Oito

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O senhor Walker não é tão mau – ela começa.

- Não Maria, ele é super, mega, hiper, ultra, malvado! – Eu fico com desdém.

- Eu vou contar o porquê ele é desse jeito. – Eu noto que ela fica abatida.

- Vamos, prossiga Maria.

- O pai do Kevin era casado e por causa de uma traição ele nasceu. – Maria suspira fundo.

- O que? Eu não estou entendendo, quem traiu quem?

- O pai dele se chamava Edward Walker, ele traiu sua esposa chamada Sophie. Com uma jovem, filha de fazendeiros. Ela era muito nova, tinha dezesseis anos na época. Os dois eram vizinhos e com o passar dos tempos, eles se apaixonaram e sempre marcavam encontros às escondidas.

- Qual era o nome dela? – Fico muito curiosa.

- O nome dela era Melyssa Sarah Scottish.

- É? Tento parecer diferente – Maria assente.

- O senhor Walker, sempre desconfiou do Kevin não ser o filho dele. Mas quando a criança nasceu ele fez imediatamente o teste de paternidade pelo DNA, Kevin realmente era o Herdeiro de tudo. Quando Sophie descobriu, ela pediu o divórcio de imediato. Sophie ficou muito abatida, mas ela já sabia que nunca iria dá um filho para o senhor Walker, porque ela era estéril.

Eu abaixo a cabeça.

Maria continua – O senhor Walker sempre maltratava o menino, como se a criança tivesse culpa de ter nascido. Ele chegava a bater (espancar) e xingar, Kevin sempre foi humilhado. Durante todo esse tempo eu sempre estive aqui para cuidar dele, eu era como se fosse uma mãe que ele nunca teve.

- E a mãe dele biológica, onde está?

- Eu ouvi boatos em que Melyssa teria de suicidado – Ela se benze.

- Maria eu não vou sentir pena de quem me humilha quase todos os dias e estou achando que ele dá uma de durão, mas é só um mimado.

- Não Nath.

Olho para ela. Está séria.

- É que você o provoca.

- Maria imagina só, por uma coisinha de nada...

- Certo ele tem seus defeitos, mas também tem suas qualidades.

- Pois, eu só vejo defeitos. Você está mentindo essa não pode ser a história dele. Uma senhora dessa idade, mentir! Que coisa feia – eu faço cara de deboche.

- Nath, tente o possível para não provocá-lo.

Eu finjo não escutar.

- Maria só você mesma para ver coisa boa nesse homem.

- Nath eu disse pra você que ele não é tão mal, aponto de fazer alguma besteira com você, mas tome cuidado, porque nunca devemos confiar demais nas pessoas!

- Por que você diz isso, se ele não é tão mal?

- É que a fama do senhor Walker não é nada boa, você nunca ouviu falar nada disso porque é só uma garota e não frequenta eventos da alta sociedade.

Eu suspiro e desvio o olhar.

- Todos falam que ele é um conquistador de mulheres. – Ela faz "aspas com os dedos".

- Maria eu não estou te entendendo mulher, ou fale Kevin ou senhor Walker.

- Mas você sabe Nathállia que Kevin e senhor Walker é a mesma pessoa, então, tanto faz senhor Walker ou Kevin.

- Há mais você gosta de complicar as coisas - cruzo meus braços.

- Eu só estou esclarecendo as coisas para você, porque parece que você não entende nada do que eu te falo.

Nós duas sorrimos.

- É melhor você ir, tenho certeza que você tem várias coisas ainda para fazer.

- Isso é verdade – ela me dá um beijo na testa.

Passo á tarde no quarto, lendo sozinha.

Quero me distrair e esquecer todas as coisas que Maria me disse. Só de imaginar que Kevin é um conquistador de mulheres isso me dá arrepios. E em pensar que eu estava começando a gostar dele. Credo! Ainda bem que ele me odeia e nunca me fez nada de grave. Obrigada Deus.

Leio sobre a geografia do Egito antigo e um romance chamando Orgulho e Preconceito. Aqui só tem livros de uns trinta anos atrás, então não tenho muitas opções. Minha tarde parece ser de superação, porque eu nunca pensei que leria tantos livros assim. Embora seja julho e eu esteja no meio das férias universitárias.

Largo os livros, caio de bruços na cama. Que desgosto da vida, meu Deus! É impossível ficar enfurnada aqui dentro por um dia, que dirá o tempo todo como o Kevin quer.

As minhas lembranças começam a voltar. Tento expulsar os sentimentos nervosos que tenta me sufocar. Não adianta, vejo todas as minhas lembranças passarem.

Tudo começou quando eu era uma criança. Eu morava em uma cidade pequena chamada Lexington com os meus pais adotivos, meu pai se chamava John e minha mãe Sarah. Todos nós éramos felizes, porém, o meu pai John tinha algumas viagens misteriosas, mas isso não atrapalhava em nossa felicidade.

Quando eu tinha doze anos, minha mãe morreu vitima de Leucemia Mieloide aguda. É uma doença que chega sem aviso, pode ser muito agressiva e matar em semanas ou mesmo dias. Meu pai fez de tudo para salvar a minha mãe. Eles sempre iam aos médicos. Nós ficávamos tristes com os resultados dos exames, mas nunca perdíamos a fé em Deus. Quando a doença piorou minha mãezinha teve de ser internada. Aquela foi á despedida mais triste em toda a minha vida, ela já sabia que tinha chegado a hora dela, mas eu e meu pai nunca aceitávamos a morte dela.

Quando ela morreu, parece que se acenderam trevas em nossa família. Eu e meu pai mudamos para Houston. Ele começou a trabalhar em uma empresa de carros. Eu não me lembro do nome dessa empresa. Meu pai sempre foi muito frio comigo, quer dizer desde a morte da mamãe. Eu passei toda a minha adolescência experimentado coisa novas, mas eu era uma pessoa muito confusa em relação ao meu pai. Tive vários amigos na escola. E eu também era umas das alunas mais danadas da escola os professores não me aguentavam. Meu pai foi chamado várias vezes na direção, por causa de que eu respondia mal os professores e pulava os muros da escola. Ele me dava broncas por esse tal comportamento, mas entendia que eu só era uma adolescente passando por fases difíceis da vida.

Quando completei dezoito anos, tive a maior das festas de aniversário, quem dera que eu soubesse que era a última feita pelo meu pai.

No dia nove de junho ele morreu com cinco tiros na cabeça. Eu cheguei em casa e vi ele caído no chão, todo ensanguentado no meio da sala. Eu me sentir a pessoa mais infeliz do mundo, eu cobrir minha boca com as mãos e chorei muito. Eu acabei de perder minha única família. A arma estava muito perto da cabeça dele e eu peguei e joguei para longe. Pensando assim, talvez por isso que minhas digitais estavam lá, mas cadê as digitais do assassino?

Eu chorei muito nos quinze dias em que estive presa. Como eu sinto falta dos meus pais.

Eu estou sentada no sofá, uma empregada me chama para jantar. Eu janto sozinha nessa gigante sala de jantar e mais uma vez não vejo o Kevin. Volto para o meu quarto desanimada e acabo dormindo.

Passando algumas horas...

Estou deitada em minha cama, olho para o relógio de pulso, ainda está de madrugada. Então ouço conversas vindas do corredor, levanto e caminho sorrateiramente pelo corredor imenso, até chegar a um ponto em que eu consigo ouvir muito bem. E eu me sento no chão para ouvir as conversas.

Eu conheço essas vozes, meu Deus não pode ser!

O  IMPLACÁVEL DESCONHECIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora