Eu conseguia sentir uma sensação estranha. Uma sensação de que alguém me vigiava. De que, alguém tentaria me raptar e estilhaçar cada parte de mim. Era uma sensação monstruosa, mas, no entanto compreensiva. Ao longo dos cinco anos, meu pai fez a questão de me treinar usando facas, e não armas. Não por enquanto. Com tantas pessoas em que ele prendia ou matava porque deveria, era um inimigo atrás do outro. E certamente ele ficou com receio de que alguém viria atrás de mim. Eu tive que andar com guarda-costas na escola, da escola pra casa. E toda vez que algum garoto chegava perto de mim, eles o pegavam e diriam pra ficar longe de mim. Era horrível e ainda é. Eu namorava Connor Lake. Ele era um cara legal e inteligente. Duas coisas que meu pai subestima. Mas a verdade, é que eu nunca amei Connor de verdade. E era um erro por estar com ele.
Mas eu só estava com ele, porque tinha medo que nunca encontrasse quem me amasse como ele. Na vida de Olivia Blake, não era fácil ser feliz. Treinamento cinco horas por dia, estudos o tempo todo e horário para cada coisinha. Inútil, não acha? Estava farta de tantas vezes as empregadas da casa dizer “sim, senhorita”. Uma vez, eu quase quebrei um copo no dia de ação de graças quando escutei essas duas palavras pela milésima vez. Mas meu pai me deteve, o que achei apropriado. Mas eu não me sentia feliz. Talvez sim, mas são pequenas coisas. Pequenas coisas que me dava ódio também.
Aquela era uma casa vazia e só notariam que sumi quando chegassem a casa nos próximos três meses. Meu pai iria fazer uma viagem para a África do sul. Uma manchete disse que há muitos atiradores por lá. E desejam pacificar onde necessita. Meu pai era... O chefe das forças armadas. Sabe o que significa? Que com 45 anos, e ele ainda consegue matar alguém de olhos fechados. Era desgastante. Mas ele adorava o trabalho.
Naquela manhã, seria o último dia de treino até ele partir. Eu estava contente e triste ao mesmo tempo. Mamãe viajou para Carolina do Norte para ficar com a minha tia que está com câncer. Eu estaria sozinha. Nem mesmo os guardas costas iriam interferir. Pela primeira vez, eu tentava não me sentir sozinha. Mas era impossível. No campo de treinamento, papai era severo. Havia três alvos. E duas facas em minhas mãos. A terceira estava perto do meu pé. Girei e rodopiei as facas nas mãos e joguei no alvo, acertando o meio.
A terceira, eu abaixei rapidamente e peguei atempo e joguei no terceiro e último alvo. Fiquei parada, ofegante e ouvindo as palmas que papai continuava bater. Ele ria e sorria ao mesmo tempo, satisfeito com o resultado.
— Olivia querida, você está cada vez melhor! — Disse ele se aproximando até onde eu estava.
Steven chegou mais perto e me girou querendo dar um soco em forma de punho, eu revirei e abaixei pra pegar a faca que havia no meu tornozelo. Depois de ter pegado, o girei sobre meu corpo e apontei a faca para suas artérias. Ele riu por satisfeito. E deu três tapinhas no meu braço dizendo que podia descansar.
— Você está ótima! Cada vez melhor. Meus parabéns. — Disse ele, tentando se tornar um pai adulto e maduro. Mas não sentia nenhum humor em suas palavras.
— Obrigada. — Disse eu, dando alguns suspiros ofegantes.
— Você ficará bem, aqui sozinha? — Perguntou ele após tirar as três facas dos alvos.
— Sim, eu... Ficarei bem.
— Eu posso te levar até Nova York. — Disse ele. — Lá tem aquelas novas tecnologia. E cheio de artistas. Quem sabe você conhece Brad Pitt. — Sorriu. — Já salvei a vida dele. — Sussurrou.
— Hm, na verdade eu vou ficar em casa mesmo. Tem uma porção de filmes que eu quero ver e vão passar na televisão. — Disse eu mentindo. Mas meu pai nem sequer notou.
— Quais filmes? — Perguntou surpreso.
— Ah, você sabe. Aqueles da... Hilary Duff. A Nova Cinderela. — Disse eu, pensando em algo.
— Somente esse?
— Não. É que não me lembro de todos os outros. — Disse eu. Na verdade eu sabia, mas não queria dizer e explicar a sinopse.
— Hm, entendi. — Disse ele dando um beijo sobre minha testa. — Eu te amo querida. E quero que se divirta. Chame os amigos. Faça festas, mas sem exagero. — Disse rindo da própria fala.
— Claro pai. — Disse eu dando um sorrisinho.
Ali eu fiquei. Meu pai iria para África em poucos minutos. Mamãe não ligara em nenhuma das vezes. Somente duas, mas pra perguntar se precisava de algum material, ou de novas facas. Eu era a única normal e mais solitária dali. O casarão era horripilante de noite. E ficar sem meus pais, não faria tanta diferença. Talvez sim, o treino faria falta. Mas era a minha nova liberdade. Mas não sentia a palavra “liberdade” soar tão bem e... Liberto.
Depois que ele partiu, eu fui dar uma volta pela praia de Malibú. Em Los Angeles, a maioria das pessoas me conhecia. E me dava medo saber que provavelmente seriam meus inimigos em série. Era ridículo sentirem medo de mim. Tirei a chave da ignição e pus meus óculos de sol. A calça legue, havia sumido. E eu usava apenas um short jeans com uma blusa solta. Caminhei até a praia, sentindo cada grão de areia adentrar por entre meus dedos. O sol estava brilhando no alto e eu caminhava até a água. Sentindo aquela água gelada quebrar a minha quentura. Era como se eu levasse um choque.
Pedi uma cadeira e um guarda sol. E presenciei as pessoas curtirem a água. Crianças gritando e rindo. Correndo e brincando. E os pais, logicamente acompanhados. Eu tive que aprender a nadar, remar, escalar... Todas as coisas que garotas normais não fariam. Elas estariam na casa das amigas, fofocando sobre algum garoto ou talvez, falando sobre Justin Bieber. Irônico era eu saber de tudo e um pouco dele, que nem mesmo fãs sabem. Meu pai mantinha contato com os artistas e eles agradeciam toda vez que os protegiam.
Minhas únicas amigas que eu realmente tinha, eram Julia e Mellody. E agora, com um novo ano, tive a honra de conhecer Mariana, Alice e Liz. Julia e Mellody cresceram junto a mim. A família Morgan e Lerman eram amigos da família Blake. Já o resto das meninas, eram cuidadosas e sempre felizes. Fiz um trato com Julia em não contar sobre meus treinamentos. Não era normal uma garota de quase 18 anos, saber como cortar alguém em pedaços.
Eram exatamente 17h01min daquela tarde manhosa. O sol estava se pondo e eu observava com muita atenção aquele momento. Mas minha atenção foi voltada ao mar novamente. Um garoto. Um garoto me observava. Ele tinha um porte forte. Usava blusa branca que amostrava e revelava seus bíceps. Seu cabelo se tornava um amarelo ouro com o sol batendo exatamente nele. Quem é ele? Era o que queria perguntar. Ele sorriu com um pouco de ousadia e não parou de me olhar. De certa forma, eu queria me ceder aquele corpo. Ceder a ele um corpo que necessitava de prazer. Connor não era bom de cama, ele gemia mais do que eu. Era nojento.
Mas ele parecia saber dominar uma mulher. Parecia ser o santo e o demônio. Mas isso não era ruim. Era delicioso imaginá-lo me tocar com aqueles braços. Aquelas mãos quentes e fortes. Ele poderia ser aquele tipo de cara que deseja levar a mulher no altar. Aquele cara romântico. Mas parecia ser um quebrador de corações.
Assim que o sol se pôs as seis em ponto, eu retirei os óculos e o guardei nos bolsos. O garoto havia sumido e eu estava satisfeita por não me sentir afetada por sua beleza majestosa. Após ir ao carro, entrar e partir rumo á casa solitária, eu liguei para Julia no meio do caminho.
— Julia, oi. Festinha do pijama lá em casa. Avise as meninas. — Disse eu, desligando o telefone assim que ela deu um grito e disse “tudo bem, irei avisar”.