Vinte

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O banheiro tem poucas mulheres isso quer dizer que vai ser mais fácil para mim segui em frente. Caminho contando as portas. Estou meia cambaleando, viro para direita e para esquerda. São muitas portas como eu irei saber?

Uma mulher vem até mim. Com seus saltos altos desfila ao parecer que estaria na passarela. Qual a necessidade disso, gente?

- Oi lindinha. O que você está procurando? Desde que você entrou no banheiro não para de andar fazendo ziguezague. - Ela sorrir para as outras que estavam nos olhando. - Está à procura de alguma coisa.

Minha voz falta por alguns segundos. Me recomponho novamente, tento dizer alguma coisa que faça sentido.

- Minha prima veio ao banheiro e perdeu um brinco - minha voz sai abafada quando eu me agacho para fingir procurar.

- Oh a prima dela perdeu os brincos, nossa - a voz da mulher sai meio irônica. - Onde está sua prima? Por que ela não veio com você já que os par de brinco é dela e não seu? - ela faz perguntas uma atrás da outra.

Sinto -me irritada. Essa magrela, loira oxigenada não vai me fazer temer não.

Levanto e ergo minha cabeça me sentindo a mais que ela.

- Com todo respeito, acha mesmo que devo explicação para uma desconhecida. Você não é melhor que ninguém - levanto meu indicador - o que vem de baixo não me atinge.

- Você não sabe quem sou eu. Sou a mulher do... - Ela fica mais perto de mim.

Não espero nem um segundo para mandar uma brusca resposta para ela.

- Não me interessa se você é mulher do presidente, do ministro, daquele que criou a intente ou do homem mais rico do mundo e daí! O que difere você das pessoas talvez seja só o dinheiro, mas isso não quer dizer que você é melhor que ninguém. Você é carne humana, faz coisas humanas e vai morrer algum dia - minha respiração acelera - o dinheiro pelo menos compra a morte? Você vai ser cremada ou vai para debaixo do chão como todo mundo. Do que adianta você ser a pessoa mais rica do mundo sendo que o dinheiro não vai livrar você da doença, acidentes, tristeza e da morte?

Me espanto com que falo. O que foi que eu fiz? Não precisa disso tudo. Só posso está de TPM. Mas pensando bem, estou cheia de pessoas ricas querendo se aproveitar, pisar em mim. Eu não sou de ferro!

Quando me deparo todas as mulheres estão ao meu redor, dando uma salva de palmas.

Fito a mesma mulher que estava na minha frente. Uma lágrima escorrega do seu olho.

Desculpa. Seu olhar a denúncia.

Olho para todas elas. Essa mulheres são mães, avós, tias amigas e filhas amadas. Tento me colocar no lugar de seus parentes. E se minha mãe tivesse aqui no lugar delas como deveria está meu coração.

Estremeço.

Apesar dos seus defeitos, ninguém merece morrer. Deus o que eu faço? Elas não sabem que irão morrer. O que meus pais fariam se estivessem aqui, agora, no meu lugar?

Passo as mãos nos meus olhos antes de escorrer as lágrimas.

Não acredito que iria deixar essas mulheres morrerem. Meu pai sempre me ensinou a amar meus irmãos mesmo que não fossem de sangue, a protege-los e cultivar amor até com aqueles que fossem meus inimigos.

Preciso salva-las!

Elas me mostram aparentemente o que deveria ser o banheiro vigésimo vinte e quatro. São cerca de onze mulheres, todas desesperadas com seus filhos e maridos deixados para trás. Não dar tempo de voltar. Uma por uma o mais depressa possível sobe na privada e pula a janela, umas ajudando as outras. Uma idosa escorrega da privada, caindo encima do armário que fere seu braço. Mesmo rugindo de dor ela vai em frente.

Agora sei o porquê esse banheiro. Todos os outros as janelas são minúsculas. Não caberiam nem dois braços.

Já na antepenúltima mulher. A porta treme muito forte. Alguém tenta arrebenta-la. Ainda bem que uma idosa teve a ideia de trancar. No entanto não está adiantando muito.

A porta arrebenta.

Imediatamente a penúltima sobe. Ouço passos largos. Cada vez mais próximo. A janela começa a fechar imediatamente. O pé da garota fica preso. Eu a empurro-a.

A janela fecha automaticamente.

O  IMPLACÁVEL DESCONHECIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora