PARTE 9

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Doutor? Justo doutor. Ouvir da voz dela aquilo que eu sempre costumei ouvir da Sarah e, lembrar que ela esta doente enquanto eu estou sozinho em um quarto de hotel com minha ex-namorada. Nada bom!
Me afastei dela e virei de costas passando a mão no cabelo totalmente encharcado.

— Eu vou te esperar no quarto. —de repente o tom de voz dela mudou e, quando eu virei novamente ela não estava mais ali.

Terminei de me enxugar e me vesti. Andei pra o quarto ainda passando a toalha no cabelo e ela estava lá, sentada na minha cama olhando para a janela atrás da mesma.

— Desculpe, pela indiscrição. Vem, senta aqui. — deu uma leve batidinha na cama ao lado dela para que eu me sentasse. Os dois copos de chá que eu havia pedido estavam sobre o balcão.
Peguei os copos e andei até a cama, sentando onde ela havia solicitado. Abri a tampa de um dos copos para detectar o sabor do chá e então o entreguei a ela.

— Esse é seu. — ela respirou fundo e, assim que sentiu o cheiro que o chá exalava, sorriu.

— Você ainda lembra.

— O que?

— Que gosto de chá de ervas.

— É, eu lembro. — passei a mão no cabelo ainda bagunçado, cruzei as pernas e bebi o primeiro gole do chá que, mesmo fervendo, ainda era mais frio do que a temperatura interna do meu corpo devida situação.

— Você gosta dela? — perguntou depois de me olhar em silêncio por um longo período de tempo.

— Dela?

— Sarah.

— Ah... sim.

— Como gosta de mim?

— Eu não gos... — me interrompeu.

— Tá, tá. Como gostou.. de mim? — hesitei antes de responder, engoli a seco e, balancei a cabeça em sinal de afirmação. Ela sorriu.

— Bom, eu preciso sair. Será que a gente pode conversar mais tarde? — terminei de beber o chá, levantei da cama e coloquei o copo sobre o criado mudo. Logo a vi levantar e se aproximar um pouco de mim.

— Claro, se cuida. — quando me preparava para alguma investida ou, possível gracinha, ela simplesmente beijou meu rosto educadamente, deu meia volta e, saiu.

Sobre a pergunta? Sim, talvez eu goste sim de Sarah mais do que de Otávia Lira(antígeno 1 — vão entender mais adiante). Mas convenhamos, jamais poderem negar a mim mesmo, durante o período de minha existência, o fato de que primeiros amores nunca podem ser esquecidos.

Como costumo dizer, nosso organismo em geral é suprido de algo chamado memória específica, que se aplica por exemplo nos anticorpos, memorizando os antígenos que entram em contato com o organismo e, as reações que ele provoca no mesmo.

Como sei que provavelmente não entenderam nada, vamos fazer uma correlação com a situação atual.
Para alguém que se apaixonou aos 13 anos de idade pela primeira vez e, lembrando que este alguém sou eu, tendo uma decepção amorosa drástica alguns anos depois, esquecer ou conseguir superar é algo extremamente difícil e o caminho foi, sem dúvidas, muito doloroso.

Assim que conheci Sarah (antígeno 2), inicialmente como bem lembramos, recuei sentimentalmente por não saber exatamente como lidar com o sentimento que, como os antígenos, entrou em contado novamente com meu corpo (ou alma, como preferirem).

Tendo em vista que, a adaptação com antígeno 2, foi rápida e, fascinantemente boa, como irá meu organismo reagir com a volta do antígeno 1? Eis a questão (como diria nosso caro mestre, Shakespeare).

Café, insônia, mistério e... Londres?Onde histórias criam vida. Descubra agora