XXXVIII

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Rádiuzz

Era noite, acordei, num lugar estranho. Quando abri os olhos, me encontrei à frente de imensos portões de madeira. A entrada dava em algum reino gigantesco. Feita de pedras negras com diversas joias encrustadas, havia uma muralha, vedando o reino, que se estendia além de onde meus olhos podiam focar.

Caminhei em direção aos portões de madeira e eles se abriram misteriosamente.

Os portões revelavam um reino incrível, o chão era gramado, repleto de jardins com rosas negras que mais pareciam estarem mortas, calçadas de mármore seguiam por diversos cantos. Mais afrente havia uma praça gigante, no centro um chafariz jorrando água pura e cristalina que brilhava na luz do luar.

O reino estava vazio, não notei nenhum movimento ou sinal de vida.

Mais à frente, avistei casas, também construídas com rochas negras e joias encrustadas, suas singelas portas eram feitas de madeira, as casas deveriam abrigar no máximo três pessoas, pois eram pequenas.

Segui em diante. Mais acolá, na calçada de mármore da esquerda havia um enorme bosque, sombrio e silencioso, que levaria até uma colina de campos gramados. Do lado direito tinha um pavilhão, com mesas e bancos de madeira.

Tochas iluminavam todo o reino.

Escolhi a calçada que levava até o imenso castelo, também feito de rochas com joias encrustadas, que se encontrava construído numa ilha há cinquenta metros da praia. A calçada de mármore acabava numa ponte, passando por cima da água do mar, levando à ilha do castelo.

Caminhei até lá. O castelo por sua vez era imenso, menor apenas que o do Olimpo. Possuía nove torres de tamanhos diferentes, sendo a do meio maior que as outras.

Eu não sabia bem se o que estava acontecendo era um sonho ou realidade, mas continuei vagando pelos cantos, até adentrar o castelo. Inúmeras salas, corredores e escadas, que levavam para cima e para baixo. Tudo vazio, sem móveis, nem nada, apenas paredes negras com joias encrustadas e tochas iluminando.

Perambulando pelo castelo, desci as escadas que lavavam para o subterrâneo. Até encontrar um enorme corredor, no fim dele havia uma única porta.

Caminhei até lá, ao me aproximar, pude notar um símbolo prateado, gravado na porta:

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Não fazia a mínima ideia de o que aquele símbolo significava, mas suspeitava que fosse o mesmo da capa do Grimório de Victória.

Estendi a mão até a maçaneta para abrir a porta, mas ela também se abriu sozinha.

Do outro lado obtive a mesma resposta de todas as outras salas, estava vazia, exceto por um espelho retangular de dois metros, com bordas de prata e detalhes em fios de bronze.

Senti-me atraído pelo objeto, caminhei até o espelho e observei meu reflexo. Meus olhos inexplicavelmente brilhavam azuis, como se milhares me micro raios corressem em minha íris.

Estava tudo tranquilo, mas cometi um grande erro, quando toquei em minha imagem refletida.

Um fluído prateado jorrou do espelho, abraçou minha mão até infiltrar-se dentro de minha pele, correndo para dentro de meu corpo.

No mesmo instante senti uma imensa dor de cabeça, tão forte a ponto de me agonizar, em seguida vieram às vozes. Centenas de vozes ao mesmo tempo sussurrando em minha mente, tantos sussurros que não fui capaz de decifrar nenhum deles.

Então outro sintoma tomou conta de mim, desta vez vislumbres, junto das vozes me atormentaram, vi Agenor morrendo com Hédjazz, Nihara caindo naquele Poço de Lava, Phobos me humilhando, suas palavras retornaram do passado pera me atordoar.

É este o garoto que diz ser o Ômega? Este é Rádiuzz, o salvador dos olíceros que vai trazer paz entre as raças? A voz de Phobos soou em minha mente. Rádiuzz é fraco, tem medo e não consegue lutar por conta disso. Mesmo morto, o maldito deus ainda me atordoava.

Vislumbres e cheiro de muito sangue passaram diante de meus olhos. Vi Guerreiros Olimpianos numa batalha, violenta. Ouvi gritos de desolação, inocentes clamando por socorro.

Com tudo aquilo, uma imensa agonia tomou conta de mim, tinha vontade de lançar um raio ou qualquer coisa que pudesse parar aquelas vozes e visões. O cheiro de sangue agora mudara para a carniça podre dos corpos de inocentes.

Mais vozes gritaram, ouvi a voz de Hera, Atena e Zeus. Outros deuses que me humilhavam, repetiam a todo instante, palavras ruins, como: maldito, desgraçado, tolo, frágil, inútil, mísero, infeliz, morra, sofra, desista, não vai conseguir!

Rádiuzz... Uma voz predominou mais alto em minha mente, limpando toda a poluição sonora e as coisas ruins sussurradas ao meu ouvido. Uma voz feminina, serena, que me acalmava.

Rádiuzz... Repetiu a mesma voz, me chamando.

— Quem é você? — gritei para a voz em minha mente. — O que aconteceu?

Precisa acordar... O tempo está passando! Avisou a voz.

— Acordar? — murmurei. — Mas eu estou acordado!

Fui eu quem lhe salvou dos Daemons há poucas horas, caso o contrário ficaria preso aqui para sempre. Explicou a voz.

Daemons? Aquelas coisas horríveis são Daemons!

Daemons dos Sonhos, eles servem á Hipnos e seus filhos, os Oneiros. Explicou a voz. Se for pego por eles, nunca mais acordará, seu corpo real irá apodrecer e sua mente deixará de existir.

— Quem é você? — perguntei novamente. — É real?

Isso não importa agora... Precisa se apressar, me encontre... Venha até meu reino. Pediu a voz.

— Está falando deste lugar?

Sim... No terceiro mês do ano seguinte, o sinal de Nix surgirá no céu. Avisou a voz. Siga-o além do Lycar. Antes da Lua de Sangue.

Ao ouvir aquilo raciocinei que muitas coisas ainda estariam por vir. Talvez essa voz tivesse algo relacionado com a segunda parte da Profecia das Eras.

— Posso ao menos saber o seu nome?

Infelizmente, não... Só posso lhe dizer que sou sua mãe. Respondeu a voz.

— O que?! Minha mãe! — fiquei abismado. — Por favor, conte-me o seu nome? Eu nunca a conheci.

Vai me conhecer se vier até o reino onde vivo. Saiba que eu te amo, filho. A voz de minha mãe era tão graciosa.

— Mas como faço para sair deste lugar?

Acorde... Respondeu a voz.

Então tudo se calou, as vozes, os vislumbres, o cheiro de sangue e até mesmo a dor de cabeça passou. Aos poucos a chama das tochas, que iluminavam o quarto, foi enfraquecendo até se apagar.

A escuridão tomou conta de tudo. Tentei gerar uma esfera de energia luminosa, porém não consegui. De alguma maneira meus poderes não estavam funcionando, passei a mão no bolso e não senti minha dracma. Sem mais nem menos, me deitei no chão e fechei meus olhos em meio aquele quarto sem luz.

Passei algum tempo ali, pensando em como minha mãe, uma feiticeira poderia ser, linda, graciosa, sua voz era tão serena.

Passei tanto tempo naquele quarto escuro até que de uma forma inexplicável, senti sono e dormi.

A Sombra dos Deuses - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora