Capítulo Trinta e Oito

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Rever o agora ex-inimigo trouxe muitas lembranças a tona e reviveu muito daquela revolta cega que possuía quando era adolescente. O primeiro sábado de folga no mês de Maio amanheceu ensolarado. Toni estava de pé antes do sol nascer, contrariando seu hábito de dormir até tarde.

Precisava gastar aquela energia ruim de alguma forma e acabou voltando para o antigo programa de exercícios e dietas que fazia no passado. Ou seja, voltou a malhar pesado.

Seu horário preferido de ir para a academia era as cinco da manhã, logo que o estabelecimento abria. Era um dos poucos e assim se concentrava melhor nas séries de exercícios sem precisar ficar regulando sua educação. As pessoas eram irritantes. Ver os exibicionistas se gabando dos seus músculos para tentar chamar atenção era uma das coisas que mais lhe estressava. Evidente que gostava do seu corpo, afinal de contas cultivou cada músculo com muito esforço. Mas não entendia porque precisava fazer poses numa disputa vaidosa com outros marmanjos na frente do espelho. Parecia algo sem propósito.

César respeitou seu espaço, não voltou a tocar no nome de Eduardo, mas mostrava sempre um sorriso orgulhoso pelo que Toni fez. Isso acalentava um pouco suas "feridas antigas", mas apenas não era o suficiente para apagar todo o passado. A dor e as humilhações que sofreu continuavam lá, no mesmo lugar. Apesar de ter tentado "ajudar" Eduardo a abrir os olhos, não viraram amigos, muito menos o perdoou.

Viviane tentou ligar uma vez, mas realmente não ouviu o celular tocar então quando percebeu já era uma chamada perdida, foi melhor assim, não estava pronto para voltar com ela apesar de desejar que amiga fosse feliz com sua nova família. Ela pareceu compreender muito bem que ainda não era hora de uma aproximação, pois não voltou a ligar.

Naquele sábado, assim que chegou em casa, já passava um pouco das nove da manhã, percebeu César um pouco aflito, mas preferiu não dizer nada de imediato. Geralmente quando tinham algum problema no relacionamento César se afetava assim, então era uma questão de tempo até o enfermeiro falar o que estava acontecendo, mas era muito divertido para Toni ver ele tentando fazer de conta que estava tudo bem.

— Temos que conversar sério — anunciou César, meio pedindo e meio receoso enquanto Toni saía do banheiro enrolado na toalha. O moreno deu uma olhada demorada para o companheiro e já descobriu do que se tratava toda aquela aflição do homem.

Mesmo que não fosse apaixonado por César não conseguiu evitar de ficar um pouquinho triste, mas apenas se enxugou.

— Fala.

César estava uma pilha de nervos, quando falou sua voz saiu até oscilando.

— Eu conheci um garoto.

Houve um minuto de silêncio, onde César se consumia em ansiedade.

— E daí? — se pronunciou em enfim.

— Ele é mais novo que a gente, faz aquele tipo mais afeminado sabe? Mas ele é tão verdadeiro, tão sensível que tenho vontade de cuidar dele.

— Assim eu vou ficar com ciúme — gracejou com ironia.

César sorriu de leve, desviou os olhos por alguns segundo, incapaz de encarar o namorado.

— É sério Toni.

— Ele não é primeiro — comentou, sem realmente me importar com o fato do seu namorado estar lhe confessando uma traição, talvez até um caso.

— O Ícaro é... diferente, ele é especial para mim – confessou enfim, deixando a frase no ar até Toni entender o significado.

Em outras palavras César estava apaixonado.

Toni sempre soube que esse dia chegaria, que César era que sairia daquela relação estranha que levavam por pura teimosia e comodismo. Quando decidiram tornar o relacionamento mais sério ambos sabiam que nenhum dos dois estava apaixonado de verdade. O que César sentia pelo moreno era tesão absoluto no começo, com o tempo construíram um laço sentimental.

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