Capítulo 8

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Capítulo 8

Sinto alguém a mexer-se na cama e a pôr-se a pé, abraçando-me forte. Olho para cima e vejo o meu irmao, ele sorri para mim.

- Calma princesa, eu estou aqui. – Encosta-se a porta também, deitando-me no seu peito nu.

- Eu fiz asneiras. - Murmuro chorosa. 

- Conta-me tudo. – Pede, acariciando o meu cabelo.

- Sabes quem é a pessoa que eu culpo pela morte dela?

- Sim, aquele rapaz da banda.

- É ele, Rodrigo. – Choro ainda mais.

- Ele quem? - Pergunta confuso.

- É o Harry. 

- O quê? – Olha-me surpreendido

- É verdade, Rodrigo.

- Quando disseste que fizeste asneiras… Hum… Tu mataste-o chica? - Terror passa pelos seus olhos e eu junto as suas mãos às minhas, tentando acalmá-lo. 

- Já o devia ter feito mas não. Sabes? Eu não consigo. – Eu confesso-lhe. 

- Vou-te dizer uma coisa muito sincera.

- Diz-me!

- Tu já reparaste que desde que o conheceste… Tu não choras, sais do quarto, brincas, riste… Tudo coisas que não fazias antes. Mana, ele só te faz bem, por mais que não queiras admitir, vocês estão a construir uma amizade, é mesmo por isso que não lhe consegues fazer nada. O melhor que te podia ter acontecido foi o teres conhecido.

- Rodrigo, não digas disparates. Ela morreu por causa dele. 

- Tu tens de tirar essa ideia parva da cabeça… Mas que asneira fizeste?

- Nós… Nós… - Falo aos soluços e com medo de proferir aquelas palavras.

- Vocês?

- Beijámo-nos… Eu trai-a, eu não devia ter feito isto. – Escondo a minha cara no seu tronco.

- Como isso aconteceu?

- Eu ia a descer as escadas e cai em cima dele. Nós estavamos tão próximos e acabou por acontecer. Mas acabei por fugir, eu não podia ter feito isto. 

- Calma, isso pode ter sido só do momento… Agora vamos dormir.

- Posso dormir contigo? – Pergunto fazendo beicinho.

- Achas que precisas de perguntar? Lembraste quando eramos mais novos e tu vinhas dar-me um beijinho de boa noite?

- Acabava sempre a dormir aqui. – Sorrio enquanto limpo as lágrimas da minha cara.

O meu irmão levanta-se e dá-me a mão para me ajudar a levantar. Deitamo-nos debaixo dos cobertores e ele aconchega-me.

- Boa noite, mulher da minha vida. - Dá-me um beijo na testa.

- Boa noite, maninho. – Sorrio.

- Nunca deixes que ninguém te roube esse sorriso. 

- Vou tentar.­ - Acabamos por adormecer, os dois abraçados.

Passaram alguns dias, eu e o Harry nunca mais nos falamos desde o que aconteceu entre nós. Hoje é o último dia de Maio e está mesmo muito calor. 

Acordo e visto uma saia com uma camisola, umas sabrinas e uns pequenos acessórios. Como estou bem-disposta, decido ir dar uma volta até um parque.

Vou à cozinha e pego numa maçã. Quando estou prestes a sair de casa, o meu pai chama-me.

- Francisca, preciso de falar contigo.

- Agora vou dar uma volta, volto no final de almoço e falas comigo. - Eu digo enquanto dou uma dentada na maçã vermelha. 

- Está bem, mas não te atrases, é importante.

- Sim, pai. – Dou-lhe um beijinho e ele sorri. 

Saio de casa e coloco os fones, vou sempre a olhar para trás para ver se o meu pai não tinha tido a infeliz ideia de pôr o Harry a seguir-me. Chego a um parque perto de minha casa. Sinto o vento quente batar-me na cara e o ar puro faz-me bem, relaxa-me. As flores abertas e o verde da relva é revigorante e refrescante. Tudo combina com um bom dia de Primavera. Avisto um banco e vou até lá, sentando-me. Desligo a música para poder ouvir o som dos pássaros, mas de repente ouço alguém a chorar, decido seguir o som, pois a criança não pára de berrar sufocada. 

Chego atrás de uma árvore e lá encontro uma bébe deitada sobre uma manta. A carinha levemente vermelha do esforço para chorar, as pernas dela mexem-se de forma irrequieta. O choro acalma mal me vê. Pego naquela miniatura de pessoa tão frágil e carinhosa. Reparo num pedaço de papel arranjado à pressa sobre a manta, abaixo-me para apanhá-lo e começar a ler. 

“Sei que deve estar a achar estranho ter encontrado uma bebé tao pequena sozinha, mas não tive outra hipótese… Tive de a deixar, a minha vida não tem lugar para uma criança, tenho amor pela minha filha, mas iria sofrer se ficasse comigo. Estou metida em confusões graves e quem iria sofrer com isso, serie ela. Por favor tome conta dela, faça a feliz, porque se ela tiver feliz, eu também estarei. Faz hoje 2 meses que ela nasceu, não dá para ficar mais com ela.… Amo-a e por isso a razão de fazer isto. 

31-05-16”

Fico perplexa a olhar para a carta, com lágrimas a espreitar nos meus olhos.  Aquela bébe está agora aos meus cuidados, mas será que eu tenho capacidade para tomar conta de um filho que não é meu? 

Sento-me novamente no banco, olho para ela que já dorme profundamente no meu colo enquanto agarra o meu dedo. Sorrio. Eu não posso abandonar esta bebe num orfanato, ela precisa de carinho e amor, como todos nós. A minha mãe abandonou-me. Sei o que ela está a sofrer. Nunca ninguém conseguirá explicar a dor de ver uma mãe partir, de sentir que não terá ninguém a quem chamar “mamã”. Mas eu tive o meu pai e esta criança não tem ninguém. Está sozinha neste mundo cruel e sinistro.

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I Want You Dead // H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora