XXXI

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Kiff

Guiei os olíceros até a saída. Paramos na grande sacada de gelo. Os trigêmeos alados escolheram seus passageiros, os outros montaram os grifos. O de bico quebrado estava sozinho, aproximei-me dele e o montei.

— Vamos lá garoto, segure-se firme. — falou o grifo. — Estou um pouco enferrujado por conta da velhice, mas ainda voo muito bem, haha!

Bico Quebrado abriu suas asas e alçou aos ares. Seguimos para o sul, em direção à Delfos. Os sobreviventes das masmorras gritaram de alegria, comemorando a fuga.

Então a olícero de longos cabelos castanhos cacheados e olhos magenta aproximou-se de mim, voando em seu grifo.

— Obrigada! — sua voz era incrível, fazia-me lembrar de coisas boas.

— Não tem de que.

— Qual o seu nome? — ela perguntou.

— Kiff. — respondi. — E você, como se chama?

— Hílary. — seu nome era lindo. — Ah. E será que eu poderia saber para onde estamos indo?

— Claro! — ela me deixava sem jeito. — Estamos indo... Para... Para Delfos.

Hílary assustou-se.

— Está nos levando para um lugar tão perigoso quanto às masmorras!

— Não. Calma. — tentei explicar. — Delfos não é mais como antes... Nós atacamos e tomamos a cidade.

— Nós? — questionou Hílary. — Está se referindo a você e seu amigo que ficou nas masmorras?

— Rádiuzz? Sim... Ele também. — respondi. — Mas existe mais de nós, Victória, Seymon, Eydan... — um vago silêncio se alojou sobre mim quando pensei em dizer o nome de Jhon, que havia se tornado um grande amigo, mas nos traiu. — Somos como uma família!

— Quer dizer que vocês lutam e salvam nossa raça? — Hílary abriu um sorriso. — Como heróis!

— Pode-se dizer que sim... — sorri para ela, coçando a nuca. — Somos praticamente os mocinhos!

— Que bom. — afirmou Hílary. — Me sinto mais segura agora.

Passamos o resto do voo conversando, todos estavam muito felizes por terem sido salvos por mim e Rádiuzz. Hílary parecia ser uma olícero muito legal.

Contei a ela sobre todas as nossas aventuras, desde o dia em que conheci Seymon, Victória e Nihara. Disse a ela sobre a profecia, falei de Rádiuzz e o motivo de invadirmos as Masmorras, contei tudo que incidiu até o momento em que a salvamos. Expliquei que Nihara era o motivo de todos eles serem salvos.

Naquele instante senti algo de ruim em meu peito, como se alguém muito especial houvesse morrido, por um breve momento suspeitei de que fosse Nihara.

Fiquei em silêncio depois daquela sensação estranha. Horas depois, já nos aproximávamos de Delfos.

Fogo ardia por vários cantos da cidade e fumaças alçavam para o céu, porém tudo se mantinha deserta, quase sem nenhum movimento.

Planamos lentamente, até a cidade. Quanto mais me aproximava mais sentia o ar carregado, uma força poderosa que começara me dominar e logo meus medos vieram à tona. A vontade era de dar meia volta e fugir dali.

Os Grifos tentaram recuar.

— Esse lugar não é bom. — disse uma voz de grifo fêmea.

— Pessoal, mantenham a calma. — pedi. — Está tudo bem.

Os Grifos aterrissaram distantes da praça central, próximos de casas destruídas.

— Não vamos ficar aqui. — disse o Grifo mais velho. — Sinto coisas ruins.

Os olíceros desmontaram e os Grifos voaram para longe, livres. Eram tão grosseiros que nem se quer se despediram.

Andamos pelos becos escuros da cidade, conforme nos aproximávamos da praça central, o ar ficava mais carregado, os olíceros assim como eu, também estavam sentindo medo, mas precisávamos encontrar os outros.

Então centenas de Daemons nos pegaram de surpresa, fomos levados para a praça central e jogados próximos de Eydan, Victória e Seymon.

Pairando em cima de uma nuvem negra estava Phobos, o deus do medo, e ao seu lado minha irmã, Caterina, o oráculo de Delfos. Uma mordaça a apertava, tapando sua boca.

— Ora veja só! — protestou o deus sarcasticamente. — Salvaram mais olíceros.

O sorriso falso do deus mudou quando ele não encontrou Rádiuzz entre nós.

— Onde está o Ômega? — sua voz tornou-se assombrosa.

Os pelos de meu corpo arrepiaram-se quando o deus levitou de sua nuvem até mim, levantou-me pelo pescoço. Sua aura negra tomou conta de mim, senti uma fonte vontade de tapar os olhos, sair correndo e até mesmo me matar por conta do medo.

— Eu não aguardei todo esse tempo para que Rádiuzz mostrasse ser um covarde! — o deus gritou, protestando. — Onde ele está?

Minha voz quase não saiu, mas reuni forças para respondê-lo.

— Ele está a caminho!

O deus pareceu aceitar a resposta, desapareceu e ressurgiu ao lado de Caterina, sob a nuvem negra.

— Ótimo... Vou esperar mais um pouco. Se demorar muito, eu matarei todos.

Aguardamos alguns minutos, até que Rádiuzz surgiu no horizonte, voando em seu dragão, conforme nos aproximávamos, pude notar que alguém estava com ele. Meu coração encheu-se de esperanças, ele conseguiu salvar Nihara!

— Finalmente... — murmurou Phobos.

Rádiuzz aterrissou, tocou na couraça de seu dragão, então sem mesmo recitar o feitiço, Violet desapareceu. Ao seu lado estava Jhon, o traidor. Mas o que ele estava fazendo com Rádiuzz? Onde estava Nihara?

A expressão dele era horrenda, a fúria dominava sua mente.

— Phobos. — o Ômega gritou, sua voz estrondou por todos os cantos assim como um trovão. — Vou derramar o seu sangue nesta terra, em nome de Nihara!

— Veremos... — Phobos abriu o sorriso e surgiu no chão. — Lute comigo! Olícero.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora