● Capítulo I - Escolhida ●

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❝ PARA TER A COROA É NECESSÁRIO NÃO TER UM CORAÇÃO❞

❝ PARA TER A COROA É NECESSÁRIO NÃO TER UM CORAÇÃO❞

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As batidas da porta ecoam dentro da minha cabeça, puxo meu cobertor feito com sacos de batatas e cubro meu rosto impedindo que a luz do sol destrua minha visão.

— Anne levante hoje é o grande dia — a voz aveludada de minha mãe invade meus ouvidos.

— Grande dia? Só se for o grande dia do pesadelo — tiro o cobertor dos olhos.

Minha mãe sorri para mim, mas consigo distinguir seu sorriso triste. Sinto causar tanta dor a alguém que amo, mas não escolhi nascer aqui.

Afasto rapidamente o cobertor do meu corpo e sentou-me na cama passando meus braços no pescoço dela, logo consigo sentir as lágrimas dela molharem meus ombros nus.

— Mamãe não chore — afasto-me um pouco.

— Não posso te perder também Anne — abraçou-me novamente e dessa vez pude sentir a intensidade de sua dor.

Ela levantou rapidamente enxugou as lágrimas, passou as mãos no vestido sujo de lama — certamente antes de vir me acordar havia alimentado os porcos — e saiu do quarto.

"Não posso te perder também Anne"

A voz dela ecoava em minha cabeça enquanto eu vestia meu vestido amarelado e puído de tão velho. É claro que ela não podia me perder também, ela só tinha a mim. Meu pai andava um tanto deprimido, minha avó estava muito doente e meu irmão... Bem, ele já não respirava mais.

Pego minha presilha azul marinho e prendo um pouco do meu longo cabelo castanho, Sebastian costumava dizer que tinha a sensação de tocar palha quando tocava meu cabelo. Sorri involuntariamente e logo após vieram as lágrimas queimando minhas bochechas. Ah! Eu sentia tanta falta de brincar com meu Sebastian, amava quando ele me erguia pela cintura e me jogava no pequeno lago nos fundos da nossa casa, gostava de ouvir a maneira como ele falava sobre a guerra e sempre me dizia antes de começar uma guerra deve-se saber que estava lutando, mas ele mesmo não sabia pelo o quê lutava. Maldita guerra!

— Anne venha — minha mãe gritou da sala.

Apresso meus passos que ecoam pelo corredor apertado da casa, o som do ranger da madeira podre agonia minha audição.

— Não temos comida para que possa se alimentar nessa manhã — minha mãe desvia o olhar para a parede.

— Tudo bem, vamos — seguro em sua mão calejada pelo trabalho duro.

Andamos uns vinte minutos, a população está agitada, mas a ordem é que permaneçamos em silêncio. A maioria das pessoas já está parada em frente ao Castelo, posso ver os fios caramelados de Genevieve esvoaçarem com o vento forte.

— Gen — abraço-a pelas costas — Tudo bem?

— Eu estou e você? — seus olhos miram o nada.

— Ótima, melhor que nunca — respondo com pouca certeza do que falo.

Gen vira e fica de frente a mim, suas mãos delicadas tocam meu rosto e vejo que ela sorri com preocupação.

— Posso ser cega, mas te conheço a tempo o suficiente para saber que não estás bem — essa afirmação doe dentro de mim por saber que ela está certa.

Escolho o silêncio que com toda a certeza é a melhor resposta a se dar. O silêncio consente.

— Vai começar — minha mãe põe-se ao meu lado.

Lá em cima na aparece um rapaz alto, moreno, vestindo uma roupa engomadinha, ele procurava estudar mais uma vez as palavras que leria. Pigarreou e começou com atenção total ao papel.

— Senhoras e senhores — sua voz me fazia ter enjoos — Por meio desse pergaminho Vossa Majestade Rainha Helena I — pigarreou mais uma vez — Declara que duas das mais belas donzelas do Reino entrarão pelas portas do Castelo e aprenderão a como ser uma Princesa e a escolhida terá em suas mãos o dever de casar-se com o Príncipe Lincoln e assim selar o pacto de paz com o Reino do Noroeste e mais tarde tornar-se Rainha — entregou o papel para uma moça baixa e caminhou até alguns anciãos da cidade e voltou, certamente com os nomes.

Minha mãe apertou minha mão com tamanha força que poderia esmagar meus pequenos dedos finos.

— Artemis Lennor — anunciou.

Revirei os olhos ao vê-la levantar o arco com prepotência, os caçadores ao lado dela ovacionavam a tola. Quem quer ser Rainha? Quer dizer, isso é ridículo e é como um tipo de suicídio.

— E o último nome escolhido pelos anciãos — ele virou para trás para ouvir algo que alguém dizia, ele meneou a cabeça.

Havia um burburinho de que o nome escolhido estava incapacitado, mas ninguém tinha certeza do motivo. O rapaz da Corte virou novamente para o povo, suspirou e começou.

— Annelise Green — meu nome saiu da boca dele com certa maciez.

Ai meu Deus! Meu nome. Deram o meu nome. Uma grande angústia tomou conta de mim, minha mãe pôs-se a chorar ao meu lado e me abraçou, pude ver Genevieve levar a mão à boca e depois apenas borrões meus olhos estavam cheios de lágrimas embaçando minha visão.

Senti quando alguém me arrancou de perto de minha mãe, limpei meus olhos com a mão direita enquanto era puxada com certa brutalidade. As pessoas me olhavam com pena, outros aplaudiam, os mais próximos choravam e então ouvi o que queria realmente não ter ouvido.

— Não posso te perder Anne — a voz de minha mãe soava tão distante e ao mesmo instante tão dolorido.

Artemis balançava sua trança comprida, segurava seu arco com a mão esquerda e de cada lado um guarda, ela olhou para trás por um instante e pude perceber seu olhar frio e calculista. Será possível que ela desejava tanto afastar-se de sua família apenas pela droga de uma maldita coroa?

O guarda ao meu lado esquerdo suspirou pesadamente ao passar pelos portões, o outro me segurava pelo braço certificando-se de que eu não fugiria, olhei para trás e vi o enorme portão de madeira maciça fechar vagarosamente, não conseguia mais ver minha mãe.

O segundo portão se abriu revelando os anciães, servos, servas e no fundo outra porta se abriu revelando um grande salão, dois grandes tronos feitos de puro ouro. A Rainha se levantou e todos a reverenciaram, mas eu estava tão estática que precisei ser puxada por um dos guardas.

— Levantem-se — ordenou.

Sua voz soava gentil, porém autoritária. Levantei minha cabeça e analisei a mulher a minha frente, seus cabelos castanhos presos em um coque imperial, seus lábios estavam fundidos um com o outro, seus olhos avelã encaravam as pessoas a sua frente, seu corpo coberto por um longo vestido vermelho, a coroa enorme em sua cabeça parecia pesada demais para uma mulher tão magra.

— Sejam bem vindas ao meu lar — disse com calma. 

A Ascensão da Rainha ♔Onde histórias criam vida. Descubra agora