II

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Rádiuzz

Caí novamente no chão, desta vez com maxilar ardendo de dor. Agenor jogou Hédjazz ao meu lado e me olhou como se quisesse dizer: Está esperando o que moleque? Seu fraco.

Aquilo realmente não era legal, eu me sentia constrangido, o medo e raiva estavam tomando conta de mim.

Ao me levantar, senti que meu coração pulsava muito mais forte, algo dentro de mim que estava adormecido pareceu acordar e lutava para sair. Nunca senti aquele incomodo, era como se meu verdadeiro ser sempre houvesse ficado preso, até o momento em que eu levei uma surra, numa batalha contra um grande Guerreiro, com milhões de olimpianos me assistindo e rindo da minha cara.

Senti dificuldade em respirar, mas notei que uma coisa havia mudado, minhas pernas pararam de tremer, estavam firmes.

— Isso mesmo garoto... — Agenor, O Guerreiro Destruidor me olhava com prazer. — Libere a raiva que está dentro de você, mostre-me o seu poder, prove ser digno para treinar com os deuses.

As palavras dele pareciam influenciar algo dentro de mim, será meu verdadeiro ser? Passei toda a minha infância sendo mimado e tratado como o centro das atenções, O principezinho do Olimpo, e nunca gostei daquilo. As lutas, a ação, me atraiam, mas ao mesmo tempo eu era bondoso e justo.

Eu não havia notado, mas desde que me levantei, meus olhos castanhos estavam fixos em Agenor, eu não pisquei em momento algum.

— Deixe o fogo do poder consumir a sua alma... Sei que você tem potencial, chegou a hora de despertar o seu verdadeiro ser.

— Mas o que eu sou?

— Disso eu não sei criança... Mas seus poderes são interessantes... ­— de repente a expressão dele mudou de ansioso para nervoso. — Surpreenda-me!

Ele se moveu numa velocidade tão incrível que meus olhos naquele momento não puderam captar. Só pude vê-lo a minha frente, então recebi talvez o maior chute de toda a minha vida que estaria por vir. A força foi tamanha, que fui jogado do cento da arena até a borda, bati a cabeça no muro que separava a arena das primeiras arquibancadas.

Aquilo foi a chave, que abriu o último cadeado que prendia a coisa dentro de mim, o meu verdadeiro ser.

Tudo ao meu redor pareceu ficar lento, minha visão se tornou turva, e o ar fugiu de meus pulmões. Mas logo em seguida as coisas pareceram mudar, a insuportável dor na minha cabeça sumiu. A falta de ar causada pelo chute cessou-se e de repente eu ouvi Agenor me humilhar diante da plateia.

— Não pode me derrotar, criança tola, eu sou Agenor, o Guerreiro Destruidor, ungido por Ares, o deus da guerra. Você é fraco, inútil, não vale nada, como pode ser um filho de Zeus? É um verme diante de mim!

Isso era a gota d'água, ele me humilhava e ao mesmo tempo se exibia diante de todos. De relance olhei lá no alto, no camarote dos deuses, meu pai, Atena, Hera e Ares, me observavam á espera que eu fizesse algo.

Senti um leve formigamento nos olhos e os pelos de meu corpo se arrepiaram dos pés a cabeça. Então Agenor parou, ele pareceu sentir algo e olhou diretamente em minha direção.

— Seus olhos ficaram azuis?! — disse ele impressionado. — Isso mesmo garoto, deixe o poder tomar conta de seu corpo.

As palavras de Agenor ecoavam em minha mente, porém nada mais me importava se não humilhá-lo na frente de todos. Pagar com a mesma moeda.

Minha visão era fixa nos olhos do Guerreiro Destruidor, eu sentia tanta raiva que por um instante Agenor recuou, dando um passo para trás. Passei a caminhar em sua direção, o encarando furioso.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora