IV

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Kiff

As coisas não estavam fáceis, vivo numa época difícil, num período pós-guerra, após o pior conflito de todos os tempos até então.

A Grande Guerra entre os deuses e os feiticeiros, uma guerra sanguinária que se estendeu até depois de seu fim. Quando os deuses pensaram ter vencido, se enganaram, pois antes de todos os feiticeiros morrerem, Annia escolheu centenas de sua raça para secretamente se relacionarem com deuses e guerreiros olimpianos, dando origem a uma nova geração de olíceros.

Quando descobriram, os deuses ficaram loucos e deram início ao hostil período pós-guerra em que vivo, onde milhares de exércitos de olimpianos caçam os pobres e inocentes olíceros.

Eu sou metade humano metade deus, filho de Hefesto. Minha mãe, uma humana, se chamava Willa, sim ela morreu, mas odeio lembrar o passado.

Normalmente os exércitos de Guerreiros Olimpianos deveriam apenas ignorar os semideuses ou caso mostrássemos valor, seriamos ingressados nas falanges e legiões, porém no meu caso as coisas são diferentes. Tenho alguns dons, entre eles, o mais especial chamado clarividência, com essa habilidade eu posso ver muitas coisas, consigo enxergar aquilo que está oculto... Logo vi que os olíceros são inocentes, então resolvi ficar ao lado deles e lutar para salvar aquela raça, tão pura e imaculada, eles não tem culpa de serem regidos por uma maldição.

Uma vez em Delfos, a cidade onde eu morava, surgiram três olíceros. Foi lá que eu escolhi ficar ao lado deles, juntos lutamos pra proteger os outros de sua raça.

Depois de cinco anos, fugindo de exércitos e salvando outros olíceros, nós nos tornamos grandes amigos.

Seus nomes eram Victória, Seymon e Nihara, respectivamente filhos dos deuses Ares, Hécate e Quione, com algum nobre feiticeiro que provavelmente morreu durante a guerra.

Passamos o dia inteiro fugindo de guerreiros olimpianos, agora havíamos nos escondido numa floresta obscura e sombria, paramos aqui para passar a noite e descansar. Havia uma névoa que se estendia do chão até os joelhos, com a ajuda de Seymon, conseguimos dissipá-la ao nosso redor.

Montamos uma fogueira e ascendemos o fogo. Havíamos roubado um pouco de comida, não para olíceros, eles não precisavam, mas para mim, sendo metade humano precisava me alimentar.

Além disso, conseguimos capturar um jovem que aparentava ter 25 anos, ele nos seguia há quase uma semana, era pálido, magro, tinha uma espada negra com cristais roxos encrustados e luvas de metal das trevas, com correntes negras fundidas que podiam retirar a alma do corpo. Ele não dizia palavra alguma, apenas possuía um olhar sínico e medonho.

Arrisquei dividir um pouco de comida com ele.

— Não o alimente! Ele não merece. — disse Seymon, com um pouco de receio em relação ao nosso prisioneiro. — Não vai ganhar nada enquanto não dizer quem é e pra quem trabalha.

O garoto deu uma risada silenciosa e medonha.

— Está para nascer alguém que dê ordens!

Confesso que estava com medo daquele garoto, ele era sombrio e em seus olhos conseguia ver o sofrimento de outras pessoas, estas que já morreram há muito.

— O deixem de lado. Temos um assunto mais importante a tratar. — disse Victória séria como sempre.

Sua pele clara, seus lindos olhos cintilavam verdes como esmeraldas. Os longos cabelos eram de um vermelho vivo, ela vestia uma calça de couro marrom, seu abdome ficava á mostra, um top tapava seus seios e era coberto por uma jaqueta de couro, também marrom. Em seu pescoço tinha um colar com uma pedra e pena verde. Carregava nas costas a aljava de metal e em sua mão direita um arco, com lâminas embutidas.

— Refere-se ao Ômega? — perguntei.

— Exato!

— A primeira parte da profecia disse que ele era um olimpiano caído. Como isso é possível? Os olimpianos não são olíceros. — Nihara, estava tão confusa quanto eu.

Ela era branca, praticamente albina, exceto pelos olhos que eram azuis num tom claríssimo. O cabelo branco como a neve, ela vestia uma calça de couro escura e colada, usava um top branco para tapar os seios e tinha em seu pescoço um colar com um pequeno cristal de gelo. Por cima do top, cobria-se com um jaleco de couro escuro, sem mangas, porém com touca.

— A única coisa que a profecia deixa claro, é que o Ômega é o último olícero, o último a nascer. — Comentou Seymon.

Ele tecnicamente era o nosso líder, justamente por ser o mais velho e responsável. Seus olhos âmbar combinavam com a pele morena. O cabelo cortado num tamanho médio e raspado dos lados o deixava maneiro. Ele vestia uma calça de couro claro, botas pretas e uma regata.

— Até agora eu não entendi, a profecia é dividida em partes. Como? — era isso que me deixava confuso.

— Eu também não entendo nada. — confessou Nihara, sua expressão de confusa tornava-a fofinha. — Acho até melhor esquecermos isso, apenas procurar o Ômega, ele pode salvar todos nós, o último olícero, o escolhido para trazer paz ou caos para o mundo.

Nihara tinha esperança até mesmo na pior das situações, eu a admirava exatamente por essa característica.

Há algumas noites, o misterioso Espírito do Oráculo nos visitara dizendo que o destino do universo estava prestes a mudar e que havia uma profecia extremamente importante, chamada de Profecia das Eras. Porém o espírito afirmou que a profecia era dividida em quatro partes, a primeira pertencia aos olíceros e que nosso grupo foi o escolhido para guarda-la. Eram apenas três versos enigmáticos, mas que revelavam um futuro próximo.

De repente as coisas pioraram, ou não. As únicas coisas que vi foram nuvens se abrindo num vórtice dimensional e um feixe de luz dourada que se estendia do céu ao chão. Quando o feixe desapareceu, avistei alguém caindo do céu em alta velocidade, deveria ter caído há um quilômetro de onde estávamos.

— Viram aquilo?! — gritou Victória, apavorada.

— Com certeza. — respondeu Nihara.

— Victória e Nihara, fiquem aqui com o prisioneiro... Kiff e eu vamos ver o que foi aquilo. — Seymon beijou Victória, sua namorada.

— Voltaremos em breve! — disse a elas. — Tomara que aquilo seja o olimpiano caído.

— Boa sorte, garotos. — desejou Nihara, esperançosa.

Seymon e eu corremos com rapidez, se realmente aquele fosse o olimpiano caído... Talvez as coisas pudessem se tornar melhores.

— De pressa, Kiff! — Seymon estava um pouco à minha frente, nada de mais, porém insistia em chegar o mais rápido possível até o local da queda.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora