Toni continuava dormindo, jogado de bruços na cama macia, respirando com serenidade.
— "Vam’bora" marrento! Sai dessa cama cara. A gente tem que ir — pediu César pela quinquagésima vez.
— Hum — foi tudo que ouviu em resposta, sempre essa exclamação que nunca sabia distinguir se queria dizer sim ou não.
— Vamos camarada. É para hoje! — apressou, terminando de vestir a cueca.
Mas o moreno o ignorou completamente, se entregando ao sono outra vez.
César achava bonitinho o jeito sonolento do rapaz, porque só dormindo Toni parecia um anjo, no restante do tempo parecia mais um demônio, mal humorado e sádico. Riu com os próprios pensamentos, foi sentando na beira da cama, ao lado do corpo inerte do rapaz e puxou o lençol que o cobria até a cintura, admirando a nudez do outro.
Toni sempre teve o próprio quarto, então nunca se preocupou com a sua nudez, mas desde a chegada de Lucas na família estava tentando perder esse costume, era difícil. Quando estava só com César se permitia ficar muito à vontade, já que o enfermeiro conhecia todos os seus costumes e não se incomodava com eles.
Talvez até gostasse dessa mania do moreno de dormir pelado, a mão grande já subia pela coxa, apertando de levinho a bunda musculosa morena clarinha que tanto lhe enlouquecia.
— Você tá tão gostoso assim. Parece até que tá me chamando — elogiou, com um sorriso malicioso, alisando o corpo alheio.
— Hum — resposta padrão.
— Levanta marrento, ou vamos ter que pagar outra diária — informou, gemendo quando Toni se moveu um pouco e os músculos se contraíram.
— Eu pago — foi tudo que o moreno respondeu, ainda rouco de sono.
— Não tá falando sério né? Vai pagar uma diária só para poder dormir mais um pouco? — questionou incrédulo.
— Se quer ir embora vai. Eu não vou para casa hoje! Cala a droga da boca agora! — resmungou, sonolento.
— Porra! Fala sério! Vem cá esse teu mau humor não dá uma trégua não parceiro? Pior do que mulher de TPM. Nem parece que passou a noite toda gozando! — reclamou com um bico que ficou engraçado num homem tão grande.
O moreno apenas levantou um braço e enlaçou o homem pelo pescoço, o puxou para deitar na cama e passou o braço por cima do peito, num meio abraço.
A verdade é que Toni sofria com um amargo "porre emocional".
Só de imaginar que Samuel estaria lá quando voltasse para casa, sentia-se ser arrastado por ondas e mais ondas de emoções contraditórias. A sensação que tinha era de estar se afogando.
A simples presença do companheiro o acalmava um pouco, serenava a maior parte das suas inquietações. Por isso, num gesto mais incomum ainda, escondeu o rosto na curva do pescoço alheio, inspirando seu cheiro. Estava fresco pelo banho recente, a pele estava gelada e tinha uma mistura de sabonete, loção pós barba e o aroma másculo natural de César.
— Eu adoro esse cheiro — soltou de repente, com muita tranquilidade, sentindo todas as suas aflições se aquietando apenas por sentir aquele corpo ali.
César até se assustou. O seu namorado era a pessoa mais fria que conhecia, nunca fazia esse tipo de coisa, a não ser quando estava bêbado, o que não era o caso. Logo um sorriso bobo surgiu no seu rosto.
— Você me ama marrento, só não sabe disso ainda.
— Iludido.
— Assim você parte meu coração — brincou, dramaticamente colocando a mão no peito.
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Unilateral
RomansaSamuel é um professor de música, depois de sete anos decide voltar a sua cidade natal para passar férias de fim de ano e tentar reencontrar velhos amigos. Mas estava surpreso ao encontrar Toni, o menino sorridente, pequeno e bondoso cresceu e havia...