CAPÍTULO 10

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P.O.V RUAN

Esperei meu irmão chegar da faculdade. Eu precisava muito que ele tenha conseguido o endereço da casa da Serena ou o número do telefone, que ele já deve ter conseguido ou ainda esta a procura. Eu sei, isso é errado, vou estar colocando mais lenha na fogueira. Mas se eu quiser ajudar a Serena, precisarei passar por isso.

"Ei, Diego", o chamei, mas o desgraçado nem me olhou. Me segurando para não gritar com ele, corri até seu quarto. Quando cheguei, ele estava falando no telefone e mexendo no computador. "Precisamos conversar um pouco...".

"Depois, Ruan. Preciso saber onde a Serena está morando", não disse.

"É isso que eu queria saber", me sentei na cadeira de frente para ele. Meu irmão desviou os olhos da tela do computador para me encarar e enrugar um pouco a testa. "Quer a minha ajuda para conseguir ela de volta?".

"Perai... Você quer me ajudar a ter a Serena de volta?", não sei quem estava mais espantado, eu por ter inventado essa idéia, ou ele por ver que "quero" ajuda - lo a captura - la.

"Sim, irmão".

"Posso saber o motivo de querer virar um ótimo irmão mais novo?", Diego se recostou na cadeira e cruzou os braços. "Você não é assim".

Não sou mesmo. Mas falei o discurso que eu tinha ensaiado.

"Eu quero que você pare de deixar a nossa mãe mais preocupada com as suas atitudes. Que consiga logo o que quer, para poder sair de casa e deixar as nossas vidas. Para acabar logo com essa bagunça toda ", falei em um fôlego só. "E aí, vai aceitar a minha ajuda?".

Ficamos em silêncio durante minutos. Enquanto meu irmão pensava se aceitava a minha proposta, eu ficava olhando para o chão e torcendo com todas as minhas forças para que ele aceitasse e não desconfiasse de nada. Eu estava quase me matando por causa do silêncio, quando escuto o barulho da cadeira arrastar no chão.

"Nunca pensei que veria o dia em que eu iria precisar de sua ajuda", Diego se levantou e foi até o banheiro. "Então, faz o seguinte, tenta ver se ela ainda é amiga da Biatriz e do Cláudio. Se eles ainda se vem, pode ter a possibilidade de eles saberem onde ela mora", e fechou a porta.

Me levantei e sai do quarto. Fui para o meu quarto e me sentei na cama. Eu consegui. Eu consegui convence - lo a aceitar a minha ajuda. Agora, tenho que fazer de tudo para encontrar a Serena, e ajuda - la sem que o Diego perceba.

Isso vai ser difícil.
*****
P.O.V DIEGO

A água quente caia no meu corpo com a intenção de me relaxar. O problema, é que não estava funcionando. Queria muito poder confiar no seu irmão. Queria mesmo, mas minha intuição não deixava. Ruan nunca foi de querer me ajudar. Mesmo com o motivo de vê - lo longe da família, não achava forças para acreditar.

Além de tomar cuidado com o namorado da Serena, vou ter que me preocupar com o meu irmão agora, pensei.

Espero que não tenha nenhum problema com ele, porque senão, ele vai se ferrar junto com o desgraçado que me deu o soco.
*****
P.O.V HANNAH

Minha cabeça não parava de doer. Eu estava cheia de problemas esses dias. Meu chefe ficou pegando no meu pé o dia todo, o Danilo só está chegando tarde em casa, e sempre vai direto para cama. Nunca se senta para conversar e sempre está de mal humor. E o Henrique fica no meu pé o tempo todo. Parece até que ainda está preso no cordão umbilical. Credo, menino grudento. E um dos motivos para minha dor, que é a mais provável, é que eu sai na noite anterior com as minhas amigas para beber. Agora, estou com uma ressaca desgraçada.

"A dor de cabeça está boa, Hannah?", me virei na direção da voz. Thiago estava encostado na porta do meu quarto. Ver aquele menino só fez piorar a minha dor de cabeça. Lá vem ele me perturbar. "Não precisa me olhar desse jeito. Só vim te entregar a correspondência que acabou de chegar", ele jogou os papéis na mesa. Não fiquei surpresa quando no meio das cartas veio algumas contas. "E trouxe um aviso da escolinha do Henrique para você assinar".

Li o papel sobre o passeio da escolinha do Henrique. Com certeza, ele vai querer ir. O problema é que...

"Se você não puder pagar, tudo bem. Eu pago o passeio. Só preciso da sua assinatura", sua mão mexeu no meu porta - lápis e tirou uma caneta para me entregar. "O que foi? Por que está com essa cara?".

"Você vai pagar o passeio do Henrique? Mas com que dinheiro?", perguntei, ainda sem acreditar.

"Com o dinheiro que eu recebo do meu trabalho, esqueceu?", respondeu com uma voz de desdém. É verdade, o Thiago está trabalhando como assistente do pai dele há quase um ano. Por causa das minhas preocupações, esqueço que ele também está naquela empresa maldita. "E aí? Vai assinar ou não? Sabe que se eu esperar para o papai assinar, vai levar um tempão".

Peguei a caneta da mão dele e assinei o papel. Se ele vai pagar, não posso reclamar. Entreguei os papéis para ele, e voltei para as minhas contas. Eu estava tão concentrada nos papéis, que não percebi que ele ainda não tinha ido embora.

"Sei que acha que eu quero o seu mal. Mas a verdade não é essa", o garoto falou como se estivesse fazendo um discurso para alguém importante. Minha cabeça se virou no momento que ele saia e fechava a porta.

Como assim ele não quer o meu mal? Desde quando ele ficou diferente? Tenho que parar de exagerar no trabalho. Estou imaginando coisas.
*****
P.O.V SERENA

"Olá, Terra chamando Serena", escutei o Sven me chamando, enquanto eu fazia a contagem do dinheiro do caixa. Eu estava tão concentrada com os meus problemas, que só depois me toquei que já tinha errado a conta umas seis vezes. "Qual é o seu problema hoje?".

"O mesmo de sempre. Problemas em casa", já estou falando essa desculpa há um tempão. "Desculpa se eu não estou trabalhando direito", peguei minha caneca de café e tomei um grande gole. Precisava acordar para poder fingir que estava tudo bem.

"É bom mesmo, porque se você continuar assim, o chefe vai perceber, e vai sobrar para o seu lado", ele veio até mim, e deu um peteleco na minha testa. Enruguei a minha cara na hora. Ele sabe que odeio quando faz isso. "Só tome cuidado, viu? Não quero que nada aconteça com você. Quem irá cuidar desses papéis todos?", sorriu irônico.

"Vai se fuder, Sven", ri enquanto voltava para as contas.

"Ei, sabe que eu estou brincando, né? Eu te amo", Sven me abraçou com força. Quase quebrou as minhas costelas. Não consegui me segurar, e soltei uma risada. "Essa é a Serena que eu conheço", e me soltou para pegar o meu café, e encheu mais uma vez de café minha caneca e a dele na mesa de marcadores de livros. "Relaxa um pouco essa cabeça, tá? Faz o seguinte, toma o seu café, deixa que eu termine de contar o dinheiro, e vai para o balcão e fique sentada descansando".

"Não posso deixar você fazer isso, Sven".

"Tem certeza?".

"Não, eu estava brincando", e corri com o meu café para o balcão. Quando me virei, meu amigo estava com a sua cara de emburrado que eu acho tão fofo. "Você que deu a idéia".

"Acabei de me arrepender", e foi para a mesinha onde eu estava para contar o dinheiro.

Fechei meus olhos e tomei um grande gole de café. Sven tinha razão, eu tinha que me acalmar. Ficar pensando no Diego estava me deixando louca. Precisava esquecer um pouco dos meus problemas, e focar na minha vida. Após eu decidir isso, escutei o sino da porta tocar. Mas um cliente.

"Seja bem-vind...", minha voz falhou na hora. O tempo pode ter passado, mas eu reconheceria aquelas bochechas rosadas que eu apertava quando éramos crianças.

"Oi, Serena. A quanto tempo não nos vemos", Ruan falou com um sorriso.

E lá se vai a minha chance de relaxar e esquecer o meu passado.

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