XXII

83 9 0
                                    

Kiff

Meu pesadelo estava prestes a se iniciar, Delfos. Eu precisava enfrentar a situação e esquecer o passado, mas a morte de minha mãe marcou muito minha infância, agora eu estava voltando para o ninho de onde minha história começou.

Poucos minutos depois de montar nossa estratégia, já era noite, tomamos nossas posições, formamos os grupos. Rádiuzz e Nihara entrariam ao meu lado, pelos túneis secretos. Seymon, Victória e Eydan, eram do segundo grupo, que atacaria a cidade para atrair toda a atenção dos soldados.

— O grupo de vocês vai primeiro! — ordenou Eydan. — Minutos depois começaremos o ataque.

— Certo. — concordou Rádiuzz. — Agora vamos.

— O túnel fica lá em baixo. — alertei. — Antes do lago repleto de crocodilos.

— Kiff... — Eydan dirigiu-se até mim. — Consegue forjar um anel pra mim, agora?

— Claro! — fechei minha mão, um brilho amarelado se fez dentro dela, quando a abri, havia um anel. — Aqui está.

Eydan o pegou, tocou com o dedo e o anel logo se escureceu, ficando negro.

— Use isto e eu saberei exatamente onde vocês estarão.

Ele me entregou o anel e o coloquei em meu dedo.

— Estão prontos? — perguntou Rádiuzz.

Nihara e eu demos sinal positivo, então um pequeno cristal de energia cor violeta se fez na mão de Rádiuzz, ele a jogou a sua frente e a esfera explodiu, logo um portal dimensional se abriu.

Nihara o atravessou, depois Rádiuzz, em seguida Eu. Surgi num campo gramado, à minha frente estava um imenso lago, do outro lado da margem situavam-se os gigantescos muros da cidade.

— Por aqui! — guiei Rádiuzz e Nihara.

Havia muito tempo que não estivera na entrada daquele túnel secreto, mas me lembro como se fosse ontem. Atrás de uma pequena cachoeira, dentro da floresta que se estendia sob a serra formada pelas montanhas.

— Rápido, não podemos perder tempo. — corríamos o mais rápido possível.

Então chegamos! O local não havia mudado nada desde os últimos cinco anos, exceto pela vegetação ao redor. Depois de passar dois meses no subterrâneo, sofrendo por conta de uma terrível dor, andei até o fim do túnel e segui para Delfos por fora, até que encontrei Seymon, Nihara e Victória.

— Temos que mergulhar no rio. — avisei. — Fica atrás daquela cachoeira.

— Pois bem. — concordou Rádiuzz. — Vamos!

Saltamos na água, por conta da pouca claridade, era difícil enxergar. Mergulhamos em direção à cachoeira, do outro lado havia um túnel emergido por água, era necessário prender a respiração por um tempo, até chegar à superfície. Saímos numa gruta, sombria, apenas com o som do gotejar de pingos que caíam no chão calcário.

— Alguém tem luz? — perguntei.

Para mim era fácil, conseguia enxergar no escuro através da clarividência, mas isso não adiantaria afinal, Rádiuzz e Nihara também precisavam de visão.

— Eu posso fazer luz. — propôs Rádiuzz.

Então uma pequena esfera de energia luminosa surgiu em sua mão. A luz era tão forte que irradia calor.

— Onde aprendeu a fazer isso? — perguntei impressionado.

— Energia! — alegou Rádiuzz. — Chamo isso de Micro Estrela.

Seguimos pela gruta até alcançarmos um túnel de terra, caminhamos, fazendo curvas e mais curvas, andando por aqueles cantos, lembrei-me do passado.

***

Em Delfos não existe rei, embora haja um castelo. Existe apenas a rainha, que é o oráculo. O oráculo por sua vez devia ser uma mulher virgem, portadora do Espirito de Delfos. Quando a rainha decide que seu fim está próximo, ela perde sua virgindade, gerando assim um herdeiro. Quando a filha de um oráculo nasce, o Espirito de Delfos migra para a criança. E pouco tempo depois, a antiga rainha morre.

Minha mãe Willa, era a rainha de Delfos, um dia relacionou-se com um homem e então nasceu Caterina, o novo oráculo. Willa deveria ter morrido, mas não morreu. Anos passaram-se, então Hefesto se apaixonou por ela e logo eu nasci, porém só depois de cinco anos, minha mãe foi encontrada morta.

Caterina me cuidou, cresci, carregando por todos os cantos um baú mágico, fui perseguido por ladrões e até mesmo por deuses, porém, no fim de tudo acabei passando dois meses debaixo da cidade naquele túnel, gemendo por conta de uma dor incondicional, causada pela fusão de meu corpo com uma dimensão magica.

***

— Kiff! — Rádiuzz me cutucava. — Kiff! Responde.

— Estou aqui! — parecia que havia acabado de acordar. — O que aconteceu?

— Que caminho nós temos de tomar? — perguntou Nihara.

Logo percebi que a nossa frente encontrava-se três portais, levando para lugares distintos, tuneis diferentes.

— O portal do meio. — afirmei. — Tenho certeza.

Entramos no túnel do meio, seguimos mais adiante, de repente um imenso tremor se fez acima de nossas cabeças, talvez na superfície.

— O que foi isso?! — perguntou Nihara assustada.

Logo outro tremor abalou o túnel e grãos de terra caíram em nós.

— São os outros... — Rádiuzz avisou. — Começaram o ataque!

— Temos que nos apressar. — avisei.

Corremos o mais rápido possível, a nossa frente só havia escuridão, que no mesmo instante se desfazia por conta da esfera de luz que Rádiuzz possuía em mãos.

Corremos, muito! Era difícil respirar ali, pois havia pouco ar. Logo encontramos escadas, então recordei minhas memórias.

— É o fim do túnel. — afirmei contente enquanto subíamos as escadas.

No topo havia uma porta de aço, com uma imensa engenhoca, era o cadeado.

— E agora? — perguntou Rádiuzz impaciente.

— Estou procurando. — avisei.

— Procurando o que?

— A chave.

— Por acaso ela se parece com um circulo com três pontas saindo? — palpitou Nihara?

— Sim é isso mesmo! — afirmei. — Onde está?

— Lá em cima!

Nihara apontou para o teto e lá estava grudada a chave.

— Deixem comigo. — declarou Rádiuzz.

Ele apontou sua mão e a chave pareceu se jogar até ela, e pairou em sua palma.

— Como faz isso? — perguntei.

— Eydan ensinou. — disse Rádiuzz. — É eletromagnetismo!

Peguei a chave e a encaixei num relevo idêntico a ela, então a girei, o cadeado se abriu, eu e Rádiuzz empurramos a porta com um pouco de esforço e ela e se abriu.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora