas horríveis, segundo Otávio, o músico ficou tão abalado que até sofreu um acidente na estrada de volta para casa. Imediatamente soltou o homem, mas não conseguiu parar de olhá-lo, fazia questão de memorizar tudo.

O silêncio que envolveu os dois foi completamente constrangedor e aflitivo. Samuel nem ao menos conseguiu olhar nos olhos pretos do moreno por mais de alguns segundos. Toni sabia que tinha assustado o músico, lembrou com pesar do modo bruto que o jogou contra a grade durante aquela briga, talvez até o tenha machucado.

— Tu tá diferente para caramba sabia — comentou, quando o silêncio insuportável.

Samuel passou a mão no cabelo.

— Por causa do cabelo né? Eu ainda estou me acostumando.

— Não só o cabelo, a roupa também, geralmente tu andava na beca, camisa social e essas coisas — respondeu ainda hipnotizado pela presença magnética do músico, ainda parecia que ele podia desaparecer de repente.

— Hum, era por causa do trabalho. A casa... Eu não imaginei que ia ficar tão diferente, quase não reconheci — comentou, incomodado com tanta atenção.

Toni percebeu a súbita mudança de assunto.

— Gostou? Eu só segui a planta, achei que já sabia como ia ficar — falou percebendo a timidez habitual do homem.

— Eu nem me lembro dessa planta, eu só vi uma vez. Ficou realmente incrível.

— Vai mesmo vender? — questionou tentando camuflar seu interesse pessoal na pergunta, subitamente apreensivo com a possibilidade do homem sumir outra vez

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