Capítulo 20

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CALEB

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CALEB

Me leve de volta ao começo

— Pode entrar — abri a porta, deixando espaço para o pastor João entrar. Ele, todavia, antes de fazer isso, deu-me um abraço apertado e algumas batidinhas nas minhas costas.

Kevin tinha preparado aquele encontro. Meu amigo vivia dizendo que as coisas estavam para se acertar e logo tudo ficaria em paz, mas eu não imaginava que ele estava mexendo os pauzinhos pra isso. No entanto, eu era extremamente grato por ter conhecido aquele perturbado.

— Paz seja contigo, amado.

— Amém — me curvei um pouco, sem perceber. Eu tinha muito respeito e apreço pelo pastor. Quando meus pais morreram, ele me deu um apoio fora do normal, a ponto de eu me sentir como um filho seu. Foi nessa época que eu mais aprendi sobre a Bíblia, pois convivemos muito e em tudo ele me lembrava da bondade de Deus.

Apesar disso, eu vivia crises de identidade o tempo inteiro. Não sabia amar ou receber amor. Nem o do próprio Senhor...

Nos assentamos no sofá da sala de estar. Então, o irmão ficou me olhando em silêncio. Como a requisição de visita havia sido dele, esperei pacientemente o momento em que ele decidiria se expressar.

— Eu vim por um motivo específico, meu querido. — o senhor juntou as pontas dos dedos das duas mãos, sem encostar as palmas. Parecia um gesto pacificador de si mesmo. — Me perdoe.

Esperei que ele concluísse o raciocínio, mas seus olhos marejavam.

— O senhor não precisa se desculpar... — garanti, engolindo o nó na minha garganta.

— Meu filho, — ele saiu da minha frente e sentou-se no mesmo sofá que eu. — Fui omisso. Contemplei o relacionamento de você e da Maya, abençoei vocês, mas nunca perguntei o que se passava dentro do seu coração. Quando tudo se rompeu, muitos irmãos começaram a tratar você como um antagonista. Eu escutava tudo e deixava passar. O tempo passou e você acabou se isolando aqui. Eu não vim uma única vez porque me importei mais com a opinião da igreja do que com a de Deus. E, meu querido, meu trabalho como pastor é cuidar de todas as ovelhas. E cuidar implica defender também, principalmente se não conhecemos o outro lado da moeda. Ninguém nunca perguntou porque você fez o que fez, apenas escolheram um lado para condenar.

Sabe a sensação de ver uma superfície sendo totalmente limpa? Era mais ou menos isso que acontecia comigo naquele exato momento. As palavras do pastor estavam me quebrando por inteiro, mas ao mesmo tempo, me remendando.

— Meu filho, você sofreu o acidente e eu não tive coragem de pedir à igreja oração pela sua vida.

Não aguentei. Desabei em choro.

Não podia negar... a ferida da rejeição era muito dolorosa. E, querendo ou não, me impedia de ver o amor que tanto falavam. As mesmas bocas que proclamavam cura, diziam as piores coisas possíveis sobre mim. Lembrando da Palavra, acaso pode uma mesma fonte jorrar água potável e água salobre?

Até que te ameiOnde histórias criam vida. Descubra agora