XXXVII

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Rádiuzz

Minha última lembrança foi quando Phobos me mordeu e eu o atingi com um raio. Após isso, meu corpo pesou e aos poucos as vistas se escureceram, então perdi a consciência.

Acordei num lugar estranho, o chão parecia se feito de jade, a neblina um pouco esverdeada.

Levantei-me e observei o local ao meu redor. Não havia absolutamente nada. Eu estava num imenso horizonte, onde o chão era jade, com uma forte neblina esverdeada. O lugar parecia ser uma planície infinita.

Caminhei até enjoar, comecei a correr, porém não chegava a lugar algum. Não fazia a mínima ideia de onde eu estava. Talvez fosse um futuro próximo. Corri um pouco mais, de repente enormes construções surgiram em meio à neblina. Seis altares gigantes, medindo mais de dez metros.

Olhando do chão de jade, me senti um simples inseto. Talvez aqueles altares pertencessem a seres de grande poder e compostura.

Continuei andando, porém o chão de jade desapareceu e eu me vi caindo em alta velocidade. A queda durou tanto tempo que pensei que estivesse caindo novamente do Olimpo, mas não, fui levado para outro lugar, um local que jamais gostaria de retornar.

Cai num chão branco, porém sujo de sangue. O impacto foi tão forte, que rachadoras fizeram-se no chão, porém meus ossos não se quebraram, permaneci intacto.

A queda havia me levado para o Salão dos Sacrifícios, então avistei Nihara, levantando-se do poço do centro. Suas roupas estavam todas esfarrapadas, o cabelo chamuscado e vários ferimentos sangravam. Ela não estava se curando, porém lutava pela vida, tentando se levantar do chão.

— Nihara! — gritei enquanto corria até ela.

Abracei-a com cautela para não machuca-la. Estávamos na beira do poço. Logo uma força nos puxou para dentro e caímos abraçados.

— Rádiuzz... — ela conseguiu dizer, chorando. — Me ajude!

Nihara elevou sua cabeça, então levei um susto, não tinha mais os olhos, apenas órbitas oculares sangrando. De repente o rosto de Nihara mudou, seus dentes tornaram-se pontudos e afiados, a pele tornou-se cinza e a boca dela se abriu macabramente como a de um monstro faminto.

A criatura nefasta deu risadas.

— Agora você vai morrer. — afirmou o monstro, sua voz era gutural e assustadora.

Nihara havia se tronado algo demoníaco. Os cinco dedos se fundiram, formando apenas três, as unhas caíram, dando lugar a grandes garras que perfuraram meus braços, tentei irradiar energia, mas não adiantou, o monstro passou sua enorme língua que se esticava em meu rosto, deixando uma baba ácida. A enorme boca se aproximou de minha cabeça para devorar-me, porém foi impedida, pois caímos na lava fervente.

Minha visão escureceu comecei a desconfiar de que talvez eu estivesse em um pesadelo e não era legal, pois tudo parecia ser muito real.

Surgi num calabouço. Típicas paredes de tijolos, nenhuma janela, tudo iluminado por tochas. Só pude ver um Guerreiro fechando minha cela com enormes correntes de Ouro Olimpiano e um cadeado anelar, com senhas.

Resolvi interagir com meu pesadelo realista.

— Ei! — chamei a atenção do guerreiro. — Por que estou preso?

— Vai apodrecer aí. — disse o guerreiro, vestido com seu peitoral dourado, empunhando sua espada. — Você precisa ficar preso aqui para sempre, não pode sair, o rei me ordenou que você devesse ser contido até que o tempo acabe.

— Do que está falando? — indaguei.

— Precisamos acabar com seus planos. — a voz do guerreiro mudou e seus olhos brilharam dourados, quem falava devia ser um homem jovem. — Vamos lhe matar dentro de sua própria mente.

— O que?! — indaguei. — Quem é você, mais um deus?

— Eu e meu pai somos seus próximos oponentes, Ômega.

Os olhos do guerreiro explodiram, deixando apenas órbitas oculares sangrando, sua pele tornou-se cinza e a boca rasgou-se monstruosamente.

Empunhando a espada o guerreiro respondeu.

— Agora você vai morrer! — então o monstro produziu um som amedrontável.

Todos os outros prisioneiros do calabouço também se transformaram nas criaturas demoníacas de olhos explodidos.

Passei a mão em meu bolso, procurando Rav Asimí, mas a dracma não estava lá. Tentei evocar um raio, mas nada aconteceu. De repente a cela onde estava ardeu em chamas e meu corpo foi carbonizado, gritei e agonizei-me de dor.

Em seguida acordei caído no chão sombrio de um lugar tenebroso, o céu era verde e as nuvens negras, ventava muito. Levantei, e de repente uma flecha assoviou em meu ouvido, outra passou de raspão em braço, rasgando a camisa e também minha pele.

Dei meia volta para avistar o que era. Correndo em minha direção havia centenas dos mesmos monstros cinzentos, com dentes e garras afiadas, uma enorme boca e órbitas oculares ocas, sangrando. As criaturas brandiam espadas, preparavam arcos com flechas, lanças e várias outras armas, todas clamando por sangue, mas não qualquer sangue, o meu.

Corri tentando fugir, porém as criaturas eram rápidas, se moviam como cavalos. Achei melhor não olhar para trás, mas ainda assim, podia notar que várias flechas não me atingiam por um tris.

Gostaria muito de ter Rav Asimí ou usar meus poderes, mas nenhum destes bônus estava incluído naquele jogo, onde o campeão seria aquele que me matasse.

Não sabia o que fazer, apenas corria, até que tropecei numa pedra e cai, ralando os braços e o rosto.

As criaturas se aproximaram e me cercaram. Uma delas, a maior, com quatro braços e asas de morcego cinza, me agarrou pelo pescoço, elevou-me até sua boca gigantesca e lambeu meu rosto com suas duas línguas esperas, saboreando-me antes de eu ser comido. O muco produzido pela língua queimava minha pele, como se fosse ácido.

No fim, fui salvo por alguém. Uma flecha perfurou a criatura que me agarrava. Uma luz emitiu do ferimento, abrindo raízes luminosas que percorreram por todo seu corpo, e logo o monstro virou um pó brilhante e reluzente, quase como se fosse vestígios de uma estrela.

Caí no chão, então avistei um nobre guerreiro no alto de um planalto, que minutos antes não existia. O bélico saltou e correu até mim, a cada passo ele percorria cinco metros.

As criaturas demoníacas tentaram me atacar, porém o guerreiro sacou sua espada e desenhou um arco horizontal e uma espécie de feixe de luz cortou milhares dos monstros, dissolvendo-os em cinzas reluzentes pelo ar. Até que no fim não sobrou mais nada.

O nobre guerreiro caminhou até mim. Mais de perto pude notar que era uma mulher, sua pele pálida e clara me fez lembrar a lua, seus cabelos negros como a noite balançavam epicamente com o vendo do lugar onde estávamos. Os olhos cor de terra lembravam os meus. A guerreira tapava seu rosto com um pano, como se fosse uma ninja.

Ela fincou a espada com a lâmina branca no chão.

— Nossa! — disse a ela, surpreso. — Obrigado por me salvar... Quem é você?

A nobre guerreira nada disse, apenas caminhou até mim e tocou em minha testa. Senti meu corpo pesar cada vez mais, logo cai ao chão, minhas pálpebras se fecharam e minha mente calou-se, então dormi.

Sem explicações uma mulher surge em meu pesadelo e me salva, quem era ela? Porque estava lá? Será que era real ou apenas fruto de minha mente. Eu não sabia o que estava acontecendo.

Todos que conhecia haviam desaparecido. Aquilo que estava acontecendo era muito real para ser um pesadelo, eu estava muito confuso.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora