Memórias do passado

CAPÍTULO 9

P.O.V SERENA

"Calma, calma. Você só vai precisar entrar na sala, fingir que ele não existe o dia todo, e voltar para a casa", falei pela décima vez o mantra que a Yumi pediu para eu recitar.

"Respira, tenta ficar calma. Vai dar tudo certo. Você vai esperar a sua mãe falar com o diretor, contar tudo o que aconteceu, pedir para que ele faça alguma coisa sobre o Diego, e depois esperar que algo aconteça", dava para ver que a Yumi estava quase para dar um tapa na minha cara. Ela só não fez isso, porque sabe que eu iria ficar mais nervosa do que antes.

"Nunca fiquei desse jeito desde que me mudei de cidade", tomei mais um gole da garrafa d'água dela, quase esvaziando toda. "Será que eu vou conseguir aguentar?".

"Sei que vai. Agora vamos, iremos nos atrasar para a aula", seu braço me abraçou pelos ombros antes de me levar até a nossa sala. "Não se  esqueça, vou está lá para te ajudar".

"Valeu", e endireitei a minha postura. Não podia deixar o Diego me ver abalada. Entramos na sala e vi que ele ainda não tinha chegado. Ótimo. Eu teria mais tempo para me preparar. Quando estava faltando apenas dez minutos para o sinal bater, vejo ele chegar na sala. Na verdade, não foi somente eu. Todas as garotas da sala ficaram olhando ele andar até a sua carteira da frente. Como eu queria contar para elas o que ele era de verdade. Diego nunca será um príncipe, e sim o cara da guilhotina, pronto para cortar a sua cabeça.

A aula começou tranquilamente. Comecei a fingir que ele não estava na sala, ou na faculdade, ou na cidade. Comecei a fingir que ele não existia na minha vida. E deu certo, por um tempo, até terminar o horário da terceira aula e perceber que ele estava se levantando da carteira. E vindo na minha direção. Fiquei lendo o meu livro para poder fingir que não vi ele. Senti a Yumi pisar no meu pé discretamente, para me lembrar que ela estava do meu lado.

Ouvi ele sentar na carteira da frente. Não levantei o olhar do livro. O que achei mais estranho, foi que o Diego não falou nada, apenas ficou calado me encarando. Ficamos quase vinte minutos assim, eu lendo livro e ele me encarando. Não levantei o olhar nem um minuto sequer. Me segurei para não olhar para aqueles olhos horríveis. O professor chegou na sala, e mandou todos se sentarem nos seus lugares. Ouvi o riso baixo saindo da boca do Diego, e se levantar para voltar ao seu lugar.

Levantei a cabeça a tempo de vê - lo voltar para a sua carteira. O que houve com ele?

"Esse garoto bateu a cabeça antes de vim para a aula?", Yumi perguntou do meu lado.

Isso não é bom. Ele deve está aprontando alguma coisa.

*****
P.O.V RUAN

Eu estava na sala de aula, quando recebi uma mensagem do meu irmão.

Ela está fingindo que eu não existo, mas ela vai ver só. Kkkkk.

Suspirei após desligar o celular. Diego não sabe que ele pode não se safar, como aconteceu no passado? Com certeza, a Serena deve está preparada e os pais dela já devem ter chamado a polícia ou algo parecido. Sei que não deveria me preocupar com o meu irmão. Na verdade, ele merece sofrer com as consequências. O problema, é que ele é o meu irmão, e eu sei como a nossa família vai ficar se ele se ferrar. Ainda me lembro da minha mãe chorando pelo que aconteceu com a Serena, e até hoje, ela se culpa por não ter educado direito o filho mais velho.

Por não querer que a minha mãe sofresse por mais um filho rebelde e violento, fiz de tudo para ser o "filho perfeito". Não vou dizer que fiquei perfeito. Tiro notas boas, não brigo com ninguém, tenho bons modos, sou carinhoso com todos, aprendi a tocar piano, a pedido de minha mãe. Ou seja, o filho dos sonhos da minha mãe.