Eu sinto que dentro de nós temos vários muros. Eles são construídos ao longo da vida, a cada vez que quebramos a cara, nos decepcionamos e tentamos nos esconder. São barreiras de todos os tipos: medo, autoproteção, traumas, tristezas, autopunições etc. Esses obstáculos nos deixam superficiais, distantes das outras pessoas, pois onde moramos, onde nosso ser se encontra, é lá dentro rodeado por esses muros.
Depois que ele terminou de falar, levantei minha cabeça e olhei para os olhos dele. Estavam cheios de lágrimas. Eu acho que ele desabafou para mim tudo que estava preso nele. Ele jogou para fora os sentimentos que ele tanto escondeu pela vida toda. E eu me identifiquei nisso.
– Eu acho que a gente pode tentar sim, se conhecer melhor. – falei enquanto ele limpava as lágrimas dos olhos.
– Eu sei que é estranho falar assim, mas posso te dar um abraço? – o Bernardo perguntou.
Eu só consenti com a cabeça e me levantei. Quando percebi, os braços do Bernardo já estavam envolvendo meu corpo. Foi um abraço apertado, me acolhendo contra seu peito. Ele estava quente, e eu podia sentir os batimentos fortes de seu coração e um pouco da sua respiração. O cabelo dele ainda estava um pouco úmido, provavelmente do banho da manhã, e exalava um cheiro de shampoo que eu sentia misturado com a fragrância do perfume dele que meu nariz perto de seu pescoço inalava.
Por alguns segundos, eu fiquei parado, sem reação. Mas algo nele me atraia como um imã para o seu corpo. Então levantei meus braços e o abracei de volta, juntando ainda mais nossos corpos. Não precisei ver com meus olhos para sentir o sorriso que ele deu quando eu o abracei de volta. Parece que aquilo o motivou mais e fez ele passar seu rosto contra o meu, levando sua boca até minha cabeça e beijando meu cabelo.
Nós não tínhamos usado palavras para definir o que estava acontecendo, mas sabíamos que era algo além de amizade. Era o início de um envolvimento afetivo que superava uma simples amizade entre dois garotos.
Quando o Bernardo se abriu comigo, algo entre a gente mudou. Antes estávamos só estava nas emoções impactantes, naqueles momentos onde tudo é novo, rápido, estranho e ansioso. Parecia que agora nós demos um passo a mais no nosso relacionamento. Além disso, a incerteza da não correspondência tinha diminuído, e eu sabia que isso ia liberar ações mais ousadas e menos restritivas.
São nesses momentos onde a gente se abre para outras pessoas que os relacionamentos melhoram. E acho que eu e o Bernardo derrubamos alguns muros entre a gente, e agora estávamos mais próximos.
Fiquei feliz de sentir a confiança dele em mim. Não é para qualquer pessoa que nós nos abrimos, e realmente não devemos nos abrir para qualquer um. Nem todo mundo merece saber sobre nossa vida.
Quando o nosso abraço demorado terminou, o Bernardo decidiu que iríamos sentar no fundo. Ele nem deu escolha, pegou nossas coisas, segurou minha mão e me puxou até o final da sala. Ele sentou na última carteira da última fila da direita e disse para eu sentar na frente dele. Guardamos um lugar para Fernanda, mesmo sem saber se ela ia querer sentar ali atrás.
– Nossa tá muito cedo ainda, não é? O pessoal vai demorar a chegar... Bem que você podia vim aqui pro meu lado, Daniel.
– Eu já estou do seu lado. – falei fingindo não entender.
– Mas tem uma carteira de distância entre nós, poxa. Coloca sua cadeira aqui vai, queria te abraçar um pouco mais. Por mim a gente ainda estaria ali em pé, abraçados.
Ele falava com uma voz manhosa e me olhava com aqueles olhos de gato carente. Ele nem esperou eu responder e complementou:
– Ah sim, e só pra constar, seu cheiro é muito bom!
Confesso a vocês que eu fiquei muito sem graça quando ele falou isso, meu rosto todo corou. Mesmo assim, me levantei e fui para o seu lado. Ele passou o braço pelas minhas costas e deixou sua mão em meus cabelos. Suavemente ele começou a massagear minha nuca, subindo com os dedos afastados até minha testa e bagunçando todo meu cabelo – demorei tanto tempo arrumando o cabelo no espelho – mas estava tão bom, o toque dele era tão prazeroso que nem reclamei. Meus olhos começaram a pesar, eu tinha acordado 30 minutos mais cedo naquele dia. Fechei meus olhos um pouco. Desligando minha visão parecia que minha audição se aguçava e comecei a ouvir a respiração do Bernardo. Estranhamente ela parecia estar ficando mais alta, como se ele estivesse se aproximando... Até que comecei a sentir sua respiração perto de minha bochecha. Eu abri meus olhos e me virei. Seu olhar estava penetrante em mim, seu nariz já se encostava ao meu. Sua boca foi chegando perto da minha, bem devagar, enquanto seus olhos estavam fixados nos meus. Eu não sabia se eu estava preparado para aquilo. Então eu abaixei meu rosto e disse:
– Desculpa Bernardo, mas vamos com mais calma, eu não estou preparado ainda. Também não consigo aqui, a qualquer hora alguém pode entrar.
Fiquei esperando alguma reação de tristeza, ou reprovação dele, entretanto, ele encostou a ponta de sua testa na minha, sorriu e me beijou na bochecha.
– Tudo bem, lindo. A gente vai ao seu ritmo, não se preocupe. Eu só quero aos poucos me aproximar mais de você.
Ouvir ele me chamar de lindo foi um pouco estranho. Nenhum homem tinha me chamado assim antes. Pelo menos não nesse sentido carinhoso. Entretanto, a sua massagem com cafuné estava tão boa que eu não tinha forças para refletir sobre isso, eu só conseguia aproveitar aquele momento.
– Tá bom mesmo esse cafuné, hein, senhor Daniel?! – o Bernardo me perguntou, dessa vez com um sorriso mais provocante no rosto.
– Como assim? Tá ué, por quê?
– Estou percebendo muito bem que tá!
Ele respondeu e sua cabeça abaixou em minha direção, com seu olhar apontando justamente para minha calça. Putz, que vergonha subiu em mim! Eu tinha ficado excitado e minha calça jeans tinha o contorno certinho do Danielzinho. Dei um pulo da cadeira em que estava e fui até a minha, depois peguei minha mochila e coloquei em cima de minha calça, então deitei minha cabeça sobre minha mesa tentando esconder minha vergonha.
– Não Dani, volta aqui, eu vou entender como um elogio para mim! Volta bobo!
Ele mal conseguia terminar as frases de tanto rir e sorrir de alegria. Ele parecia ter ficado feliz com toda essa situação.
Eu sabia que agora, sem o receio de não ser correspondido, o Bernardo ia voltar a seu jeito brincalhão e provocador comigo.
Eu não voltei para o seu lado, mas ele fez questão de colocar uma cadeira do meu lado e começar um novo carinho em minhas costas. Deu um beijou no meu cabelo e me disse que estava muito feliz, para eu não ficar com vergonha.
– Posso segurar sua mão? – me disse o Bernardo.
Eu dei uma olhada para aquele rostinho de cachorro pidão e voltei a abaixar minha cabeça. Estiquei uma das minhas mãos e ele a segurou. A gente ficou assim por uns 10 minutos. De repente suas mãos pararam de fazer carinho em mim, eu me levantei para olhar o que aconteceu. Nossos colegas tinham começado a chegar à sala. O Bernardo abriu aquele sorrisão para mim e começou a puxar assunto. Ficamos ali conversando até que a Fernanda chegou e sentou na minha frente. A Júlia e o Jorge vieram sentar perto também, e ficamos ali em nosso grupinho.
E se eu imaginava que astentativas do Bernardo de "se aproximar mais de mim" tinham se encerrado com oinício da aula, eu estava era muito enganado!
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Amar, o que é? - (Romance Gay)
RomanceDEGUSTAÇÃO NO WATTPAD / LIVRO FÍSICO À VENDA DESCOBRINDO O QUE É AMAR - LIVRO COM MAIS DE 1,9 MILHÕES DE LEITURAS , AGORA PUBLICADO NA VERSÃO FÍSICA PELA EDITOA GIOSTRI: O livro "Amar, o que é?" é uma obra de romance com temática LGBTQAI+ que retrat...