CAPÍTULO 8

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P.O.V SERENA

Cheguei na livraria mais cedo do que deveria. Trabalho em uma livraria pequena, a um ano, que fica perto de casa. Entro pelos fundos e troco a minha roupa. Quando saio, encontro o meu amigo Sven abrindo a loja. Ele ainda não tinha me notado ainda, então, andei bem devagar e silenciosamente. Quando fico atrás dele, solto um grito.

"PASSA TUDO, PASSA TUDO", falei com a voz um pouco grossa para enganar. Coloquei o meu dedo na sua costa, para fingir que era uma arma.

"Pela amor de Deus, pode levar tudo, mas não me mata, por favor", suas mãos se levantaram na hora. Ele começou a suar frio, e suas pernas tremeram que nem bambu.

Não consegui me aguentar, soltei uma gargalhada.

"Poxa, Serena. Vai matar outro do coração, vai", sua mão estava no peito, para verificar se estava bem. "Quase que eu tive um treco".

"Desculpa, desculpa, não pude evitar", fui para traz do balcão e comecei a arrumar os papéis que estavam espalhados. "Alguma novidade por aqui?".

"Nada, só você que chegou cedo demais. Isso não é comum de você".

"É que eu queria sair logo de casa, não estava me sentindo bem", não queria contar para ele o verdadeiro motivo da minha pressa. Olhei para os papéis espalhados e os organizei em pilhas. "Que tantos papéis são esses?".

"São para a tarde de leitura das crianças, ainda não tive tempo de arrumar tudo", não adianta, o Sven sempre será um grande amigo, mas sempre será um cabeça oca. "Eu não sabia o que fazer, então decidi te esperar".

"Ainda bem que fez isso", terminei de arrumar tudo e fui para as estantes do fundo, para arrumar os livros que tinham acabado de chegar.

"Mas e aí, você não respondeu a minha pergunta direito", seus olhos me encararam. "Por que você chegou muito cedo hoje?".

Eu sei que não devia mentir para o Sven. Ele foi um amigão desde que começamos a trabalhar juntos. Mas, senti que se eu o contasse, poderia ser pior.

"Aconteceu alguns problemas lá em casa, então, decidi vim mais cedo. Se eu ficasse lá por mais algum tempo, iria ficar louca", coloquei os livros em fileiras em ordem alfabética e alguns por cor - quando se fala de livro, eu sou muito perfeccionista - e depois fui para trás do balcão ver se aparecia algum cliente.

"Nossa, que chato. Espero que você consiga resolver seu problema. Não se esqueça, que eu vou está aqui para te ajudar se precisar".

Se você soubesse o que está sendo a minha vida agora, não diria isso para mim, Sven, pensei. "Claro, obrigada meu amigo".

*****
P.O.V THIAGO

"Mas eu 'queio', eu 'queio'", não conseguia prestar atenção nos meus estudos com o Henrique gritando no andar de baixo. Minha cabeça não estava mais aguentando tanto barulho.

"Eu já falei que não, Henrique", Hannah lhe chamou a atenção. "Não vou te levar para parquinho nenhum. Hoje não".

"Mas você me 'pometeu', disse que ia 'bincar' comigo", dava para ouvir que ele ia começara chorar a qualquer momento. Minhas mãos estavam tremendo, querendo dá na cara da minha sogra.

Se eu não lembro, não prometi, pensei na sua frase favorita, esperando ela dize-la.

"Eu não prometi nada, você deve estar inventando coisa. Se eu não lembro, não fiz", não falei. "Agora, vai para o seu quarto, que eu preciso trabalhar aqui".

Ouvi os passos do meu irmão subindo as escadas e indo para o corredor. Perdi a vontade de estudar na hora.

"Henrique, vem cá", o chamei quando passou pelo o meu quarto. Seus olhinhos estavam vermelhos e seu corpinho ficava tremendo por causa dos soluços. O coloquei no meu colo, e deixei que me abraçasse, enquanto eu murmurava uma música para ele se acalmar. "Não fique assim, sabe que o manão não gostar de ver você triste, né?", enxuguei suas lágrimas e desarrumei seu cabelo.

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