Capítulo Dez

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Magnólia exigiu que César ficasse longe da cozinha e dispensou igualmente qualquer ajuda do filho mais velho, considerando que ele havia machucado um ombro. Foi assim que Toni e o enfermeiro acabaram indo parar no quarto do caçula da casa. Os três agora se revezavam nos dois controles do velho PS2 num jogo de corrida, mais simulava racha entre carros coloridos e velozes. A brincadeira arrancava risadas empolgadas e alguns palavrões feios de vez em quando. Pareciam três crianças divertindo completamente absortas no jogo.

Foi o momento que Toni mais relaxou e quase esqueceu o mundo fora daquele quarto. Por volta do meio-dia os amigos do aniversariante começaram a chegar, a brincadeira infantil na frente da televisão de tubo pequena teve que acabar. Os colegas de trabalho de Toni estavam numa rodinha no fundo do quintal, alguns sentados outros de pé. Todos com suas latas de cerveja, escutando o forró pé de serra que tocava no último volume a pedido do grupo. Puxaram logo César para o meio deles. O enfermeiro já conhecia a todos de longa data, ganhou muitos tapas amigáveis nas costas parabenizando pelo aniversário, junto com palavras fraternais, apelidos engraçados e implicâncias mordazes.

Alguns colegas de trabalho de César também vieram e foram se enturmando facilmente. Quem trabalhava no hospital conhecia ou pelo menos ouviu falar do namorado temperamental e brigão do enfermeiro, Toni acabou recebendo mais atenção do que esperava, mas como sempre não se preocupou muito com nada. De um modo geral todos já se conheciam. A animação da festa foi sempre regada a risos e alegria, afinal aquilo era uma festa de aniversário.

Apesar de estar se divertindo com as conversas sem sentido estava completamente alerta, o pedido do namorado mais cedo o deixou preocupado. Volta e meia procurava Toni com um olhar rápido, ficando mais tranquilo quando o localizava, quase sempre com Vivi pendurada no seu pescoço como se fosse um colar. Se não tivesse certeza homossexualidade do mais novo, ficaria preocupado com essa relação tão próxima que aqueles dois tinham. Sua atenção logo era chamada de volta a roda onde estava, os pedreiros contavam como foi o acidente no dia anterior e César realmente estava curioso sobre isso.

— Ei, como você está amigo? — perguntou Viviane enquanto comiam o purê de batata e a carne de sol, sentada no colo do moreno.

— Sobre o que? — rebateu Toni.

— Eu não sou o César — cantarolou.

Toni engoliu o purê e refletiu por alguns instantes.

— Eu não sei — falou normalmente.

— Esquece esse cara Toni, ele não vale a pena. Olha para mim — pediu a moça.

Toni obedeceu, não conseguia esconder nada daquela mulher.

— Oh Toni, meu bebê. Você... ainda ama aquele palerma não é? — constatou o óbvio e sorriu com amargura.

Qualquer alegria que existia ali desapareceu de seus rostos como se fosse mágica. Se compreendiam apenas com um olhar, porque sempre estiveram um do lado do outro, como verdadeiros companheiros. Ela era a única que sabia ler aqueles olhos pretos de forma tão clara, talvez até melhor que a própria mãe do rapaz, porque sabia de coisas que Magnólia não sabia.

— A única coisa que eu sei é que ele tá testando meus limites. Eu... tô queimando por dentro. Juro Vivi, se não fosse o aniversário do César eu já tinha ido pro "Lunáticos".

Ao ouvir o nome do bar Vivi se arrepiou toda, com uma sensação ruim.

— Não precisa disso! Relaxa bebê! Não dê para ele um valor que ele não tem, Samuel é só uma visita, tenta pensar positivo, lembrar das coisas boas. Não é possível que vocês dois só tenham lembranças ruins um do outro.

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