Ceará , cidade toró dos santos que não partiram, sexta feira 22 dezembro de 1945 horário 23:59 casa de parto da parteira nega do Carmo pois era assim que aquela velha casa de cinco compartimentos de construção rústica de paredes oblíquas e rebocadas as cegas forrada por telhas sustentadas por caibros linhas e vigas era conhecida por todos daquela pequena cidadezinha situada a quase trezentos quilômetros da grande capital. Remota como qualquer outra pequena cidade do interior do nordeste consequentemente sofria com a degradação sócio-ambiental causado pelo egoísmo humano e com as leis fatais da apática natureza que secava seu solo e o dividia entre a esperança e o ceticismo de dias melhores .
Seu irônico título talvez se devesse ou resultasse de suas crenças e crendices baseadas nas aspirações por chuva e na esperança de mais ninguém ter que abandonar sua terra e seu lar e assim descer ainda mais da sua condição de independência relativa em que vivia para ir esmolar a caridade pública nas terras do sul e em busca de uma vida menos pior .
Mesmo naqueles tempos difíceis a fé e a resignação da maioria conseguia ir além do desespero da minoria , Portanto isso significava que eram poucos os que arrumavam suas marianas ou se deixavam influenciar pelo ditado dos lajedos e ficavam para tentar ajudar no progresso da pequena Toró dos Santos , porque apesar das adversidades a cidade tinha seus fatos positivos que contava com seu rústico comércio , sua escola , a prefeitura e seus dois únicos pontos convergentes que eram a pracinha e a igreja .
Mas se o ditado dos lajedos se cumpre ou não a olho nú , ou se então esperar por tempos ruins era ter a certeza de mais um novo amanhã naquele lugar onde outra vez se faria necessário a renovação de cada esperança e de todas as forças para se seguir naquela eterna batalha contra a fome e contra a morte irônicos regalos do cruel destino que de forma turbulenta também trouxera ao mundo e ao sertão o caipira que mais tarde viria se tornar a figura mais ilustre daquela pequena cidadezinha, em uma noite desoladora de dezembro como qualquer outra mais que já existiu ou que possa a vir existir no sertão mas que parecerá ganhar de migalha a leve brisa que dançava suavimente , mas que com repugnância tocava as solitárias folhas infermas e rajadas que insistentes permaneciam em seus galhos ressecados e cinzentos onde os grilos camuflavam suas orquestras agourentas e a tocavam com seu roçar infernal enquanto os vagalumes agitados por todos lados piscavam virentes como que quisessem purificar aquele lugar daquele ritual macabro e a lua piedosa porém sarcásticas lá de cima parecia querer demonstrar todo seu empenho para amenizar àquele breu talvez somente para ter uma visão melhor daquele lúgubre cenário.
-- É menino ou menina ? É menino ou menina ? -- Perguntava a mãe ao ver o recém-nascido aos berros em posse da parteira .-- Há de ser um meninão Alzira, um meninão... -- Dizia o marido que sentia o coração querer saltar pela boca .
-- Ôia não Chagas os castigo do meu santim, Ôia não...
-- Que castigo que nada muié, a banha da mãe não faía.
-- Só no ôi da piaba Chagas, só no ôi da piaba. -- Foi pronunciando isso aí que dona Alzira agarrada as mãos grossas e calejadas do marido o puxou contra si com tanto ímpeto que quase o fez trocar de lugar com a criança que ela já havia posto para fora, para o mundo e para aquele sertão.
Durante o decorrer de toda a estória será pelo autor explanado frases e palavras típicas e peculiares do linguajar sertanejo nordestino como essa primeira aí o que lá seria chamado de esse "dizerzim", "Só no ôi da piaba "o ( ôi ) aí quer dizer olho e o tal dizerzim significa ou expressa indignação e oposição muito usada pelos mais antigos hoje em dia quase não se esculta mas.
-- Calma minha fía, calma...
-- Hum! Eu que sei das arrumação da dona Nenem.
-- -- Gosto nem de dizer o nome dela.
-- Entonsse num diga...
--Hum!
-- -- Só no ói da...
Derrepente o dizerzim foi interrompido por um súbito choramingar de dona Alzira agora mais emocionada e que embalada pelo grande momento se pôs a justificar :
-- Só nos que sabe a trabalheira que foi Chagas ... Só nós que sabe...-- Só nós que sabe Alzira! Só nós que sabe muié ! -- Exclamava o marido dessa vez com a cabeça por sobre a da esposa lhe acariciando gentilmente com o roçar de testa agarrado as suas mãos pálidas e calejadas .
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O Santo Caipira
HumorSe divirta com todas as atrapalhadas e malandragem de um caipira do interior do Ceará , com sua cidade de nome estranhíssimo , de hábitos extremamente excêntricos e com todos seus personagens pra lá de engraçados . E se o destino lhe pregou uma pe...