Vinte e um

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As luzes piscam. Ao mesmo tempo em que procuro luz ela falta, depois volta novamente. Está fraca. Sento na privada deixando meus pés não tocar o chão. A pessoa não pode me ver. Verifico a fechadura da porta que está a minha frente.

As torneiras ligam de repente. Escuto barulho de água.

- Olá mocinha – A voz grave dá gargalhadas terríveis.

Sua respiração fica mais ofegante.

A água invade todo o banheiro. A privada explode de água e fezes. Todo o peso do meu corpo cai na porta, fazendo zoada que ecoa por todo o banheiro.

Fico ofegante.

A porta abre e caio no chão.

Um homem de roupas sujas se agacha ficando próximo ao meu corpo. Ele trisca seus dedos ásperos em minha perna. Afasto-me quanto posso.

- Sai de perto de mim!

Ele puxa meu pé.

- Acho que não. Dá para fazer silêncio.

Ele me pega pelos braços.

- Preciso levar você para meu chefe.

- Me solte, por favor! – Suplico.

- Falta um minuto para esse prédio todo ir água a baixo. Então se eu solta-la você morrerá, agora vamos sair daqui depressa.

Uma outra pessoa dá um soco em seu nariz. Caio no chão novamente.

- Ninguém mais vai levar ela de mim – Ouço uma voz familiar.

Viro-me para ver quem é.

Suas mangas estão levantadas até seus músculos. Os cabelos castanhos estão bagunçados e caídos em seus olhos. Posso ver que ele não para de bater no homem que já está inconsciente no chão.

- Kevin – Levanto-me.

Kevin abre em uma parede uma porta minúscula. Talvez seja um esconderijo.

- Entre Nath – ele passa a mão na cara tirando o suor que já estava a surgir.

- Você também vai entrar? – Pergunto por a entrada ser pequena e só caber uma pessoa.

- Não iremos caber nós dois aí dentro. – Ele olha para o pequeno espaço.

Sei que só faltam alguns segundos para a explosão acontecer. Não deixarei meu amado morrer. Puxo a gola de sua camisa.

- Escute, não deixarei você morrer. Por mais que a gente se odeie... – repito novamente – não deixarei você morrer.

Entro no pequeno espaço. E empurro-o para cima de mim.

Não sinto mais nada. É como se tudo estivesse em câmera lenta. Hesito em não abrir meus olhos.

E tudo explode em um calor terrível de cinquenta graus.

O  IMPLACÁVEL DESCONHECIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora