XV

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Kiff

Eu só havia sofrido tanto em minha vida, quando tinha dez anos, pensando naquilo, acabei transportando minha mente para o passado.

***

Em meus cinco anos de idade, Willa, minha mãe foi encontrada morta, messes depois, meu pai, Hefesto surgiu em Delfos a minha procura, ele presenteou-me com um pequeno baú mágico, aberto apenas por minhas mãos.

Do lado de dentro havia uma dimensão criada por meu próprio pai, a mesma funcionava como uma espécie de forja e depósito de armas e qualquer outra coisa. Bastava apenas colocar minhas mãos lá dentro, imaginar e criar.

O tempo foi passando e os boatos sobre o baú foram aumentando, Delfos foi invadida dezenas de vezes por ladrões e Guerreiros Olimpianos. Mas eu sempre encontrava uma maneira de me esconder.

Aos dez anos, as coisas já passavam dos limites, logo meu lar tornou-se alvo dos deuses, por minha causa. Delfos foi tomada pelos olimpianos, os deuses levantaram montanhas ao redor da cidade e a vedaram com um enorme muro.

Centenas de tropas tomaram a cidade, ficou difícil até mesmo para os olíceros que passavam ali por perto, todos eram capturados.

Naquele dia me escondi no subterrâneo da cidade carregando meu baú. Então tomei uma decisão. Eu nunca havia aceitado o fato de ele ser meu pai, mas usei todas as minhas habilidades como filho de Hefesto, para fazer uma de minhas maiores artimanhas.

Consegui fundir, meu próprio corpo com aquela dimensão mágica criada por Hefesto.

Aquela foi e será a maior dor que eu senti durante toda a vida. Era horrível, me agonizei naqueles tuneis subterrâneos durante dois meses. Meu corpo brilhava amarelo e eu não conseguia me levantar do chão.

Conforme me contorcia de dor, lâminas brotavam de todas as partes de meu corpo, algumas se lançavam com tanta força que fincavam nas paredes.

De alguma maneira meu organismo se manteve intacto, não sentia fome e nem sede, porém uma dor tão agonizante que talvez pudesse se igualar a mil vezes o parto de uma mulher, tomou conta de mim.

Foi um imenso sacrifício que precisou ser feito, pois se aquele baú caísse em mãos erradas, o pior aconteceria, um exército de olimpianos cujas munições eram infinitas.

Quando a dor sessou-se, ainda cambaleando segui para fora dos tuneis, em direção à superfície.

Uma leve dor de cabeça ainda deixava minha visão turva, mas caminhando pelos becos da cidade avistei pela primeira vez, Seymon, Nihara e Victória, sendo arrastados por Guerreiros Olimpianos, foi naquele dia em que decidi me juntar a eles.

Mas o que mais me marcou havia sido a imensa dor, o grande sofrimento que eu senti. Tudo isso para proteger as raças de uma relíquia especial, aquele maldito baú.

Deuses, humanos, ladrões, todos cobiçavam uma simples caixa que detinha uma dimensão mística e infinita, simplesmente para benefício próprio, para usarem como vantagem em guerras ou conflitos, então para o bem de todos, eu dei um fim naquilo, fundindo a dimensão dentro daquele baú em meu próprio corpo.

***

Passar quatro dias, com fome e sede num deserto extremamente quente, fez-me lembrar do meu passado. Aquilo era o segundo maior sofrimento da minha vida, pois nada podia se igualar a dor que eu senti há cinco anos.

A tempestade de areia havia se dissipado durante a noite. No início da manhã nosso campo de força estava coberto pela metade, Victória o desfez e uma pequena avalanche de areia veio em nossa direção, porém não era perigosa.

Subimos os morros de areia que haviam se formado durante a noite. Aos escalarmos, tivemos uma surpresa e tanto. Talvez se eu fosse mais fraco, poderia ter morrido do coração.

Há dez metros de nós, havia uma imensa floresta, com árvores que alcançavam até trinta metros de altura. Mata adentro a terra era fértil, podíamos sentir a brisa fresca e úmida vinda de lá que tocava minha pele sofrida pelo calor do deserto.

Porém a floresta possuía uma pequena diferença de todas que já conhecia, era simetricamente redonda, formava um circulo imenso de quase setenta quilômetros de diâmetro. Parecia ser mágica, algo me dizia que se não entrássemos rapidamente ela poderia desaparecer.

— Isso está me parecendo muito estranho! — avisou Victória. — É melhor ter cuidado.

Então todos olharam para Rádiuzz, nosso líder nas horas mais duvidosas.

— Por que estão todos olhando pra mim? — ele perguntou.

— Você é o Ômega, se você entrar, nós te seguimos. — afirmou Seymon.

— Está bem! — Rádiuzz pegou a dracma de prata em seu bolso, irradiou energia e a moeda se transformou numa linda espada, totalmente feita de prata olimpiana. — Nós vamos entrar, mas estejam preparados para qualquer perigo.

— Agora está falando minha língua. — Jhon abriu um imenso sorriso e sacou sua espada feita de metal das trevas com cristais roxos encrustados.

Victória sacou seu arco e preparou uma flecha, Nihara estendeu sua mão e um cajado de gelo se formou. Seymon sacou suas adagas e eu enfiei mão em meu peito e retirei um arco.

— Vamos entrar! — ordenou Rádiuzz. — Preparem-se, pois não podemos morrer, já passamos por desertos, lutamos contra guerreiros olimpianos, ladrões, lobos. Uma simples floresta não pode nos derrubar.

— Só o que é me preocupa é o que pode estar dentro dessa mata. — murmurou Jhon.

— Que Seja. — Rádiuzz deu de ombros. — Vamos entrar.

Então adentramos a selva no meio do deserto escaldante.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora