Eu estava melhor depois dos curativos que Josh me fez. Seus cuidados não eram brutos, mas eram cuidadosos. Ele não olhava pra mim desde esse dia; faz três dias desde que tive um corte na minha panturrilha. Ele me evitava, ele me ignorava e o via pouco, menos do que antes.
Nós quase nos beijamos.
Eu não sabia onde isso ia dar, mas sei que seria encrenca. Não posso me ver apaixonada por ele. Mas... Eu não me vejo apaixonada por Josh... Eu só sinto uma carga, uma eletricidade quando nos tocamos. Ou quando ele toca em minhas coxas... Deus! É como se seus dedos fossem o fogo e me carbonizava por inteira. Como sentir a pulsação de seu membro, fosse à certeza de que ele seria o primeiro cara a me fazer ter um verdadeiro orgasmo. Ele seria o santo e o demônio na cama, mas aí era você que decidia isso.
Bang não deu tantos detalhes, eu assistia a TV e a filmes que passavam pelo canal. Mas nada mudaria o fato de que eu estava completamente entediada. Elle tem estado comigo, dormia na maior parte do tempo no meu colo enquanto acariciava seus cabelos loiros cacheados. Ela veio em minha direção de surpresa e me dizia como tinha sido na escola e de como ela se comportou. Elle era uma garotinha engenhosa e seu sonho era ser desenhista. Ela adorava fazer casas, prédios e pessoas. O que mais me surpreendeu, foi um dia antes ela ter me amostrado um desenho bastante incomum. Eram um anjo, ou talvez uma anja, e um ser humano que no caso seria um menino. Ela explicou:
— O menino é solitário. Sombrio. Mas tem um coração gigantesco que um dia seria amado, no caso, eu imaginei o Josh. — Ela riu de leve. — Já a anja, bom, ela seria você. Eu sinto que você é a anja dele, Liv. Que no fundo, vocês dois ainda vão se amar mesmo com tudo isso acontecendo. Ele é bom, você desperta uma coisa que ele nunca foi comigo: companheirismo. Ele nunca me levou ao parque, nunca brincou mais que uma hora, nunca assistiu um filme ou me levou para a praia. Você o mudou, você é a anja dele.
Suas palavras, seus olhos azuis brilhando, seus lábios formados em um sorriso amigável, sua pele oliva... Ela tinha oito anos e desenhava melhor que muitos adultos. Ela seria uma ótima designer ou arquiteta. Isso seria ótimo para ela. Mas suas palavras de consolo, como ter dito: você o mudou. Era confuso, muito confuso. Mas eu não poderia culpa-la. Cresceu com um monstro, acho que nem mesmo ela sabe os podres de seu irmão.
*
— Elle! Elle, acorde! — Gritei ao sacudi-la pelos ombros enquanto a observava, soada e tendo um tipo de convulsão. — Elle! Por favor, acorde!
— O que ela está tendo? — Gritou Josh ao vir em minha direção enrolado em um cobertor. — Porra, o que é isso?
— Eu não sei, ela... Ela estava deitada no meu colo dormindo e... começou as tremedeiras. — Gaguejei.
Josh a sacudiu e nada. Então resolvi por mim mesma, sacudi ela com um pouco mais de força quando ela soltou uma fungada tão forte que me abraçou como se eu fosse uma única corda na qual ela podia se segurar. Ela me abraçou tão forte que só depois de acordar realmente, sua respiração ficou ofegante e seus olhos pareciam procurar por alguém. Logo notou que era eu, senti-a relaxar e afrouxar os braços em volta de meu pescoço. Alisei suas costas com leveza enquanto ela choramingava baixinho no meu ouvido.
— Shh... está tudo bem, querida. Você vai ficar bem, estou aqui, calma. Respira fundo. — Sussurrei para ela.
Duas horas mais tarde, Elle voltou a dormir e eu a observava. Josh apareceu com uma calça e uma camisa polo preta. Ele me ofereceu uma xícara de café, mas eu não era tão a fim, mas aceitei do mesmo jeito. Ele sentou no sofá da frente e me observou.
— Você devia se deitar, são 2h da manhã. Ela ficará bem. — Ele diz.
— Não estou com sono. — Minto. Não durmo tem horas e estava muito cansada. — Isso é normal? Ela ter essas convulsões?
— Na verdade, ela só teve uma vez. Mas o médico diz que é o sistema nervoso. Algo no psicológico dela a assusta. Ela deve ter... medo de algo, sonhado com algo ou...
— Os anjos. — Sussurro.
— Como?
— Ela disse de dois anjos. Ela os desenhou. Bem, eu não sei ao certo se seria isso mas...
— Anjos não existem, Olivia. — Diz ele, cético.
— Estou dizendo que ela pode estar tendo sonhos com eles... com nós. — Minha voz falha.
— Do que está falando? — Pergunta ele.
— Ela me desenhou e você. — Digo sem tirar os olhos dele. — Ela disse que eu sou sua salvação. Pode ser, eu sei que soa como maluquice, mas... Talvez ela veja coisas sobrenaturais em seus sonhos. Como anjos, pessoas que ela perdeu como a mãe, o pai ou seu irmão...
Josh olha para mim quando digo “seu irmão”. Tem algo sobre isso. Ele me analisa, talvez imaginando o que disse no momento. Ele suspira e diz:
— É loucura. Você sabe disso, não é?
— Claro que sim. Mas são os sonhos dela que faz ficar perto de quem ama. Por isso ela dorme de tarde até o dia seguinte. É para aproveitar cada segundo que lhe resta. — Digo.
— Para, Olivia. Bobagem. — Ele coloca o copo na mesinha de centro e suspira. — Vai dormir, eu cuido dela essa noite.
Ele se levantou, pegou-a no colo e a levou em direção de seu quarto. Ele apaga as luzes e a escuridão me envolve novamente.