sob os olhos

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Não me permitia pensar nele;

Sentir ele;

Ouvir ele.

Mas nada me impedia de escutar os sons irritantes que vinham a minha frente.

Com certeza tinha chovido recentemente. A terra afundava quando meus pés a pisavam, sentia o solo curar meus pensamentos por um instante. As arvores se estreitavam a medida que entravamos na floresta, seus galhos curvos estavam verdes e densos, a floresta estava no seu auge, calor irradiava do céu e frequentemente a chuva consumia o solo. Estava linda e vibrante. Mas aqueles dois não me deixam aproveitar aquele momento.

-- Benzinho, pode ir na frente que eu te acompanho, tudo bem? - Max beijou o rosto de Rose e se virou para mim, que acompanhava a muitos passos atras.

Pude ver o olhar de ódio que lançou para mim, bufou e começou a andar mais rápido até acompanhar seu irmão Alex, mais a frente.

-- Não se perca, amor. – ela grita por cima do ombro, mas sei que era uma indireta para mim.

Virei e observei Max olhando freneticamente para a bunda dela.

-- Você pode ser menos discreto? -revirei os olhos. Ele agora andava ao meu lado, sorrindo como uma idiota.

-- Por que você é tão ranzinza? Olha onde estamos! - ele levanta os braços e gira em volta de si mesmo. - O paraíso!

--Um paraíso muito barulhento! Você devia aproveitar e relaxar, não ficar expondo seu relacionamento na cara dos outros! - eu falo sem olhar para ele. Já era difícil aceitar tudo que me aconteceu, era ainda mais difícil entender que eu nunca mais teria aquilo. Seria inveja? Talvez, mas eu não me importava em admitir.

Ele franze a testa e começa a negar com a cabeça.

--Não faça isso consigo, Maddie. Não deixe de aproveitar a vida por causa daquele idiota. Você é melhor do que isso. - Seu tom de voz muda, agora ele parece mais sério. O que me conforta, pois afinal ele é meu amigo também.

Dou de ombros, tentando não me importar.

--Não é só isso, Max. Além do que houve com Aaron, sinto que perdi minha vida, como se aquele dia fosse...o dia que minha antiga eu morreu. – não consigo entender de onde aquele desabafo surgiu, mas me sentia melhor de ter expressado isso naquele momento.

Minha mente divaga sobre aquele dia...vejo todos me olhando enquanto estou sendo levada de maca para a ambulância. Minhas bochechas queimam de vergonha. O mais difícil foi ter que voltar para escola e ter que encarar aqueles olhares novamente. De pena, reprovação, medo...

--Ei...- a voz de Max fica mais forte, quando sou trazida de volta a realidade. Ele segura meu ombro, assustado. – Você está bem? Você parou de repente e ficou sem me responder.

Eu pisco os olhos e vejo seu rosto. Dou um sorriso fraco.

--Tudo bem. Vamos, antes que percamos eles de vista.- eu me viro para continuar caminhando, mas ele segura minha mão.

--Você continua sendo a Madeleine, a garota mais forte que conheço. Você só precisa achar seu caminho de volta. E sobre o Aaron, ele nunca mereceu você...- a voz de Rose ecoa pela floresta o interrompendo. Era um grito fino e assustador.

Nossos olhos se arregalam e partimos correndo em direção a ela. Sinceramente, não sabia o que pensar. Mas um medo subiu pela minha espinha, como se todas as minhas desconfianças estivessem aos poucos se tornando realidade.

Ao final da trilha, vemos Rose escondida atrás de Alex, que olham fixamente para um ponto fora da trilha, antes de chegarmos mais perto, era impossível identificar o que estavam olhando. Até que finalmente os alcançamos e um cheiro horrível subiu pelas minhas narinas.

-- O que foi? – Max grita, mas logo leva a mão ao nariz, incomodado.- Que porra é essa? Fedor insuportável...- ele olha para o mesmo que eu, seus olhos cruzam com o meu e eu sinto o gelo das minhas mãos.

Um cervo morto estava jogado entre os arbustos. Seu corpo parecia ter sido estripado por algum outro animal, mas ainda estava inteiro, como se o tivessem matado apenas por prazer. O seu estomago havia sido aberto e suas entranhas estavam expostas, as moscas o rodeavam e o fedor exalava o local inteiro. Eu levanto o olhar pela floresta, procurando algo, eu sabia que havia algo. 

Aqueles olhos sem vida daquele animal me encheram de dor e agonia, tinha algo errado ali, nunca tivera nada parecido antes.

--Isso está errado...algo muito violento matou esse animal.- eu encaro Max, preocupada.

Ele nega com a cabeça, incrédulo

--Deve ter sido algum predador. Precisamos nos afastar, antes que ele volte.- ele pega a mão de Rose, que o puxa pra perto.

--Esse cervo já foi morto há dias, se fosse um animal já teria comido ele. – Alex diz, com certeza na voz.

Eu concordo com ele, não fazia sentido, aquele cheiro já era de dias.

--Não importa! Vamos sair daqui, por favor, isso é nojento e assustador...- Rose diz

Ela tinha razão, tínhamos que nos afastar logo.

Eu saio na frente, sentindo meu estomago embrulhar. Além do cheiro, os olhos dele ficam voltando nos meus pensamentos, como se tivessem me avisando, me alertando de algo. Uma brisa leve refresca meu rosto, o calor aumentava a medida que entravamos na floresta, ficava abafado e úmido.

Era apenas um animal morto, não há nada demais., pensei. Precisava reafirmar isso no meu coração.

Venha Até Mim (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora