CAPÍTULO 4

54 3 0
                                    

P.O.V SERENA

Me levantei da cama em silêncio para não acordar o Thiago. Comecei a pegar as minhas roupas e me vesti antes que alguém batesse na porta. Olhei para meu moreno na cama. Seu rosto estava calmo e sereno. Suspirei aliviada. O coitado estava com muitos problemas na cabeça que estão deixando-o louco.

Olhei ao redor. O quarto do Thiago era grande o suficiente para caber as estantes e armários cheios de vídeo games e DVD's de séries e animes. Além de uma caixa de madeira cheia de CD's de eletrônica e rock.

Quem diria que uma garota que ama livros e escrever poemas e poesias iria namorar com um garoto que ama jogos e séries de ficção científica e terror. Os opostos se atraem mesmo.

Saio do seu quarto devagar para não acorda-lo. Eu precisava ligar para a minha mãe e dizer que estava na casa do Thiago. Eu estava digitando no celular que nem percebi que me esbarrei na Hannah.

"Epa, olha só quem está aqui em casa de novo", se eu não a conhece-se bem, acreditaria que o sorrisinho que ela me deu era verdadeiro. Só que eu sabia que não era. "Como você estar, Serena?".

Decidi entrar no jogo dela, como sempre.

"Estou bem, Hannah, obrigada por se preocupar", observei as suas roupas. A mulher estava usando um decote vermelho que parecia que a sufocava, uma saia preta curta - bem curta - e saltos pretos de bico fino. Estava na cara que ela já ia sair, de novo. "Vai aonde, posso saber?".

"Vou me encontrar com algumas amigas, mas não se preocupe, não irei demorar", se virou para o espelho que ficava no corredor e verificou se a maquiagem estava borrada. "Pode apostar que irei voltar cedo para casa".

Se eu apostar, sei que vou ganhar, pensei.

"Mamãe", vi o Henrique sair do seu quarto e correr para a Hannah. "Eu 'queio' 'bincar' com você. Vamos?".

"Oh, meu fofo. Mamãe tem que sair agora, e não dá para eu brincar agora", ela acariciou o cabelo do pequeno e sorriu.

Brincar alguns minutos com seu filho não irá te matar, sua bruxa, pensei com raiva.

"Mas você 'pometeu' que ia 'bincar' comigo hoje", seus olhinhos ficaram iguais a de um filhote de cachorro. Ai meu coração. Eu não aguento isso, Meu Deus.

"Prometi? Acho que esqueci", Hannah inclinou a cabeça.

AGORA JÁ É DEMAIS. Não vou ficar aqui vendo o meu cunhadinho sofrer desse jeito. Não vou mesmo.

"Ainda tem tempo para você brincar só um pouquinho com ele, Hannah", minha voz estava doce e sincera. Seus olhos me encararam como se falasse para que eu não me metesse.

"Infelizmente não dá, Serena querida. Eu preciso mesmo ir", ela se abaixou e deu um beijo na bochecha do Henrique. "Prometo que quando eu tiver tempo, vamos brincar bastante, viu? Enquanto isso, fiquei aqui e obedeça seu irmão", depois de dizer isso, se levantou e foi embora.

MADRALEZA, VADIA, BRUXA, MONSTRA, HORROROSA, SEM CORAÇÃO, FILHA DA...

"Cadê o mano?", a voz do Henrique fez com que eu parasse de xingar a mãe dele e voltasse a realidade.

"Ele está dormindo ainda", me ajoelhei e dei um beijo em sua cabeça. "Que tal nós fizermos um lanche para comer, hein?".

"Eu 'queio'. Pode ter pão com 'pesunto'?".

"O que você quiser. Corrida até a cozinha?", e saio correndo com ele no meu alcanço.

Não posso deixar que ele sofra nas mãos dos pais que tem. Não posso.

*****
P.O.V HANNAH

Finalmente consegui sair daquela casa. Não aguentava mais aquelas criaturas no meu pé. Especialmente o Henrique. Como foi que eu deixei que um acidente desse acontece-se? Quando não me cuidei?

É nessas horas que eu invejo a Serena. Ela não tem esse problema, e se acontece-se o mesmo acidente que aconteceu comigo, com o tempo, ela iria perder a criança e tudo iria voltar ao normal.

Pego um táxi e vou para a casa da minha amiga onde nós sempre nos reunimos. Até parece que eu preciso ouvir o que o fedelho do Thiago diz sobre as minhas saídas. Ele devia era cuidar da própria vida, e não se entrometer na vida dos outros.

Chego no prédio da minha amiga e pago o táxi. De tanto vim aqui, o porteiro já me conhece e sabe para onde eu vou. Entro no elevador e observo se a maquiagem estar borrada. Paro na frente da porta do apartamento e aperto a campainha.

"Han, finalmente você chegou. Só faltava você para a festa começar de verdade", minha amiga Elizabeth abriu a porta e me recebeu com um sorriso. Vestia um vestido verde que era colado no seu corpo, jóias falsas nos braços e no pescoço, impossibilitando de ver sua pele, e saltos verdes altos o suficientes para alcançar o teto. Seus cabelos loiros estavam soltos como se fosse uma cascata de fios de ouro.

"Desculpe o atraso, aquelas crianças me seguraram por um tempo", demos os típicos dois beijinhos na bochecha e segui a anfitriã  até a sala de jogos onde estava nossas outras amigas.

"Criança é um bicho que nunca some", Elizabeth virou a taça de vinho branco de uma vez só. Pegou outra taça e me serviu. "Eles só prestam para continuar o casamento, tirando isso".

"Nem me fale, mulher", Marisa concordou sentada no sofá. Estava com o seu macacão florido, argolas grandes e saltos vermelhos. O que não mudava era sua maquiagem pesada e forte. Seus cabelos morenos e curtos faziam com que ela parece-se um pouco cabisbaixa."É por isso que não tenho filhos, eles só nos trazem problemas".

"Mas a nossa amiga não teve culpa de ter engravidado, não é querida?", Penha perguntou enquanto virava mais uma taça de vinho. Seu casaco vermelho sangue que cobria até acima dos joelhos, a deixava com uma aparência assassina e perigosa. Seus cabelos compridos e negros como um corvo, faziam parecer uma patroa que ninguém iria querer servir. E ela já demitiu mais de cinquenta empregadas em só um ano. "Vocês dois estavam bêbados e irritados com as pessoas que estavam ao seu redor, e só encontraram conforto um com o outro".

"Mais ou menos isso", virei meu vinho e começamos a conversar. Tinha que esquecer meus problemas de casa.

*****
P.O.V THIAGO

Acordo e não encontro a Serena. Olho para o relógio e vejo que já passou das 19:00. Que droga, se continuar a dormir tanto desse jeito, vou ficar chegando tarde na faculdade. Ainda bem que hoje eu não tinha aula, porque senão já estava encrencado.

Saindo do quarto, senti cheiro de comida vindo do primeiro andar. Provavelmente a Serena estava lá. Antes de entrar na cozinha, escuto o Henrique rindo. Entro na cozinha e vejo os dois comendo biscoitos e sanduíches de queijo e presunto com suco. A garota estava de costas para a porta, por isso, não tinha notado a minha presença. Fui na pontas dos pés para não fazer barulho. Olhei para o menino e pedi para que não contasse que eu estava lá. Pena que ele não me escutou.

"O mano quer te assustar, 'Selena'", o menino riu enquanto Serena virava-se para mim e vinha na minha direção me abraçar.

"Obrigado por não contar que estava aqui, moleque", bagunço seu cabelo e sento. Serena me serviu de sanduíche e suco. Comemos nos divertindo muito, mas infelizmente, a minha namorada já tinha que ir embora.

"Sabe como o meu pai é. Não podemos exagerar o meu tempo aqui. E hoje nós ficamos juntos por muito tempo", ela se abaixou e deu beijo estalado na bochecha do Henrique. "Nos vemos outro dia, ok?".

"Tá bom", lhe dei um selinho e ela foi embora.

"Você demorou tanto para 'acoda', que a 'Selena' leu para mim o meu livro todinho".

"Foi mal, pequeno. Mas eu estava muito cansado".

"Cansado de quê? Você não fez nada a tarde toda. Ou fez?"

"Vamos fazer o dever de casa, Henrique? Quero ver se você aprendeu a ler mesmo", mudei de assunto.

Memórias do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora