Trinta e cinco

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Até que eu pensava que Kevin iria me dar uma bronca por ter feito aquela coisa horrorosa com a Susie, mas ele mal olhou na minha cara e foi assim pelo resto do caminho. Eu deveria me senti melhor até porque não foi eu quem começou, no entanto o que eu fiz ninguém tem o direito de fazer por mais que seja seu inimigo. É claro que eu não vou bancar a inocente, é quase imperdoável maltratar outros. Mesmo eu me sentindo muito mal não posso permiti que outros pisem em mim, pelo menos a Susie não. E se Éden quer me ajudar, quer lutar comigo eu preciso fazer o mesmo, o que eu não posso fazer é deixar me levar pelo Implacável que talvez eu nunca conheça, sim, ele é um desconhecido e não passa mais que disso. Eu preciso ser mais desconfiada e ao mesmo tempo tentar parecer inofensiva.

Saio do carro às pressas e vou correndo para meu quarto sem olhar para ele.

Maria disse que eu estou um pouco esquecida das coisas, contudo não estou. Eu disse que estava aqui mês passado sem pensar. Na verdade eu sei de tudo, decerto modo esqueço-me de uma hora para outra que eu estava pensando e fico matutando para saber, mas isso não quer dizer que estou esquecida, de jeito nenhum, eu não posso botar na minha cabeça que o esquecimento está sobre mim. Eu me lembro de que tinha um pai que foi vítima de tudo isso, minha mãe que morreu quando eu era criança por uma doença repugnante que tento não pensar, meu tio que só vivia bêbado e sumiu de uma hora para outra, no começo eu até pensava que ele tinha morrido por beber demais, mas quais provas eu tenho de que isso aconteceu? Então eu penso que ele sumiu, nunca conheci meus pais de verdade, fui encontrada no lixo quando eu era recém-nascida, e me transformei em mais uma vítima de uma máfia, um Implacável Desconhecido e a única saída que tenho é confiar na pessoa mas safada e a segunda mais sex que já conheci. E ainda estou esquecida? Tenho certeza que além de Maria está mentindo não está me contando tudo, essa história está muito enrolada para o meu gosto, mas que eu vou consegui desenrolar de pouco a pouco a eu vou.

Não consigo dormi direito a noite toda, quando eu olho no relógio de parede a irritação me invade, por que o tempo não passa? Eu esperei a noite toda para dar três horas da madrugada e agora que é uma e quarenta! Ah eu não tenho paciência.

Coloco minhas pantufas e vou caminhando bem devagar. Kevin já deve está dormindo, o quarto dele é bem distante do meu. Acho que não devo me preocupar muito com isso, agora com as câmeras preciso ter. Se no seu próprio quarto tem imagina no restante da mansão, não creio que o meu tem nunca vi, se bem que pode ter câmeras minúsculas e eu não sei.

Estou no meio do Salão principal.

Percebo sons de coisas sendo quebradas, mas ruídos sendo jogados, passos rápidos e pesados chegam mais perto de onde eu estou.

...

Kevin se joga no chão, fica ajoelhado a uma pouca distância de mim, ele olha para mim desesperado mas é como se não tivesse me vendo. Sua camisa branca está rasgada e amassada, a calça está dobrada nas pernas, ele puxa loucamente seus cabelos e grita muito.

Será que ele está endemoniado?

Não hesito em pensar e já vou correndo para trás. Paro. Ele pode está precisando de ajuda e eu sou a única que pode o ajudar nesse momento. Vou correndo para perto dele, paro novamente, e o abraço. O tanto que posso. Não sinto cheiro de bebida o que eu eu acho um pouco estranho. Ele está se tremendo, como se estivesse sentindo alguma dor.

- Eu estou aqui - falo baixinho.

Kevin para de gritar, ele derrama mais lágrimas em meu pijama.

- Minha cabeça - ele coloca as mãos e puxa sem cabelos lisos - me ajude.

Apoio seu corpo e o levo até o corredor. De repente ele sussurra onde fica seu quarto e o faço o caminho até chegar mais uma vez no espelho aquele que me revelou o que tinha por trás. Caminho novamente todo o percurso que eu tinha feito. Quando chego na cama o deito, tiro seus sapatos, desabotoou sua camisa e ajeito os travesseiros tentando fazer ficar mais confortável o possível, quando passo a mão na sua cabeça fico perplexa com o quanto quente estar.

- Você poderia pegar o terceiro remédio da direta para a esquerda? - Ele aponta para o remédio.

O entrego e ele bebe tudo de uma vez.

- Obrigado criança. - Ele apoia sua cabeça com a mão - Vá para o seu quarto, o lugar que não deveria ter saído.

Enquanto ele me olha faço um nó no meu cabelo. Devo está vermelha o que eu estou fazendo aqui? Eu já devia ter ido embora. Sei que ele está mal, não é o Kevin que eu conheço, ele precisa de ajuda.

Quando abro minha boca as palavras entalam.

- Xô, xô galinha, o que você está fazendo aqui ainda?

- Não vou! - Essas foram às únicas palavras que saíram da minha boca.

O silêncio paira pelo quarto.

O  IMPLACÁVEL DESCONHECIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora